O setor industrial está preocupado com a meta estabelecida pela Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) de reduzir 50% das emissões de gases de efeito estufa na navegação internacional até 2050. Isso porque a medida poderá aumentar o custo de transporte de produtos por navios, o que poderá afetar significativamente o comércio do Brasil com outros mercados. Entre os setores mais afetados estão o de mineração e a agroindústria. O assunto esteve entre os debates da reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Coemas) da Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada nesta segunda-feira (24), em Brasília.
Especialistas apontam que os países da União Europeia devem ser os menos afetados com a medida, já que a navegação internacional tem peso menor no comércio exterior dos produtos da região. Em vez de meta global para a navegação marítima, a indústria brasileira acredita que é mais relevante gerar incentivos para aumentar, principalmente, a eficiência energética. "Trata-se de uma guerra comercial e não ambiental", destacou o gerente-geral de Meio Ambiente Corporativo da ArcelorMittal Brasil, Guilherme Correa Abreu.
De acordo com Alberto Pereira Nogueira, capitão de Mar e Guerra da Marinha do Brasil, representante do país na IMO, organismos internacionais estimam que as emissões de gases de efeito estufa da navegação internacional poderão crescer entre 50% a 250% até 2050. Para mensurar os impactos das medidas para redução das emissões, Nogueira defende a realização de estudos técnicos para serem apresentados na IMO. “Inclusive, o Instituto Brasileiro de Mineração e a Universidade de São Paulo estão produzindo um inventário das emissões marítimas. A partir daí, é preciso analisar o impacto das medidas da IMO na economia brasileira”, destacou.
O secretário da Divisão de Mudança do Clima do Ministério das Relações Exteriores, Luiz de Andrade Filho, afirmou que a navegação, que representa 80% do comércio internacional, é responsável por 2,2% emissões de CO2. “Esse nível de emissões é considerado baixo. É o equivalente às emissões da Alemanha”, disse.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA – José Magri, representante do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, falou do papel do setor elétrico no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Para ele, o Brasil tem oportunidade de se destacar na área de eficiência energética, sobretudo no setor de transportes e aumento no uso de energias renováveis, como solar, eólica e biomassa. “O setor elétrico tem a oportunidade de contribuir na área climática, com a redução das emissões de gases de efeito estufa”, declarou.
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, na última década houve crescimento significativo da participação de projetos de geração de energia eólica e solar. Enquanto em 2007 as fontes eólicas representavam apenas 0,20% da matriz elétrica e a solar era nula, em 2017 a geração eólica representou 7,85% e a solar subiu para 0,59% da matriz. “Outra importante questão é que o setor elétrico pode alavancar de forma significativa os ODS por projetos estarem localizados, principalmente, em regiões com baixo índice de desenvolvimento humano”, destacou Magri.
BIOECONOMIA – Outra oportunidade para o Brasil é apostar no avanço da bioeconomia, sobretudo pela vocação do País para o agronegócio, por ser referência em pesquisa em agricultura tropical, ser pioneiro em políticas para biocombustíveis e por contar com a maior biodiversidade do mundo. Essa é a avaliação de Bruno Nunes, coordenador-geral de Bioeconomia do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, durante a palestra Políticas e Programas Brasileiros de Bioeconomia. “Embora bioeconomia não seja uma novidade para o Brasil, falta uma melhor coordenação das ações”, afirmou.
Entre as iniciativas de destaque para apoiar o setor de bioeconomia, segundo Nunes, estão os Institutos de Inovação de Biomassa, Biossintéticos e Biotecnologia, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que contam com mais de 150 projetos em execução. Além disso, ele mencionou a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que conta com linhas de ação em bioeconomia como processamento de biomassas, química de renováveis e química verde.