Os aprendizados de quem passou pela experiência pioneira do Novo Ensino Médio

Equipe pedagógica compartilha desafio de trabalhar por competências e áreas de conhecimento. Alunos relatam amadurecimento e preparação para mercado de trabalho

Alunos, pais, docentes e coordenadores pedagógicos da primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil têm muita história para contar. Vivências e aprendizados que resultaram da inovação em sala de aula promovida pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com a implementação da Lei 13.415/2017.

Agora que já sabemos quais são as mudanças e o porquê da nova proposta (veja na primeira matéria da série) para a última etapa da educação básica, é hora de ouvir os relatos de quem participou do processo.

Os protagonistas da história

Dos 198 alunos que ingressaram nas turmas piloto de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Goiás, 81,5% vieram de escolas públicas. Eles estudaram no itinerário V, de Formação Técnica e Profissional (FTP). No projeto piloto, o curso técnico escolhido foi o de eletrotécnica, pela transversalidade e demanda do mercado de trabalho.

A série especial da Agência de Notícias da Indústria conversou com vários protagonistas dessa história em cada um dos cinco estados pioneiros (vídeo abaixo).

Os estudantes compartilham os sentimentos e as emoções de superarem os desafios do novo modelo de ensino. Saiba quais foram as reações em relação à novidade, a dinâmica durante as aulas integradas por áreas de conhecimento e o curso técnico, além da preparação para a vida após o ensino médio:

Pais veem mudanças nos jovens

A mãe de Carlos Eduardo Silva, 18 anos, de Maceió (AL), Elisângela Pastora da Silva, 40 anos, se orgulha não só da autonomia conquistada pelo filho com o diploma e a nova profissão, mas também do amadurecimento pessoal.

“A maneira do meu filho se comportar mudou muito. Antes ele era tímido. Agora ele tem o modo dele de ver as coisas, bem desenvolvido. Eu lembro que ele viajou por causa da robótica, eu olhava e não acreditava que era meu filho. Ele agarrou a oportunidade, foi se identificando com os estudos e se dedicando cada vez mais”, lembra Elisângela, emocionada.

Outra mãe que viu a mudança em casa e elogia a formação técnica é Elisangela Guese Crispim, de Serra (ES). De acordo com ela, a filha Júlia, de 17 anos, já colocou em prática os conhecimentos em eletrotécnica, com alguns projetos para uma arquiteta.

“Valeu muito a pena investir na educação dela neste método. Nós, como pais, nos sentimos seguros quanto ao futuro dela”, ressalta Elisangela (à dir)

Na análise de Elisangela, as atividades em grupo tiveram um ganho neste método de ensino, tanto que ela percebeu que a filha ganhou habilidades com a proposta.

Ela teve amadurecimento e um ganho de segurança em se posicionar em suas opiniões e conhecimentos. Minha filha ficou mais segura para falar e colocar as questões, despertou curiosidades em várias situações”.

Planejamento pedagógico conjunto para integração das disciplinas

Se, para os alunos, a nova dinâmica da sala de aula, com conteúdos integrados, trabalhos em grupo, projetos de inovação e feiras científicas, despertou mais o interesse; para os docentes, foi um grande desafio.

A pedagoga Glaubervânia Costa Silva Cardoso, do SESI José Carvalho, em Feira de Santana (BA) explica que, em vez de começarem o planejamento pensando em qual conteúdo será abordado, eles partem das habilidades e competências listadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Português e matemática são disciplinas obrigatórias e o restante é diluído em quatro áreas, sendo as mesmas já aplicadas no Enem

“Assim como os alunos, ficamos ansiosos e com muitas perguntas: ‘nossa, vai dar certo?’, ‘a carga horária vai ser suficiente?’, ‘como vamos fazer já que a formação dos professores não é condizente com área de formação por conhecimento?’. Participar de um projeto inovador, que está estabelecido pela legislação, é muito importante para mim como educadora. Foi um grande aprendizado e, pelos resultados, a gente percebe que esse é o formato que a gente espera para a educação do nosso país”, conclui Glaubervânia Cardoso.

Ensino técnico e construtivo

Como o itinerário V é ofertado em parceria com o SENAI, os docentes dos cursos técnicos também são chamados para planejar as atividades.

“O SENAI já utiliza uma metodologia própria, que trabalha com áreas de conhecimento por meio de projetos. Mas integrar a educação básica com a educação profissional sempre foi um desafio, a exemplo do EBEP [Educação Básica articulada com a Educação Profissional]”, reconhece o instrutor João Paulo Vilela Júnior, do SENAI de Aparecida de Goiânia (GO).

A escolha do itinerário e do curso técnico, no caso da formação profissional, acontece no início do 1º ano

Na visão da coordenadora pedagógica do SESI de Maceió, Amanda Rafaela Ferreira, a reforma do ensino médio permite - e incentiva - que a escola seja não só um local de transferência de conhecimento, do professor para o estudante, mas sim um ambiente para o aluno escrever a própria história e repensar e discutir conceitos.

Enxergar a área de conhecimento e não somente o componente curricular foi uma ruptura de paradigma, que nos permitiu, e permite, ir além do que imaginávamos. É sair da zona de conforto. Os professores não atingiriam marcos tão importantes no desenvolvimento de seu trabalho se estivessem fechados em seus componentes curriculares”, acredita Amanda Ferreira.

Conheça alguns formandos das primeiras turmas do Novo Ensino Médio no Brasil:

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