De repente, professor: conheça histórias de profissionais que caíram de paraquedas na docência

Sushiman, joalheiro, jogador e militar. No Dia do Professor, a Agência de Notícias da Indústria te conta a história de quatro profissionais que fizeram da sala de aula seu novo ambiente de trabalho

Os peixes deram lugar aos livros, a quadra de futsal se transformou em sala de aula, mãos que lapidavam joias agora também ensinam e quem vestia farda e coturno, hoje, usa jaleco em laboratório. 

No Dia do Professor, a Agência de Notícias da Indústria reuniu quatro histórias inusitadas de docentes do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional da Aprendizagem (SENAI) que trabalhavam em outras áreas, decidiram mudar de vida e, de repente, se tornaram professor.  

Um olho no peixe e outro na ciência 

Tem o Elvis Presley, rei do Rock and Roll, e tem o Elvis Estilak, 34 anos, o rei do sushi. Nascido em São Paulo, a sua primeira oportunidade de trabalho foi como sushiman, área em que atuou por 12 anos. No entanto, nunca deixou de lado o desejo de ser professor. 


“Sempre tentei o vestibular e quase passava. Nesse tempo, comecei a trabalhar, mas não desisti da universidade. Na quinta tentativa, passei. Sempre fui deslumbrado pela docência, não que não gostasse da cozinha, ainda é uma paixão, mas sentia que o meu lugar era na sala de aula”, relata. 


Elvis trabalhava o dia todo como sushiman em um shopping e, à noite, ia para as aulas do curso de ciências biológicas. Hoje, ele é professor de biologia no SESI de Juazeiro do Norte, Ceará. 

O paulista leciona para alunos do ensino fundamental e do novo ensino médio. Além do itinerário de ciências da natureza, ele comanda as aulas de educação tecnológica e é técnico da FIRST LEGO League (FLL), uma das categorias de robótica educacional.  

“Gosto de passar conhecimento. Na época em que era sushiman e estudava sobre culturas e receitas, gostava de compartilhar com os meus colegas de trabalho o que aprendia”, destaca. 

Hoje, cozinhar virou apenas um hobbie, que ele compartilha com amigos e familiares para confraternizar. 

Do combate nas fronteiras para a sala de aula 

Diferentemente de Elvis, a docência para Francisco Rodrigues Lima, 55 anos, não era um sonho e nunca fez parte dos seus planos profissionais. 

Piauiense, R Lima, como é mais conhecido, começou a trabalhar muito cedo. Aos 12 anos, já vivia o dia a dia de construções de casas e prédios, ajudando o pai, mestre de obras. Com 15, era auxiliar de serviços gerais. Três anos depois, se alistou no Exército e seguiu a carreira militar. 

Fez missões por todo o país, conheceu diferentes culturas, trabalhou em fronteiras e aposentou-se após 26 anos de serviço. Na sua época, o tempo estipulado para aposentadoria era de 30 anos. Por ter trabalhado desde muito jovem e ter servido em regiões de fronteiras, o que reduz o tempo de serviço pelo alto risco, ele deixou as Forças Armadas um pouco antes. 

Parar não era o plano na aposentadoria, mas aposentados militares têm restrições quanto às áreas em que podem atuar se quiserem seguir trabalhando, com exceção das profissões de saúde e educação. 

Então, três anos antes de pendurar a farda, ele passou no Instituto Federal do Maranhão (IFMA). A princípio, a ideia era cursar engenharia, mas acabou entrando no curso de física. 


“Eu queria fazer engenharia, porque trabalhei desde criança em obras com o meu pai, mas em Imperatriz não tinha o curso. No decorrer do curso de física, fui me apaixonando pela coisa, fui me apegando”, relata. 


Por dividir a rotina entre os estudos e o Exército, o início foi difícil. Quando saía em missões, perdia aulas. O que era para durar quatro anos, se transformou em sete. Ele não desistiu. 

Hoje, o nome de guerra R Lima é chamado pelos seus alunos no SESI Imperatriz, onde dá aulas no itinerário de ciências da natureza do novo ensino médio. 

“A docência, para mim, é uma realização. Tenho prazer quando passo um conhecimento para frente”, declara. 

Futuro brilhante lapidado por um ofício precioso 

Rodrigo Silva era adolescente quanto decidiu frustrar o sonho da família de vê-lo formado militar. Ele trocou as aulas da base militar, no Rio de Janeiro, pelo curso de joalheria no SENAI depois de uma visita à H Stern, onde o pai trabalhava como porteiro.  


"Me encantava ver que artistas produziam belíssimas obras com materiais preciosos. O que mais me empolgava era saber que essa profissão poderia mudar a história da minha família”, conta. 


A família, no entanto, não tinha condições de bancar o curso de joalheria. A chefe de sua mãe resolveu dar uma força no sonho do jovem, morador do Complexo da Maré, considerado o maior conjunto de comunidades do Rio de Janeiro. 

Mesmo sendo um curso de qualificação, que dura apenas alguns meses, o professor do SENAI viu potencial no jovem, que recebeu treinamento para participar da WorldSkills, a olimpíada das profissões técnicas. Ele não só representou o Brasil na edição de Londres, em 2011, como voltou com medalha de ouro para casa. 

Depois disso, Rodrigo passou por um programa de quatro anos no SENAI para se tornar instrutor e gestor da área de joalheria na rede de escolas. Ele participou do treinamento dos alunos que resultou na prata da Worldskills seguinte, realizada na Alemanha. 

Hoje, após 10 anos do início dessa trajetória, o carioca tem seu escritório de joalheria, onde cria cerca de 10 peças exclusivas por mês, assinadas pela sua marca ‘Vitrine Rodrigo Silva’ e continua no SENAI, repassando seu conhecimento e experiência. 

“Os meus mestres me serviram de inspiração para um dia querer ser como eles e me tornar uma referência também para o nosso país e para os garotos que nasceram na minha comunidade e que sonham como um dia eu sonhei. Dar aula me fez imaginar que eu chegaria lá. Quando eu comecei a dar aula e via os alunos encantados, ganhando uma profissão, dinheiro, era motivador pra mim. Ali me encontrei”, lembra. 

Rodrigo atua em uma turma de jovens aprendizes, em parceria com a Romanel. São 16 alunos, com idade entre 17 e 20 anos, que estudam na unidade SENAI do Brás, Francisco Matarazzo, em São Paulo, a maior escola de joalheria da América do Sul. 

Bola na rede da educação 

No pique de jogador, William Borella, 27 anos, foi parar na sala de aula. O jovem, nascido em Concórdia, município de Santa Catarina, deixou de lado as quadras de futsal para se tornar professor. 

William treinava futsal desde os 9 anos, na categoria de base da Associação Concordiense de Futsal (ACF). Chegando à maioridade, ele teve que decidir entre a carreira de jogador ou uma profissão que desse maior retorno financeiro. 

O mundo dos esportes é uma grande aposta, pode dar muito certo ou o sonho da fama pode acabar não chegando. Filhos de trabalhadores de chão de fábrica, William precisava ajudar em casa. Pelo time, recebia uma bolsa de 250 reais. Na época, apareceu uma vaga de menor aprendiz em que ganharia mais e ele abriu mão do sonho de ser jogador. 

“Eu precisava do dinheiro pra ajudar a minha família, não tive muita opção. Me arrependo de ter parado de jogar bola na época, mas não me arrependo de ter ido para a docência. Talvez fosse algo que já iria acontecer naturalmente, se eu continuasse jogando teria feito educação física”, explica. 

Trabalhando como jovem aprendiz na empresa BRF, o catarinense soube das vagas remanescentes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Instituto Federal de Concórdia (IFC) e pensou em cursar engenharia civil, por já ter feito um curso de desenhista anos antes e por ter tios engenheiros. Porém, as vagas eram para a graduação em Física. Mesmo assim, ele ingressou, mas com a ideia de aproveitar as disciplinas e trocar de curso com o tempo.


“Só que, com o tempo, eu percebi que não só gostava de estar em sala de aula, como aquilo era o que me dava ânimo”, conta. 


Há quatro anos, o ex-jogador se tornou professor e ministra aulas de Física para estudantes do ensino médio no SESI Concórdia. 

“O papel do professor em sala de aula é muito maior do que passar um conteúdo. Se eu puder ser lembrado, além de um bom professor, como um exemplo a ser seguido pelos meus alunos, acredito que o meu papel foi cumprido. Já vai ter valido à pena a minha formação docente”, ressalta. 

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