Representantes da academia e da indústria debateram na sexta-feira (13) experiências bem-sucedidas de parcerias entre universidades e empresas nos cursos de engenharia para o atendimento a demandas reais do mercado, durante a 27ª edição do Diálogos da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), em São Paulo.
A diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagazio, avaliou que, para que o Brasil seja mais inovador, é fundamental que a interação entre universidades e empresas seja aprofundada.
“O ponto principal é formar pessoas alinhadas aos desafios que a revolução digital apresenta, para que elas possam de fato resolver os problemas do mercado”, disse a diretora.
Uma das experiências apresentadas durante a reunião foi a do Instituto Mauá de Tecnologia (Mauá). O pró-reitor acadêmico da Mauá, Marcelo Nitz, disse que a instituição começou uma reforma curricular em 2014, com a intenção de formar engenheiros que de fato atendessem às expectativas do mercado. Agora, desde o primeiro ano acadêmico, a Mauá oferece aos estudantes os chamados projetos e atividades especiais (PAEs), que abrem espaço para uma abordagem dinâmica de problemas concretos vividos pelas empresas. Atualmente, cerca de 15% da carga horária de integralização dos cursos de Engenharia da Mauá consiste nesse tipo de atividade.
O curso, explicou Nitz, deixou de ser apenas o cumprimento de disciplinas de um currículo, e passou a considerar uma diversidade de experiências de aprendizagem. “Formar-se na Mauá deixaria de ser simplesmente percorrer um currículo rígido de disciplinas. O extracurricular passou a ser curricular. Essa era a filosofia. A premissa era que o currículo devia contemplar múltiplas experiências de aprendizagem, não só a disciplina”, afirmou.
ALUNOS MAIS MOTIVADOS - No Insper, o coordenador do projeto final de engenharia, Luciano Pereira Soares, explicou que, para se formar, os estudantes precisam desenvolver uma solução para alguma demanda real do mercado. Em 2018, por exemplo, os alunos da primeira turma de engenharia do Insper tiveram acesso a mais de 30 projetos sugeridos por empresas parceiras.
“A gente faz isso majoritariamente com empresas do setor de engenharia. São grupos de três a quatro alunos que atendem a demandas de empresas específicas”, afirmou.
Segundo Soares, duas turmas já passaram por essa experiência. Foram 35 organizações interessadas em participar, o que inclui empresas como Ambev, Embraer, Weg, Romi, Blight, Motorola e Pollux. “Os resultados que já alcançamos dizem respeito a alunos mais motivados, com maior interação com ambientes reais de produção e maior compreensão da dinâmica organizacional”, disse.
O Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) possui, desde 2009, um núcleo de empreendedorismo que busca disseminar uma cultura empreendedora entre os estudantes desde o início da sua formação. Esse núcleo engloba um laboratório associado a um Fab Lab (um espaço concebido para que os seus usuários criem e coloquem experiências em prática), uma pré-incubadora e uma incubadora de empresas e projetos. Todos os alunos de graduação do Inatel passam pelo núcleo de empreendedorismo – ambiente no qual já nasceram cerca de 15 empresas de alunos ainda na graduação.
EMPREENDEDORISMO - Carlos Nazareth Motta Marins, diretor do Inatel, disse que o programa de incubação do instituto consegue apoiar até 11 startups ao mesmo tempo. Ao todo, o programa oferece 280 vagas de estágio por semestre para os alunos. “Estamos treinando meninos e meninas com foco na experiência do mercado, do que o usuário de fato precisa”, explicou.
Na engenharia, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também oferece um programa voltado para as empresas juniores. Segundo a professora Viviane Birchal, um dos objetivos é que esses espaços "funcionem como um laboratório para a experimentação e o desenvolvimento de competências associadas ao mundo empresarial e de negócios". No fim de 2018, a UFMG também criou o Centro de Referência em Inovação para Educação em Engenharia, com o objetivo de oferecer aos estudantes desafios reais do mercado.
ESPAÇOS DE USO CONJUNTO - Vagner Bernal Barbeta, coordenador da Agência FEI de Inovação do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros (FEI), apresentou os laboratórios criados em parceria com o setor empresarial. Entre os benefícios trazidos por essas iniciativas, ele mencionou a disponibilidade de infraestrutura de última geração, o trabalho com desafios reais das empresas, a formação mais sólida e a inserção do estudante no mundo do trabalho. "É um ganha-ganha para ambos os lados", resumiu.
Já o professor da Politécnica da USP, Cícero Couto de Moraes, apresentou o convênio de mais de duas décadas mantido com a empresa Rockwell, hoje sob sua coordenação. Além de treinamentos para alunos e professores na área de automação, a iniciativa facilita o acesso a uma rede global de universidades e empresas para troca de conhecimentos.
"Basicamente, trabalhamos em três áreas: na formação de recursos humanos, na pesquisa voltada à Rockwell no Brasil e nos Estados Unidos e em projetos de automação no país.", informou.
Pelo lado das empresas, Mario Lott, da Embraer, Fernando Ferraz, da Akaer, e Victor Telles, da Festo, foram unânimes em reafirmar o interesse das empresas em colaborar com as instituições de ensino. Apoio a projetos de conclusão de curso, eventos universitários e mentoria foram algumas das ações listadas como oportunidades de trabalho conjunto a fim de facilitar a maior união entre teoria e prática, entre ensino e mercado. Para a Akaer, "não adianta reclamar que não tem aluno". "É preciso entender como colocar esse aluno em um ambiente desafiador dentro da empresa", frisou.
OUTRAS PARCERIAS – Em novembro, a CNI publicou o caderno Destaques da MEI – Boas práticas de parceria universidade-empresa em cursos de graduação em engenharia. A publicação reúne as experiências de articulação abordadadas na reunião. O objetivo é inspirar instituições e empresas a trabalhar de forma mais articulada, ajudando a aprimorar a formulação e execução de novos programas de sucesso e a induzir a adoção de novas abordagens de ensino. Em comum, está a preocupação em incluir, nos cursos, as demandas das empresas e adequar os currículos às competências necessárias para resolver os problemas da sociedade. A publicação está disponível na página da CNI.