A interação entre empresas e universidades é fundamental na formação dos futuros engenheiros, destacaram participantes do lançamento virtual, nesta segunda-feira (15), de documento de apoio à implantação dos novos cursos de Engenharia. O texto possui orientações de elaboração dos planos pedagógicos pelas Instituições de Educação Superior, que têm até abril de 2022 para modernizar a graduação a fim de que os profissionais formados na área sejam agentes de inovação.
“O documento traz orientações relevantes baseadas em evidências, assim como experiências bem sucedidas para estimular o processo de implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Esperamos que as Instituições de Educação Superior encontrem elementos de apoio para definição de seus respectivos planos pedagógicos e que o setor empresarial também encontre nesse documento suporte para construção de um diálogo, de um relacionamento com as escolas de Engenharia”, afirmou, durante o evento, a diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagázio.
A CNI, por meio da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), participa da Comissão Nacional de Implantação das Diretrizes Curriculares de Engenharia, coordenada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). As novas Diretrizes, homologadas em abril de 2019, deram maior autonomia às instituições de educação para desenhar seus currículos segundo suas prioridades e contexto de atuação.
Os novos modelos curriculares devem estimular a experimentação e dar protagonismo aos alunos no processo de aprendizagem e desenvolvimento de competências técnicas e socioemocionais. O documento produzido pela comissão busca contribuir para acelerar o processo nas escolas de Engenharia de todo o país.
Durante o lançamento, o presidente do CNE, Luiz Roberto Curi, destacou que as novas Diretrizes surgem em um contexto de muitos desafios a serem enfrentados para modernizar os cursos de Engenharia.
“São muitas as questões relevantes e desafiadoras: temos de combater a desistência, ampliar o número de egressos, formar engenheiros em massa, que sejam bons engenheiros, capazes de transformar a economia, que sejam inovadores, e ampliar em escala a taxa de inovação por meio das Engenharias”, defendeu Curi. “Temos de garantir ao estudante boas condições de ingresso e permanência e quem garante isso é a boa política educacional curricular.”
Resolução de situações-problema concretas
O documento lançado nesta segunda-feira (15) enfatiza a importância da aproximação dos cursos de Engenharia com os diferentes atores da sociedade, que podem oferecer parâmetros sobre a qualidade da formação oferecida e das necessidades e tendências futuras. O texto apresenta boas práticas de interação entre cursos e ambiente de trabalho – boa parte inventariada em publicação da CNI, elaborada no âmbito das atividades do GT de Engenharia/STEAM da MEI, em prol de uma formação mais qualificada e por competências.
Entre as iniciativas que as instituições de educação podem adotar estão a participação de empresas nos conselhos consultivos de cursos ou instâncias de decisão para definição de competências desejadas dos futuros profissionais; o fornecimento pelas empresas de subsídios para o currículo baseado em competências demandadas pelo mercado de trabalho, bem como a apresentação de problemas concretos para os alunos, como material de base para os Projetos de Conclusão de Curso, entre outras.
Parte dessas práticas tem sido adotada para reformular o curso de Engenharia da Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), contou o diretor da Escola de Engenharia, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho. A universidade criou, por exemplo, a partir da ideia dos próprios alunos, um portal no qual empresas incluem desafios a serem explorados em diferentes disciplinas ou no Projeto de Conclusão de Curso.
“A lógica é a existência de desafios reais. Isso dá um senso de propósito muito melhor. Todas as horas que eram utilizadas p ara fazer trabalhos de conclusão de curso que ficavam apenas na estante podem ser utilizadas em algo que faça valor na experiência do estudante e para a empresa”, explicou o diretor.
Durante o evento, o gerente de gestão de Inovação Tecnológica da multinacional WEG, Sebastião Nau, também relatou a experiência da empresa na formação complementar de seus engenheiros. Segundo ele, o perfil que empresa deseja é de um profissional com conhecimento técnico específico; sólido embasamento em física, química e matemática; que seja criativo e dinâmico, disciplinado e perseverante.
“Acreditamos que a instituição de ensino deve priorizar o conhecimento e não o treinamento. Temos de fazer com que engenheiro saia da universidade com conhecimento que possa ser utilizado para se desenvolver cada vez mais, prover meios para o aperfeiçoamento contínuo”, defendeu.
Participaram ainda do lançamento do documento o presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), Vanderli Fava de Oliveira, e o presidente em exercício do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Osmar de Barros Júnior. As duas instituições participam da Comissão Nacional para Implantação das Diretrizes Curriculares de Engenharia.
Seis aspectos devem receber atenção constante
O documento produzido pela Comissão aponta seis aspectos que devem receber atenção constante e prioritária da academia, da indústria e dos conselhos profissionais:
1) Existência de docentes e dirigentes engajados na elaboração de projetos de formação inovadores e flexíveis;
2) Desenvolvimento e/ou revisão dos currículos, tendo como ponto de partida as competências desejadas para os egressos;
3) Aprendizagem ativa, com ênfase no papel central do aluno em sua formação;
4) Mudança no processo de avaliação dos alunos, que permita melhoria contínua no Projeto Pedagógico do Curso;
5) Adequação dos processos de avaliação e regulatórios, como do Ministério da Educação (MEC), à lógica de formação por competência e da articulação com o setor produtivo;
6) Fortalecimento das relações das instituições de educação com o mercado e a sociedade.
De acordo com a Comissão, espera-se que o documento seja tanto uma referência às instituições de educação na definição de seus planos de curso, tendo como foco uma formação contextualizada e guiada pela prática, como estímulo às empresas para que participem da formação dos futuros profissionais.
“Há a expectativa de dar suporte ao setor empresarial na construção do diálogo e do relacionamento com as IES, uma vez que são apresentados aspectos que caracterizam boas práticas de educação em Engenharia que devem ser demandados e apoiados pelas empresas”, complementa o texto.