“A baixa produtividade no trabalho, a dificuldade de inserção dos jovens no primeiro emprego, o desemprego e a curva demográfica exigem um debate de projeto educacional no Brasil. Para gerar maior valor agregado e competição às nossas empresas, uma política de justiça social, de equidade e de emprego para os estudantes”, discorreu o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, em seminário nesta segunda-feira (14).
O evento on-line, realizado pela Folha de S. Paulo em parceria com o Itaú Educação e Trabalho, reuniu especialistas para discutir a importância da educação profissional na retomada econômica. Lucchesi, que também é diretor superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI) e diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), foi convidado para a segunda mesa do seminário, sobre o novo ensino médio.
- ESPECIAL: Um Novo Ensino Médio
Segundo ele, o modelo aprovado por lei em 2017 deverá contribuir para esse projeto, resultando em maior empregabilidade dos jovens e competitividade das empresas, por meio do itinerário de formação técnica. Contudo, há alguns desafios, como a qualidade da educação no país, que precisa melhorar; a matriz educacional brasileira, “extremamente academicista”; e a articulação entre as redes de ensino básico e as instituições de educação profissional.
Na primeira parte do seminário, a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue, reconheceu que o Sistema S tem excelência e sabe como conectar o tipo de formação técnica com a demanda do setor e das empresas.
“O ensino superior só tem vaga para 20%, então temos 80% dos jovens que precisamos pensar o que vai acontecer com eles. E o campo da tecnologia dá uma pista muito importante, é possível formação mais inovadora, não temos como única via a formação de quatro anos da universidade”, argumentou Inoue.
Apenas 11% dos alunos do ensino médio do Brasil fazem educação profissional, enquanto em outros países desenvolvidos esse índice chega a 70%.
Jovens se interessam pela formação profissional
O debate, mediado pela jornalista da Folha Angela Pinho, contou com a participação de Aléssio Trindade, professor do Instituto Federal da Paraíba e ex-secretário nacional de Educação Profissional e Tecnológica; Daniel Barros, subsecretário de Educação Profissional de São Paulo; e Vitor de ngelo, secretário de Educação do Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
Barros explicou que a Secretaria de Educação de SP tem trabalhado, nos últimos dois anos e meio, para a expansão do modelo. O objetivo é levar a educação profissional para dentro das escolas estaduais.
“O novo ensino médio é a grande oportunidade para isso. Pesquisa realizada com os estudantes da nossa rede mostra que 53% querem fazer o itinerário de formação técnica e profissional, o que dá a dimensão de quanto eles gostariam de ser preparados para as habilidades do mundo do trabalho ainda na educação básica”, justificou o subsecretário de São Paulo.
Ensino superior, trabalho, formação de professores e material didático
Na sequência, Aléssio Trindade defendeu que a oferta do itinerário de formação profissional deve estar conectada ao projeto de vida do estudante e às oportunidades de trabalho. “Não preciso ter ensino técnico e laboratório só porque a lei diz, mas porque tenho que me conectar com o setor produtivo e a comunidade”.
De acordo com o representante dos institutos federais, nós estamos no meio da implantação de um processo novo nas redes estaduais e esse início é importante para o sucesso da reforma. Os participantes lembraram ainda da importância da formação de professores e do material didático. E destacaram que não há oposição entre a formação técnica e o ensino superior.
“O curso técnico profissionalizante vai garantir melhores condições ao estudante, do ponto de vista de renda e emprego, para futuramente, se for do seu interesse, fazer um curso superior”, resumiu o secretário de Educação do ES.
Vitor de Ângelo, que também preside o Consed, ressaltou que governos, organizações do terceiro setor e o setor produtivo e econômico precisam atuar em conjunto para tirar a reforma do papel.
Nesse sentido, Lucchesi lembrou que a lei prevê a possibilidade de parcerias e que tanto o SESI quanto o SENAI - que formaram a primeira turma no Brasil - estão à disposição para apoiar as outras redes de ensino.
Assista ao seminário na íntegra: