A inteligência artificial (IA) tem sido cada vez mais usada para digitalizar e otimizar processos. Consequentemente, a busca por profissionalização na área tem crescido exponencialmente. Um levantamento feito pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) aponta que, só de janeiro a outubro de 2023, 10.170 estudantes se matricularam em cursos de aperfeiçoamento, extensão, técnico, graduação ou pós-graduação na área de IA. Entre 2021 e 2022, o número mais que triplicou, saindo de 2.385 para 8.209. Isso representou um aumento de 246% entre um ano e outro.
O salto nas buscas por profissionalização na área é correspondente com a demanda do mercado. Segundo o Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais até 2025. Só no setor de tecnologia da informação - uma das áreas que se beneficia da inteligência artificial - haverá mais de 470 mil vagas para profissionalização, sendo 76,6 mil para formação inicial – para repor inativos e preencher novas vagas – e 397 mil para formação continuada, para trabalhadores que precisam se atualizar.
“A qualificação dos trabalhadores no setor de tecnologia da informação, considerando o aprendizado em inteligência artificial, significa um grande avanço para a indústria 4.0 no país. O SENAI está atento aos setores que vão avançar com maior automação e mais interconexão entre máquinas, com ganhos de eficiência e redução de custos. A expansão do número de profissionais qualificados em inteligência artificial é um dos fatores decisivos”, afirma o superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI, Felipe Morgado.
Mais profissionais, mais inteligência artificial nas empresas
Dados da última Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC) Semestral demonstram que a IA é a tecnologia digital avançada menos usada por empresas industriais: apenas 17%. Para comparação, 73,6% das empresas trabalham com computação em nuvem e 48,6% com internet das coisas.
Entre os motivos que dificultam a implementação de tecnologias digitais avançadas, dois dos mais citados foram a falta de funcionários qualificados na empresa (54,6%) e a limitada oferta de trabalhadores qualificados no mercado (49%).
Salários maiores e ganhos para a economia nacional
As vantagens para os profissionais qualificados vão além da ampla demanda do mercado de trabalho. Uma pesquisa realizada pela Amazon Web Services em parceria com a Access Partnership, divulgada em novembro, aponta que as empresas nacionais estão dispostas a pagar 46% a mais a funcionários com habilidades em IA.
Além dos ganhos individuais, ainda tem os benefícios estimados para a economia brasileira. O estudo “Monitor da Indústria 4.0”, lançado pela International Market Analysis Research and Consulting (IMARC) em junho, avalia que o mercado brasileiro da indústria 4.0 pode atingir US$ 5,62 bilhões em 2028.
Inteligência artificial é aliada dos empregados e empregadores
Apesar dos benefícios e oportunidades, muitos ainda têm receios quanto a tecnologia. O Índice de Tendências de Trabalho, divulgado em maio pela Microsoft, aponta que 49% das pessoas expressam preocupações sobre a IA como um possível substituto para seus trabalhos. Porém, dados do mesmo levantamento mostram que quase 90% das pessoas que usam ferramentas habilitadas por IA se sentem mais satisfeitas porque podem focar no trabalho que realmente importa.
Uma empresa que demonstra como a tecnologia é aliada dos trabalhadores é a Recrut.AI, startup de Recife (PE) que tem ganhado mercado com uma ferramenta de otimização do processo de contratação de funcionários. O CEO Patrick Gouy desenvolveu uma plataforma capaz de agilizar e automatizar diferentes etapas do processo de recrutamento, tudo graças à criação de uma IA totalmente voltada para esse setor.
Os usuários da plataforma podem se candidatar em menos de 1 minuto. Apenas com o currículo e poucas informações complementares, a IA é capaz de traçar um perfil com 250 dados sobre cada profissional. Depois, o programa faz um cruzamento e seleção de perfis correspondentes com os requisitos da vaga, que são encaminhados para o recrutador.
O fundador da startup reforça que a IA é uma aliada dos trabalhadores. "No último ano, quando a inteligência artificial começou a fazer parte do dia a dia das pessoas numa velocidade nunca vista, muitos ficaram com medo de perder o emprego. Só que, assim como aconteceu na Revolução Industrial, essa nova era tem o potencial de desencadear a criação de milhares de novas áreas e atividades. E a profissionalização é a coisa mais importante neste momento de transição no mercado de trabalho”, elucida Gouy.