Professores do SENAI se destacam na dedicação ao ensino

Conheça algumas histórias da formação profissional de alunos do SENAI pelo ponto de vista dos professores

Eles trazem a marca do compromisso com a educação. E têm mais que isso. Para ser um professor do SENAI não basta saber ensinar ou criar soluções para problemas do mundo produtivo. Ao longo dos últimos 71 anos, eles aproximaram dois Brasis. De um lado, o Brasil da indústria que precisa de profissionais qualificados para se tornar mais competitiva. Do outro, o Brasil de milhões de pessoas que encontram na educação profissional um caminho para conquistar a cidadania. Agindo como pontes, os professores do SENAI foram responsáveis por preparar 58 milhões de brasileiros para o mundo do trabalho. É como se 30% da população atual do país tivesse aprendido uma profissão sob a orientação deles.

O especial que o Portal da Indústria publica agora, produzido em parceria com as unidades do SENAI nos estados, conta a experiência da formação profissional pela ótica dos professores. Trata-se de uma homenagem, por ocasião do Dia do Professor (15 de outubro), aos 12 mil docentes em atividade atualmente nas 817 unidades do SENAI e a todos os outros que já passaram pela instituição.

O país tem feito um grande esforço para valorizar a educação profissional. Se o ensino profissional vai colocar o Brasil em outro patamar de desenvolvimento, é certo que os professores do SENAI serão responsáveis diretos por essa mudança. Conheça, abaixo, um pouco da história de profissionais que se destacam no dia a dia. Boa leitura.

Especialista em formar os melhores do mundo 
Ademir Bassanesi treina competidores para o torneio internacional de educação profissional há doze anos. Ele é bicampeão em mecatrônica

Ademir, ao centro, com alunos campeões

Ademir Bassanesi tem o compromisso de preparar estudantes de cursos técnicos de mecatrônica para disputarem o torneio mundial de educação profissional. A cada dois anos, o WorldSkills International realiza uma competição de jovens profissionais formados para trabalharem na indústria e no setor de serviços. O SENAI participa dessa disputa desde 1983. Já Bassanesi, desde 2001, ano em que a dupla que ele treinou ficou com a quarta colocação. Os resultados alcançados confirmaram o Brasil como um dos melhores na preparação desse tipo de profissional: foram dois quintos lugares nos torneios mundiais de 2003 e 2005, duas medalhas de prata, em 2007 e 2009, e duas medalhas de ouro, em 2011 e 2013.

Tecnólogo em automação industrial com especialização em educação profissional, Ademir foi professor do quadro permanente do Centro Tecnológico de Mecatrônica e Automotivo do SENAI de Caxias do Sul, de 1999 a 2011, quando saiu para dedicar-se integralmente à sua empresa de engenharia de desenvolvimento de equipamentos eletromédicos. Depois disso, passou a ser contratado especificamente para supervisionar o treinamento dos competidores.

Analisando o cumprimento do que foi definido nas disciplinas do curso técnico de mecatrônica e o convívio com outros estudantes, Bassanesi conseguiu identificar, entre os 720 alunos que teve no SENAI, campeões nacionais e mundiais, profissionais com carreiras promissoras e os estudantes menos interessados. Para todos eles, o comportamento do professor era o mesmo em sala de aula. "É preciso trazê-los para a realidade. Ensinar que, para se ter bom desempenho profissional, é necessário ter responsabilidades", destaca.

REALIDADES DIFERENTES - Os 12 anos como professor do SENAI o ensinaram a compreender a diversidade das pessoas. "Dei aulas à noite, tive de trabalhar com estudantes já adultos. Conheci realidades muito diferentes e sempre me questionava sobre o que poderia fazer para melhorar a vida daquelas pessoas", revela. As experiências mais marcantes do período, ele deixa para os resultados das competições. "O ápice foi o primeiro campeonato mundial em 2011. Fomos também pentacampeões nacionais em 2008, um feito que vai ser difícil alguém alcançar", enumera.

Para chegar ao campeonato mundial, as equipes têm de ficar nas duas melhores colocações do torneio nacional, a Olimpíada do Conhecimento. Bassanesi planeja os treinamentos desde essa fase. Os resultados que conseguiu na última década o levaram a um novo patamar. Depois de uma formação como coach, ele se prepara para integrar a equipe de preparação não apenas dos competidores de mecatrônica, mas de toda a delegação brasileira, para o torneio de 2015. No evento deste ano, realizado em Leipzig, na Alemanha, 41 jovens de todo o país participaram.

Desenvolvimento e respeito às culturas tradicionais 
Desde 2009, professor de Alagoas leva qualificação profissional a comunidades do interior. Existem hoje no estado 65 comunidades quilombolas e outras 13 indígenas

Alessandro, ao centro, com uma de suas turmas

Os quilombolas de Palmeiras dos Negros e os índios da tribo Kariri Xocó, no interior de Alagoas, melhoram sua renda comercializando queijos e compostas de manga e maracujá. Uma qualificação oferecida pelo SENAI, desde 2009, ajudou 200 produtores dessas comunidades tradicionais a inserirem técnicas de manipulação de alimentos e higiene e assim melhorarem a qualidade dos produtos que vendem. O responsável direto por isso é o professor Alessandro Gonçalves Santos, 39 anos, que desde 2009, trabalha no Centro de Educação Profissional Napoleão Barbosa, em Maceió.

As aulas são oferecidas nas próprias comunidades, localizadas a 150 e 170 quilômetros da capital alagoana. No período dos cursos, Santos enfrenta estradas esburacadas e, com dificuldades para retornar à cidade, já teve de dormir nas casas dos próprios alunos. “Essa é uma causa que abracei e vou levar para o resto da vida. Não tem volta”, diz.

Ele conta que entrou no SENAI quase que por acidente. Em 2007, quando já trabalhava como coordenador de cozinha e era voluntário numa ação de educação para jovens e adultos, o turismólogo começou um curso de aperfeiçoamento em gestão e tecnologia de alimentação. Logo depois, recebeu uma proposta para ministrar aulas na comunidade de pescadores de Porto de Pedras, também na área de higiene de alimentos. Aí partir daí, não parou mais. Nesses últimos quatro anos, já foram 200 alunos de idades que vão dos 18 aos 27 anos.

EXPANSÃO - O professor Alessandro tem consciência da repercussão de seu trabalho. “Alagoas só vai se tornar um estado forte se trouxer essas pessoas [das comunidades tradicionais] para o desenvolvimento. Temos de fazer isso também respeitando suas especificidades culturais, religiosas”, afirma. Existem hoje no estado 65 comunidades quilombolas e outras 13 indígenas, que sofrem com dificuldade de acesso a políticas públicas, inclusive as de educação, trabalho e renda.

Neste mês de outubro, 37 pessoas da aldeia Kariri Xokó participarão de um curso de auxiliar administrativo. O objetivo é fortalecer a capacidade empreendedora dos que vendem o queijo nativo. “Desde 2009, a demanda cresceu muito. Sozinho, já não tenho mais condições de atender. Assim, devemos montar um núcleo no SENAI de Alagoas para articular melhor essas ações”, adianta.

O próximo projeto desenvolverá um curso para formar agentes de gestão de resíduos sólidos. Como não há serviços públicos de limpeza, essas comunidades podem se tornar, segundo Santos, verdadeiros celeiros de lixo urbano, como sacolas plásticas. A metodologia já está em elaboração e contará com a articulação de prefeituras municipais.

Tecnologia de ponta e jogos de matemática para ensinar soldagem 
Com ideia inovadora, Fabiano Frazão conseguiu reduzir riscos de acidentes e o consumo de materiais nas aulas

Fabiano ao lado do simulador de soldagem

Fabiano Frazão, 38 anos, é instrutor do Centro de Tecnologia SENAI (CTS) Solda desde 2008, onde prepara cerca de 120 estudantes por ano para atuarem no mercado de metalurgia e soldagem. Em 2011, ele passou a utilizar um simulador de solda durante as aulas teóricas dos cursos. O objetivo é familiarizar os alunos com a prática antes de eles irem para as oficinas, diminuindo os riscos de acidentes e o consumo de materiais. A experiência foi a vencedora do Prêmio Conecta, realizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), para destacar experiências educacionais desenvolvidas junto aos alunos com uso de recursos tecnológicos.

No prêmio, os 10 projetos mais bem avaliados tecnicamente vão para votação popular durante seminário que discute como a tecnologia vem transformando o ensino e a aprendizagem em sala de aula e o papel do professor nesse novo cenário. Em 2012, dos mais de 300 inscritos, Fabiano Frazão teve a maior votação popular entre as experiências do SENAI.

ESTÍMULOS - Os alunos de Fabiano utilizam, além do simulador de soldagem, lousa digital e jogos de matemática. Os dois primeiros visam trazer, em realidade virtual, o ambiente de trabalho para a sala de aula. Já os jogos de matemática passaram a ser adotados com o objetivo de desenvolver o raciocínio lógico dos alunos. “Identifiquei que muitos alunos têm problemas com a matemática. É uma forma de incentivá-los com a disciplina necessário ao trabalho na indústria”, afirma.

Formado soldador no próprio CTS Solda, em 1998, Frazão trabalhou cinco anos em uma empresa de manutenção de equipamentos. Até que passou por um processo seletivo, em 2008, para ser professor do SENAI. De acordo com ele, as mudança nas tecnologias adotadas para ensinar são importantes para a qualidade do aprendizado. “Com equipamentos mais evoluídos, é possível trazer a oficina para dentro da sala de aula e começar desde cedo a preparação prática dos alunos”, diz ele.

O interesse com a melhor qualificação faz sentido. Soldador é uma das profissões industriais mais atraentes no Rio de Janeiro. Está entre os maiores salários médios (R$ 2,2 mil) e a maior quantidade de postos de trabalho – são 17,6 mil atualmente.

Quando a deficiência não é obstáculo 
Há 30 anos, Sônia Queiroz foi uma das pioneiras na formação de cegos para o trabalho. Em Alagoas, o professor Joseildo Miranda, surdo de nascimento, dá aulas para turma de ouvintes 

O ano era 1980. Poucos setores da sociedade brasileira haviam despertado para o fato de que as pessoas com deficiência tinham direito à educação e ao trabalho. Sônia Queiroz, então com 18 anos, era estagiária no SENAI de João Pessoa (PB), quando a unidade assinou convênio com o Instituto de Cegos da capital paraibana para formar pessoas para as áreas de produção, auxiliar administrativo, atendente de central telefônica. Como já trabalhava no setor de adaptação profissional de cegos, Sônia foi participar da preparação dos novos alunos, realizada com acompanhamento individual, além de aulas no SENAI e nas próprias empresas.

“Comecei aprendendo na prática e depois fiz aperfeiçoamentos para trabalhar com pessoas com deficiência”, conta. Além da qualificação técnica, relata Sônia, os alunos já recebiam preparação comportamental visando melhor desempenho no mercado de trabalho. Foi assim durante quatro anos, período em que cerca de 200 pessoas com deficiência passaram pelo Centro de Educação Profissional Odilon Ribeiro Coutinho, em João Pessoa.

Joseildo em sala de aula

Trabalhos pioneiros como o de Sônia em João Pessoa (PB) se repetiram em outros pontos do Brasil e prepararam o terreno para que o Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI) fosse criado em 1999. A iniciativa atua para qualificar pessoas com deficiência e apoiá-las na inserção no mercado de trabalho. Nos últimos seis anos, foram formadas 78,3 mil pessoas com deficiência. As matrículas anuais saíram de 10 mil, em 2007, para 17 mil no ano passado. Somente no primeiro semestre de 2013, foram 12 mil.

CONTINUIDADE DO TRABALHO - A realidade de Joseildo Miranda, de 38 anos, representa o sucesso de ações como a realizada por Sônia Queiroz há mais de 30 anos. Surdo desde que nasceu, Joseildo se tornou o primeiro instrutor com deficiência na área têxtil do Centro de Educação Profissional Napoleão Barbosa, a unidade do SENAI do Tabuleiro do Martins, em Maceió (AL). Na primeira turma composta por 15 alunas ouvintes não houve problemas para se comunicar. “As aulas são tranquilíssimas. Muitas vezes, a gente deixa o Gilson [Vilela, tradutor de Libras – Linguagem Brasileira de Sinais] à vontade e se comunica diretamente com ele [o instrutor]”, afirmou a aluna Ana Paula Cavalcante, durante as aulas.

De acordo com Joseildo, no começo, o recurso mais utilizado foram os gestos. “Depois, os alunos começaram a falar pausadamente o que facilitou que eu os entendesse e também fosse entendido”, relata. A experiência foi tão marcante que, ainda em julho, uma nova turma com alunos ouvintes foi iniciada.

“Quero continuar lecionando e expandir esse trabalho não apenas em Maceió, mas no interior do estado, onde há mais dificuldade em relação a isso”, conta. Joseildo foi aprovado no vestibular de Pedagogia no Centro de Ensino Superior de Maceió em maio deste ano. Com dificuldades para conciliar todas as atividades no SENAI e a graduação, ele pretende iniciar a faculdade em 2014. Neste momento, além de dar aulas, ele se dedica a preparar a competidora surda Kyrlla Daniella Almeida Bastos, 27 anos, para representar Alagoas na Olimpíada do Conhecimento, o torneio nacional de educação profissional, a ser realizado em 2014 em Minas Gerais.

Foto: Gilson Vilela

Malas prontas para ensinar fora do Brasil 
Jovem professora de Minas Gerais preparou projeto pedagógico nas áreas de eletrônica e telecomunicações e agora vai implantá-lo na Jamaica

Com apenas 19 anos, ela se tornou instrutora em uma das unidades de referência em eletrônica e telecomunicações do SENAI, o Centro Tecnológico de Eletroeletrônica César Rodrigues, em Belo Horizonte (MG). Agora em 2013, aos 28, Natalia Trindade de Souza parte para a Jamaica, onde ficará por três meses e meio formando professores que serão responsáveis pelo primeiro centro de qualificação de profissionais para a indústria daquele país. Segundo sua própria avaliação, trata-se do projeto de maior impacto e responsabilidade em que se envolveu até hoje.

Além de Natalia Trindade, outros professores da instituição estão envolvidos atualmente na criação de centros de formação em outros países, resultado de cooperação internacional do Brasil. O SENAI – ao assinar um acordo com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) – define os projetos tecnológicos e pedagógicos de acordo com a necessidade da indústria local. Ao final, prepara os professores que ficarão responsáveis pela formação dos trabalhadores. O objetivo é fazer com que a unidade no exterior consiga levar, sozinha, adiante o trabalho.

A unidade em Kingston (capital da Jamaica), na qual Natalia Trindade trabalhará, vai oferecer cursos nas áreas de alvenaria e acabamento, serralheria e solda, carpintaria, instalação hidráulica e a gás, eletrônica, telecomunicações, refrigeração e marcenaria. Responsável pelos projetos de eletrônica e telecomunicações, ela é a única do grupo de oito instrutores a cuidar de dois temas. É a única também que não atua com intérprete para a língua local (o inglês).

NECESSIDADE DE ADAPTAÇÕES - Ela coordenou desde a elaboração da licitação para a compra de equipamentos, a produção do material didático até o treinamento dos professores. “Tive de levar em conta os aspectos culturais do país, além da língua. Foi preciso entender, por exemplo, como eles se comportam nas empresas para que meu trabalho fosse efetivo”, conta.

Natalia já passou por cargos na indústria e pela aprovação em um concurso público. A escolha de ser professora veio com a resposta a uma simples pergunta. “É melhor ganhar mais dinheiro e não trabalhar com o que gosta, ou fazer aquilo que gosta e aos poucos ir ganhando mais dinheiro? Escolhi a segunda opção”, revela.

Desde essa resposta, já se passaram dez anos. Nesse período, Natalia precisou se adaptar a novas realidades, o que a qualificou para a experiência internacional. “Hoje, temos enfrentado o desafio de ensinar a técnica a alunos sem formação adequada da matemática e do português”, conta. De acordo com ela, é comum o instrutor de eletrônica parar o conteúdo para voltar a conceitos dos ensinos fundamental e médio. “Se fizermos da mesma maneira que o professor do ensino médio fez, não dá resultado”, explica.  “Quando eu estou com uma turma que me desafia dessa forma e que, ao mesmo tempo, se interessa em buscar conhecimento, é o máximo”, completa.

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