SENAI participa de missão no Japão com foco em hidrogênio verde e produtividade

A visita é uma oportunidades para discutir o Quadro de Cooperação entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e o SENAI em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

pessoas de terno se posicionam perto do letreiro da JICA, no Japão

O Brasil pode se tornar um dos líderes mundiais na produção de hidrogênio verde nos próximos anos. Dados da McKinsey mostram uma oportunidade total de US$ 15 a 20 bilhões em receitas até 2040 e a maioria será destinada para atender o mercado interno, especialmente caminhões, produção de aço e outras indústrias intensivas em energia.

Por isso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) está em uma missão técnica ao Japão até a próxima sexta-feira (22), com o objetivo de discutir arcabouço da cooperação entre a instituição, empresas e departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) industrial do Japão.

O foco é fortalecer a cadeia de fornecimento de hidrogênio; o uso desse recurso na geração de energia; a P&D para redução de custos de geração, armazenamento e transporte de hidrogênio no Brasil e no Japão. 

A visita também é uma oportunidades para discutir o Quadro de Cooperação entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e o SENAI em PD&I e negociar oportunidades de colaboração no tema da produtividade da indústria brasileira que possam compor plano de trabalho Brasil-Japão no período 2023-2024.

Segundo o diretor do SENAI do Rio Grande do Norte e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), Rodrigo Mello, que participa da missão, a ideia é potencializar oportunidades de parcerias e buscar inspirações tendo em vista o estágio mais avançado da indústria japonesa. No Brasil, a atividade está em fase de desenvolvimento.


“O Japão já começou nessa área. Tem um porto especializado, tem empresa produzindo hidrogênio verde em escala comercial, em que pese esta ainda ser incipiente, como o é no mundo. Mas o fato é que a atividade já existe. Então vamos conhecer o que estão fazendo, que dificuldades tiveram e como podemos trazer esse aprendizado para o Brasil e o Rio Grande do Norte”, disse o executivo.


Uma missão anterior ao país, em 2010, resultou na criação de um programa temporário de educação profissional da instituição para formação de tripulantes de barcos de pesca oceânica.

“A frota pesqueira que usa mais tecnologia no mundo é a japonesa e os asiáticos são líderes de pesca oceânica. O curso foi realizado em Santa Cruz, reunindo jovens de comunidades litorâneas de diversos municípios”, disse Rodrigo Mello, à época, na primeira gestão enquanto diretor do SENAI no estado.

Do SENAI Nacional, participam o diretor de Operações, Gustavo Leal, o diretor de Inovação, Jefferson Gomes, e o especialista em Relações Internacionais, responsável pela internacionalização da Rede de Institutos SENAI de Inovação, Gustavo Rosa.

Dos departamentos regionais da instituição, integram o grupo, além de Rodrigo Mello, o diretor de Tecnologia e Inovação do SENAI CIMATEC, Leone Andrade, o gerente do ISI Biossintético e Fibras SENAI CETIQT, João Bastos, o diretor regional do SENAI do Ceará, Paulo André Holanda, e o diretor regional do SENAI de São Paulo, Ricardo Figueiredo Terra.

Intercâmbio

Com foco agora no setor de hidrogênio, a missão atual também pretende – além de discutir o horizonte de parcerias possível na área – negociar oportunidades de colaboração relacionadas à produtividade da indústria brasileira que possam compor um plano de trabalho Brasil-Japão no período 2023-2024. Possibilidades de troca de experiências entre pesquisadores dos dois países são, ainda, desdobramentos esperados.

O interesse que originalmente motivou a Missão internacional foi a cooperação SENAI-Japão na área de tecnologia para a indústria do hidrogênio. Uma pauta mais ampla foi construída a partir desse ponto, entretanto, e nela entraram desde produção, tecnologia, encontros tecnológicos e visitas a universidades, até discussões sobre formação de pessoas e estrutura de produção.

Roteiro

O roteiro da viagem inclui visitas a indústrias, universidades, centros de tecnologias e outras instituições, com reuniões previstas nas cidades de Osaka e Kobe. Entre as tarefas principais do grupo estão compreender a cadeia de suprimentos geral de hidrogênio, a tecnologia de geração de energia de hidrogênio e as estratégias de pesquisa e desenvolvimento para o cenário de redução de custos e suas melhores práticas no Japão.

homens e mulheres se reúnem, próximos uns aos outros para fotografia

Além disso, estão programadas discussões sobre as modalidades apropriadas de Parcerias Público-Privadas (PPPs) no Japão para acelerar o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à descarbonização, incluindo a fabricação de hidrogênio verde, biogás e GLP verde, bem como as tecnologias relacionadas ao hidrogênio.

A programação abrange ainda caminhos que possibilitam a observação de incentivos públicos e privados para o tema no Japão que possam contribuir para o seu desenvolvimento no Brasil, bem como a identificação de áreas de cooperação entre o SENAI e os departamentos de pesquisa e desenvolvimento industrial do Japão, além de discussões do Quadro de Cooperação entre a JICA e o SENAI em PD&I.

Governo japonês estima investimentos de US$ 40 bi para autossuficiência do país

O Japão é um dos mercados que mais apostam no hidrogênio verde como fonte de energia. O plano do governo é tornar o país autossuficiente em hidrogênio verde até 2050, com investimento de US$ 40 bilhões até 2030.

Uma série de projetos estão em andamento nacionalmente para o uso de hidrogênio verde na indústria. No setor automotivo, estão em desenvolvimento, por exemplo, um caminhão movido a hidrogênio verde na Toyota e uma planta de aço que usa hidrogênio verde como combustível, na Mitsubishi.

A empresa Kawasaki Heavy Industries, por sua vez, tem planos de construção de uma usina de energia a hidrogênio verde, em 2027. O projeto está em desenvolvimento.

Segundo informações do SENAI, “o uso de hidrogênio verde na indústria no Japão ainda está em estágios iniciais, mas tem o potencial de se tornar uma fonte importante de energia no futuro”.

“O Japão tem a intenção de investir 1 trilhão de dólares em desenvolvimento de soluções na área de energias verdes e descarbonização, mas atualmente o foco para parcerias é com a Ásia e Oceania. Vale ressaltar que existem possibilidades com a América Latina”, observa Rodrigo Mello, acrescentando que “a estratégia do país reconhece a possibilidade de evoluir com hidrogênio verde a partir de fontes fósseis com armazenamento de CO2 (Dióxido de carbono), uma tecnologia que o Brasil detém”.

Referência

O interesse do SENAI-RN em aprofundar discussões e soluções nessa área não é por acaso. O CTGAS-ER, Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), da instituição, é a referência nacional do SENAI em formação profissional para as indústrias de energia e do gás, além de centro de excelência nacional para soluções de educação que estão em desenvolvimento, com a Alemanha, para a cadeia produtiva do hidrogênio verde.

O Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), por sua vez, é a principal referência do SENAI no Brasil em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I) em energia eólica, solar e sustentabilidade, incluindo novas tecnologias, como o hidrogênio verde. 

imagem colorida de pipetas de experimento com hidrogênio

Pesquisadores do Instituto estudam e executam projetos envolvendo rotas alternativas de produção – aquelas que não geram emissão de carbono no processo industrial – há mais de 10 anos.

Em um dos projetos atuais, o hidrogênio é um dos insumos para a produção de combustível sustentável de aviação. Em outro, são mapeados aspectos como gargalos tecnológicos, potenciais de produção e mercado.

Trabalhos do ISI-ER nesse campo incluem o desenvolvimento de pesquisas em produção e distribuição de hidrogênio renovável, além do desenvolvimento de modelos matemáticos para avaliações econômicas dos recursos e otimização da logística de produção e distribuição do produto.

O hidrogênio e o Japão

O hidrogênio é um gás chamado de hidrogênio verde quando a eletricidade usada no processo químico para obtê-lo – a eletrólise – vem de fontes renováveis, como hidrelétrica, eólica e solar. Ele é alternativa à produção a partir de gás metano, mais comum hoje e mais poluente. E um potencial insumo para as indústrias, para combustível, assim como potencial meio de armazenamento de energias limpas para exportação. A indústria está em processo de estruturação no Brasil, e à espera de regulamentação.

A seguir, confira alguns dos principais destinos do SENAI durante a missão que passará esta semana em território japonês para se debruçar sobre o assunto:

imagem colorida de pessoas de terno sentadas e em pé

JICA  – Foi a primeira parada da missão e se trata da Agência do Governo Japonês responsável pela implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA), que apoia o crescimento e a estabilidade sócio-econômica dos países em desenvolvimento com o objetivo de contribuir para a construção da paz e o desenvolvimento da sociedade internacional. Também participaram da programação o diretor da Divisão de Programas de Treinamento da JICA, Hidefumi Nagai, e a vice-diretora da área, Natsuko Fugi.

Universidade de Kobe – Seminário para discussão de temas como cooperação econômica entre Brasil e Japão e possibilidade de construção de uma cadeia de fornecimento de hidrogênio entre os dois países. 

Laboratório de Tecnologia de Hidrogênio Iwatani – programação incluirá apresentação de tecnologia relacionada ao hidrogênio e visita às instalações relacionadas ao hidrogênio.

Universidade de Osaka – Visita ao Centro de Inovação do Futuro, Escola de Pós-Graduação em Engenharia, da Universidade; Apresentação da pesquisa na área, entre outras atividades. Também conhecida como Handai, a Universidade de Osaka é uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior do Japão e uma líder mundial em pesquisa e inovação. Fundada em 1931, a universidade está envolvida em várias iniciativas ligadas ao hidrogênio, incluindo a produção a partir de fontes renováveis, o desenvolvimento de células a combustível de hidrogênio mais eficientes e a criação de sistemas de armazenamento de hidrogênio seguros e eficazes. 

Kawasaki Heavy Industries, Ltd. – Agenda prevê apresentação da cadeia internacional de abastecimento de Hidrogénio líquido e visita às instalações, incluindo o Terminal de carregamento de hidrogênio líquido. Uma das principais empresas industriais do Japão, A Kawasaki Heavy Industries (KHI) tem desempenhado um papel significativo no desenvolvimento de tecnologias de hidrogênio. A companhia tem investido fortemente em pesquisa e desenvolvimento na área, com foco na produção de hidrogênio verde, sistemas de armazenamento e transporte, e aplicações de células a combustível. A empresa tem sido pioneira na criação de infraestruturas de hidrogênio, incluindo a construção de grandes instalações de produção e o desenvolvimento de navios especializados para o transporte de hidrogênio. 

Osaka Gas Co., Ltd. Carbon Neutral Research Hub – é uma das principais empresas de energia do Japão, fornecendo gás natural para milhões de residências e empresas. A empresa também está envolvida em outras operações de energia, incluindo investimentos em pesquisa e desenvolvimento com foco na produção eficiente de hidrogênio, sistemas de armazenamento e distribuição, e aplicações de células a combustível.

Departamento Ambiental da Cidade de Osaka – Pauta inclui apresentação do Projeto de colaboração da cidade para a realização de uma sociedade descarbonizada, da Visão H2 de Osaka e da utilização de hidrogênio na Expo Osaka/Kansai. O Departamento Ambiental de Osaka tem se empenhado ativamente na promoção do hidrogênio como uma fonte de energia limpa e sustentável. A cidade tem implementado várias iniciativas para incentivar o uso de hidrogênio, incluindo a instalação de estações de abastecimento de hidrogênio e a promoção de veículos movidos a células de combustível de hidrogênio. Além disso, o departamento tem colaborado com empresas locais e instituições de pesquisa para desenvolver tecnologias de hidrogênio mais eficientes e acessíveis. 

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