Investimento em saúde e segurança do trabalho aumenta produtividade

Na oitava reportagem, a série especial do site Poder 360, com apoio da CNI, Caminhos da Indústria - desafios e oportunidade, mostra que a redução de acidentes de trabalho diminui custos e apresenta os Centros do SESI que promovem ações de saúde

Sede do Centro de Inovação do SESI/MS, um dos nove centros voltados para a promoção da saúde e da segurança do trabalho na indústria do país

Em operação desde 1978, o Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, reúne 90 empresas de diversos segmentos. Ali estão instaladas fábricas de tecidos, de automóveis, de fertilizantes, de celulose, de medicamentos, de bebidas e de produtos químicos derivados do petróleo. A gestão e o tratamento dos resíduos gerados são de responsabilidade da Cetrel, empresa baiana que foi criada no mesmo ano em que o polo começou a funcionar.

A Cetrel possui 360 funcionários e, em 2019, procurou o Serviço Social da Indústria (SESI) em busca de medidas para aumentar a segurança dos trabalhadores que garantem a distribuição de água dentro do polo e que lidam diariamente com os efluentes e com os resíduos gerados pelas indústrias instaladas no Polo de Camaçari.

“No ano de 2019 não tivemos nenhum acidente. O último acidente com afastamento ocorreu em agosto de 2018, com três dias de afastamento. Na Cetrel, buscamos sempre atuar de forma preventiva na gestão dos nossos riscos”, explica Daiane Lima, gerente de qualidade, saúde, segurança e meio ambiente da empresa.

Estação de tratamento de efluentes da Cetrel, empresa que gerencia os resíduos produzidos pelo Polo Industrial de Camaçari, na Bahia

Para gerenciar todas as informações referentes à gestão de saúde e segurança do trabalho, a Cetrel passou a utilizar no ano passado a Plataforma Sesi Viva +, ferramenta digital que pode ser acessada por donos de empresas e por trabalhadores. A plataforma unifica todos os dados sobre saúde e segurança laboral de uma empresa e de seus fornecedores e também facilita o registro de informações que deverão ser eventualmente registradas no eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas).

“A plataforma Sesi Viva + trouxe para Cetrel uma melhoria na gestão das informações de saúde e segurança do trabalho, permitindo que tenhamos uma integração dos dados numa única ferramenta, bem como tenhamos a garantia de atendimento aos aspectos legais de saúde e segurança do trabalho. Através dessa plataforma, também podemos ter acesso a conteúdos técnicos de segurança e promoção da saúde. Temos todo suporte da equipe do SESI e, tem sido, sem dúvida, uma parceria importante na melhoria dos processos da Cetrel”, pontua Daiane.

Benefícios  

Com a plataforma, é possível ainda elaborar modelos para monitorar trabalhadores que possuem doenças crônicas, cardiovasculares e respiratórias –uma medida importante para reduzir custos com planos de saúde.

Investir na saúde e na segurança dos trabalhadores gera benefícios que vão além do bem-estar das equipes de uma empresa. A redução no número de acidentes e de afastamentos impacta diretamente os resultados financeiros de indústrias de todos os portes e áreas de atuação. Coordenador de pesquisa, desenvolvimento e inovação do Centro de Inovação do SESI para a Saúde e Segurança, Bruno Sousa, afirma que a 1ª etapa para reduzir o absenteísmo é fazer um mapeamento detalhado dos processos que cada empresa utiliza e do perfil das pessoas que atuam na organização.

Com esses dados, é possível identificar áreas problemáticas e fatores de risco, assim como estabelecer uma lista de indicadores a serem monitorados para garantir que as medidas adotadas em prol da saúde e segurança das equipes se traduza em redução de custos.

“Se a gente pensar em empresas de diferentes portes e segmentos, elas enfrentam situações completamente diferentes, mas o princípio da gestão é o mesmo. São pessoas que têm que fazer o negócio render a partir de medidas, processos, cuidados com as finanças e ações de marketing. Esse pessoal sabe que a vida que está ali dentro tem que se sentir valorizada, que o funcionário tem que se sentir bem para ser mais produtivo. Sensibilizar os donos de empresas sobre esse tema tem se tornado cada vez mais fácil, principalmente quando usamos noções de economia. Quando o empresário entende que, quando a saúde mental do funcionário dele está em dia, ele estará mais produtivo e dará mais retorno para a empresa, esse empresário consegue visualizar o retorno dos investimentos feitos”, afirma Bruno.

O Centro de Inovação do SESI para a Saúde e Segurança fica em Fortaleza, no Ceará. Criado em 2017, o centro oferece soluções para que empresas de todo o país possam mapear e controlar gastos com saúde do trabalho e com medidas de segurança no ambiente laboral.

Uma das soluções que o centro oferece é um workshop em que as equipes da empresa contratante têm que lidar com uma série de situações hipotéticas e buscar formas de resolver os problemas apresentados sem extrapolar o orçamento. Essas situações são desenhadas de acordo com o perfil e com a área de atuação da empresa.

“Questões ambientais afetam de formas diferentes indústrias de portes diferentes. Também é necessário pensar sobre setores específicos: há inúmeras medidas legais de segurança do trabalho que devem ser adotadas, por exemplo, por indústrias químicas”, detalha o coordenador.

Inovação e parcerias internacionais

Obter dados confiáveis e atualizados sobre saúde e segurança no trabalho no Brasil não é tarefa fácil. A edição mais recente do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, feito pela Secretaria de Previdência do Ministério da Economia, é de 2017. O órgão informou ao Poder360 que o anuário com as informações de 2018 está sendo consolidado, mas ainda não há data para sua divulgação.

Para suprir a lacuna, o Centro de Inovação do SESI para a Saúde e Segurança fez parceria com a universidade norte-americana John Hopkins, referência internacional em saúde pública, e com o Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (Nioshi, na sigla em inglês), a agência federal dos Estados Unidos que estabelece diretrizes para a prevenção de lesões e doenças relacionadas à atividade laboral. 

"Nós utilizamos muitas informações dessas duas instituições porque elas possuem pesquisas muito avançadas sobre saúde pública e sobre saúde ocupacional, dados que nós não conseguimos encontrar por aqui. No caso da John hopkins, também contamos com a ajuda de técnicos deles para verificar a metodologia que desenvolvemos e verificar os questionários que elaboramos para trabalhar junto com as empresas. Mas há sempre uma preocupação em tropicalizar os dados que recebemos deles, porque empresas brasileiras e empresas americanas pensam de forma diferente, os sistemas de saúde são completamente diferentes. então a gente tem esse cuidado de fazer uma tradução adequada ao contexto do nosso país", destaca Bruno. 

O que são os Centros de Inovação do SESI?

Instalados em 9 capitais do país, os Centros de Inovação do SESI buscam promover a saúde dos trabalhadores do setor industrial. O diretor de Operações do SESI, Paulo Mól, explica que os centros de inovação desenvolvem soluções em Saúde e Segurança no Trabalho (SST) para atender às necessidades da indústria brasileira. “Toda ótica dos Centros de Inovação tem como objetivo reduzir o absenteísmo, a falta do trabalhador, e aumentar a produtividade das empresas. Quando fazemos isso, reduzimos os custos das empresas. É algo muito importante: conectar a tecnologia a uma causa extremamente nobre, a segurança do trabalhador”, diz Mól.

Os centros começaram a ser criados em 2016 e cada um trata de um tema específico –economia para saúde e segurança; ergonomia; estilo de vida e saúde; fatores psicossociais; higiene ocupacional; longevidade e produtividade; prevenção da incapacidade; saúde no trabalho; e sistemas de gestão de segurança e tecnologias para a saúde.

Bruno, o coordenador de pesquisa, desenvolvimento e inovação do Centro de Inovação do SESI para a Saúde e Segurança, destaca que todas as unidades trabalham em rede, isto é, trocam informações regularmente e estão prontas para atender demandas de empresas de todo o país.

A diretriz do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) nacional é que não tenhamos vários centros tratando da mesma temática, até porque isso não seria sustentável financeiramente”. Os temas dos centros foram definidos após pesquisa com empresários e especialistas, que apontaram quais aspectos referentes à saúde e segurança do trabalho eram mais relevantes para o setor industrial.

Todas as soluções já desenvolvidas pelos centros de inovação estão disponíveis na Plataforma de Inovações do SESI, que reúne desde oficinas e cursos de capacitação de equipes, até softwares e soluções para adequar máquinas e equipamentos. 

Saúde Suplementar

No segundo semestre do ano passado, mais de 47 milhões de brasileiros possuíam planos de saúde, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que 70% da cobertura dos planos de saúde do país vêm de planos coletivos empresariais, e os gastos com saúde suplementar já representam 13,1% da folha de pagamento das indústrias.

Em nota técnica que analisou a trajetória da inflação brasileira nos últimos 20 anos, a entidade industrial destacou que “a cesta de serviços médicos hospitalares foi a que encareceu ao longo de 20 anos, carregando um aumento acumulado de 374% no preço.” Gerente-executivo de saúde e segurança na indústria, Emmanuel Lacerda afirma que o atual sistema de saúde suplementar do país é reflexo da ausência de ações de prevenção: “Faltam ações de caráter preventivo e também de diagnóstico precoce, aspectos que o SESI tem atacado fortemente”.

Um grupo que reúne 68 empresas de diferentes portes e áreas de atuação está buscando formas de reduzir os custos com saúde suplementar. Coordenado pela CNI, o grupo debate formas de aperfeiçoar as políticas públicas sobre o assunto e está testando novos modelos de remuneração das prestadoras de serviços de saúde suplementar.

“O sistema atual tem questões estruturais como a falta de padronização de informações de saúde e a não integração de bases de dados. Para os gestores, isso é um gargalo porque eles não têm informação de qualidade para que possam tomar boas decisões. Outro ponto é que o modelo atual é indutor do consumo e isso poder induzir desperdícios e redundâncias em detrimento de um serviço de qualidade. Uma hiper utilização não significa necessariamente mais saúde, temos que buscar formas de fomentar o uso racional do sistema”, defende Emmanuel.

Assista à entrevista:

A série Caminhos da Indústria – desafios e oportunidades é produzida pelo Poder360, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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