Parece até um sonho: um professor dá aula para três turmas do ensino médio com 40 alunos e tem tempo para elaborar atividades específicas que desenvolvam habilidades individuais. Além disso, ele também faz planos de aulas, corrige trabalhos, elabora provas, participa de reuniões com pais e gestores... Ufa! Quanta coisa, né?
Para tornar esse anseio de muitos professores real, existe uma ferramenta que vem mudando não só a área da educação, mas tantas outras como saúde, transporte, segurança e entretenimento: a inteligência artificial. No Serviço Social da Indústria (SESI), a proposta das trilhas adaptativas presentes na Plataforma Plurall é criar um ambiente de ensino que usa tecnologia para individualizar o processo de aprendizagem.
Isso é possível graças à coleta de dados sobre o desempenho do aluno nas provas do Programa de Avaliação da Rede SESI de Ensino (PASSE) e à aplicação de algoritmos de IA para identificar as áreas em que o aluno precisa de reforço.
As trilhas têm vídeos, textos e exercícios, organizados por área do conhecimento, série e nível de ensino dos estudantes. Os professores recebem as atividades, validam e enviam para os alunos. Há também a possibilidade de os docentes criarem alguma questão dentro da plataforma e compartilhar com outros professores da mesma área.
Reconectar o aluno com a escola
Pensar em atividades diferentes para contemplar mais de 250 alunos divididos em seis turmas seria algo impossível para Nadhia Valença, professora de linguagens da Escola de Referência SESI Paulista, em Pernambuco. Mas as trilhas adaptativas ajudam na criação de questões a partir dos relatórios das turmas.
Com a ajuda da IA, nenhum detalhe passa despercebido. As trilhas começaram a ser usadas recentemente na unidade, e Nadhia espera que os alunos compreendam mais sobre as competências que são esperadas deles e que se conectem com a escola.
Segundo a docente, alunos na reta final do ensino médio tendem a se identificar mais com os cursinhos, pois lá eles fazem exercícios que sejam simultaneamente objetivos e que trabalhem uma habilidade, como é cobrado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com isso, “eles se sentem desconectados da escola, mas o SESI está aproximando o estudante”.
“Ao responder ao banco de questões proposto pela trilha, eles vão sentir que o que a gente trabalha está próximo dos vestibulares que querem prestar e que estão trabalhando uma habilidade”, acrescenta a professora.
Agenor Magalhães, professor de ciências humanas da Escola SESI João Ubaldo Ribeiro, em Luís Eduardo Magalhães (BA), também acredita que um dos grandes ganhos das trilhas é o estudante poder se conectar com a própria aprendizagem.
“Você percebe que o aluno se identifica com aquilo que está fazendo, isso atende a dificuldade dele. A inteligência artificial ajuda muito a gente nisso. Tudo que é individualizado funciona, porque você atende uma dificuldade específica”, destaca.
Efetivação da aprendizagem
Todos os resultados das avaliações diagnósticas realizadas de maneira periódica pelo SESI por meio do PASSE ficam armazenados na Plataforma Plurall. Os professores conseguem ver os níveis em que as turmas e cada aluno estão por habilidade.
Para Alisson Pereira, professor de ciências da natureza do SESI SENAI Dr. Celso Charuri, em Aparecida de Goiânia (GO), as trilhas adaptativas auxiliam na efetivação da aprendizagem. Por algum motivo o aluno faltou uma aula, não prestou atenção e agora está atrasado em relação à turma.
Por isso, o docente enxerga a inteligência artificial "como uma possibilidade de o estudante resgatar as habilidades que não obteve”. O papel da trilha adaptativa é ser uma devolutiva das avaliações diagnósticas: indicar onde o aluno precisa melhorar e propor atividades individuais.
Se um professor não consegue se desdobrar para conseguir criar exercícios específicos, imagine um aluno que se sente atrasado em relação ao conteúdo numa sala de aula com 40 colegas? O professor de exatas do SESI Jardim Colorado, em Goiânia (GO), Matheus Araújo também considera a inteligência artificial positiva para manter o estudante no nível de aprendizagem esperado.
“O aluno fica limitado a se expressar numa sala cheia, e as trilhas adaptativas conseguem identificar exatamente em que ponto ele está. Ter uma ferramenta para ajudar o aluno a perceber como ele pode passar de um nível de proficiência para outro é incrível”, finaliza.