O que é economia circular?

Esse modelo econômico é uma oportunidade ao melhor uso dos recursos naturais e aumento da competitividade da indústria. Conheça-o aqui

A economia circular associa desenvolvimento econômico ao melhor uso de recursos naturais por meio de novas oportunidades de negócios e da otimização na fabricação de produtos. A ideia é depender menos de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis. O conceito de economia circular surge como um contraponto ao modelo econômico linear – de extração de matéria-prima, transformação, uso e descarte de resíduos –, que está atingindo seu limite.

A nova tendência faz com que as empresas não apenas reduzam custos e perdas produtivas, mas criem novas fontes de receita. Por exemplo, ao comercializar resíduos úteis a outros processos produtivos. A economia circular também contribui para promover o desenvolvimento de novos elos na cadeia produtiva, por meio de práticas como otimização de processos, produto como serviço, compartilhamento, extensão da vida do produto, insumos circulares, recuperação de recursos e virtualização. 

Mudanças já são inadiáveis 

Nos últimos 30 anos, apesar dos avanços tecnológicos e do aumento da produtividade dos processos industriais, que hoje extraem 40% mais valor econômico das matérias-primas, a demanda aumentou 150%. “Isso mostra que não é possível manter o modelo linear no longo prazo, mesmo com maior eficiência no uso de insumos”, avalia Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Para ele,  trata-se de uma mudança de comportamento e também de estratégia. “É preciso revolucionar a forma de pensar os negócios, com uma lógica de longo prazo que combine maior eficiência no uso de recursos com produtos inovadores, mais leves e duráveis e com aproveitamento de resíduos”, complementa.

"Não é possível manter o modelo linear no longo prazo, mesmo com maior eficiência no uso de insumos", diz Davi Bomtempo

A transformação já está em curso em muitas empresas. Pesquisa feita pela CNI em 2019 mostra que 76,5% das indústrias desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, embora a maior parte não saiba que as ações se enquadram nesse conceito. Entre as principais práticas estão a otimização de processos (56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%) e a recuperação de recursos (24,1%).

O consumidor também está mais exigente

A pesquisa também mostrou que 88,2% dos entrevistados avaliaram a economia circular como importante ou muito importante para a indústria brasileira. Mas a questão transborda a busca por eficiência. 

Um levantamento recente sobre o perfil dos consumidores brasileiros, também da CNI, mostra que 38% dos entrevistados sempre verificam ou verificam às vezes se os produtos foram produzidos de forma ambientalmente correta. A pesquisa revela que os brasileiros também têm mais consciência sobre o destino do lixo. O número de pessoas que separa o lixo para a reciclagem cresceu de 47%, em 2013, para 55% no ano passado.

Atenta ao movimento, há cerca de dois anos a Coca-Cola anunciou o objetivo de coletar e reciclar 100% de todas as garrafas e latas que vender em todo o mundo até 2030. A meta faz parte de um plano da empresa chamado World Without Waste (Mundo Sem Resíduos) e envolve sua rede global de parceiros engarrafadores. Logo em seguida ao anúncio internacional, a Coca-Cola Brasil anunciou o investimento de R$ 100 milhões na criação de um único formato de garrafas PET retornável para todas as suas marcas de refrigerantes.

Assim, cada vez que a garrafa voltar à fábrica, a embalagem 100% reciclável poderá receber o conteúdo de qualquer produto da Coca-Cola Brasil e um rótulo de papel destacável para cada produto. Antes, além de garrafas diferentes, os rótulos eram impressos em tinta, o que prejudicava a reciclagem.

As garrafas retornáveis com rótulo de papel destacável também foram adotadas na Argentina, Chile, Peru e Colômbia. No Brasil, atualmente, cerca de 22% dos produtos comercializados pela Coca-Cola são retornáveis. A meta é chegar a 25% até 2030. 

Conheça algumas das práticas de economia circular 

- Produto como serviço
Foco na função e nos serviços fornecidos por meio do uso de produto, principalmente com contratos de locação. O negócio é atraente para empresas que tenham custos altos com um produto e que identifiquem fornecedores com a competência para dar suporte e manutenção. Exemplo dessa prática é a Philips Lighting, que migrou da venda de lâmpadas para iluminação como serviço.

- Compartilhamento
Aumento da eficiência de um produto pelo compartilhamento de uso, acesso e propriedade. Essa prática pode ser não-monetizada, por meio da participação dos membros da comunidade para compartilhar bens e serviços; e monetizada, como o aluguel do tempo ocioso de plantas industriais. Cervejarias artesanais têm se beneficiado desse modelo.

- Insumos circulares
Negócios que usam matéria-prima reciclada ou de fonte renovável. Um dos fatores de sucesso dessa prática está relacionado à redução da dependência de recursos naturais finitos e, ao mesmo tempo, estimula a inovação de produtos que possam voltar ao ciclo produtivo após o uso. A Braskem, por exemplo, fabrica o plástico à base de cana-de-açúcar.

- Recuperação de recursos
O objetivo é recuperar valor e função dos produtos, componentes e materiais por meio da remanufatura e reciclagem. Essa prática reduz a demanda por recursos naturais e o desperdício de componentes e materiais, além de criar valor para o que já foi considerado descarte. Para a viabilidade dessa prática, é fundamental a implantação de um sistema de logística reversa. Exemplo dessa prática é o da Sinctronics, responsável por recolher equipamentos eletrônicos, desmontá-los e transformá-los em matéria-prima para produtos novos.

- Virtualização
Com o desenvolvimento da capacidade de processamento de componentes eletrônicos, a computação em nuvem e redes de inteligência artificial, muitos serviços e atividades antes feitos por meio físico passam a ser entregues de forma digital. Entre os exemplos desse modelo está a Netflix, que substituiu as locadoras de vídeos.

- Extensão da vida do produto
Aumento da vida útil de um produto e geração de receitas adicionais pela oferta de serviços, como manutenção e inovação no desenho do produto. Essa prática é apropriada para a maior parte de negócios entre empresas, como é o caso do setor de máquinas e equipamentos.

- Otimização de processos
Redução do desperdício de materiais dentro da própria empresa por meio de aumento da eficiência no uso de matérias-primas, de água e de energia via não-geração, redução ou reaproveitamento de resíduos. Exemplo disso são as empresas de papel e celulose aproveitarem o licor negro que sai da madeira processada para gerar energia na produção.

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