Foi ouvindo o sexteto de cordas de Brahms que Gladson Carvalho encantou-se com a música e decidiu que seria maestro. Filho de operários, ele não teve uma trajetória fácil até subir aos palcos e reger a primeira orquestra.
A música passou a fazer parte da sua vida ainda na infância, nas aulas de formação para músico de cordas em um projeto social realizado no Serviço Social da Indústria (SESI) da Barra do Ceará, estado onde nasceu.
Pelas cordas do violino, o menino abandonou as pistas de atletismo. “Sei que a música salvou a minha vida”, declara.
Quarenta e sete anos após ter saído do SESI, o maestro retorna às salas de aula da instituição, dessa vez, como professor de música.
Batuta, partituras e melodias
Há 30 anos, Gladson realizou seu sonho de criança. Formado em Música pela Universidade Federal da Paraíba, tornou-se maestro e fundou a Orquestra de Violões da Paraíba. Seis anos depois, criou a Orquestra Filarmônica do Ceará, onde segue regente de espetáculos, que vão de peças de Beethoven e Bach a Iron Maiden e Tim Maia. Artista plástico, escritor e filósofo, Gladson também regeu concertos e orquestras na Itália.
Os espetáculos, além de promover a arte, também contam com uma ação social. “A nossa orquestra sempre aceitou livros e alimentos como ingresso, sempre acreditou na arte para salvar vidas”, destaca.
Atualmente, a orquestra conta com 50 músicos. Como Gladson, muitos deles têm origens em regiões de baixa renda no Ceará.
De maestro a mestre
Em 2022, Gladson retorna ao SESI, desta vez como professor de música. Mais de 80 alunos do SESI de Parangaba, um dos bairros de Fortaleza, aprenderão com ele a tocar flauta, violino, viola, violão e piano.
“Nasci em um projeto assim. Meus pais acompanham as minhas aulas. Aqui, também permito que as famílias participem desse momento, temos mães que tocam com seus filhos. Não é só a arte pela arte, é educação”, declara.
Dar aula é uma oportunidade para voltar aos palcos após a pandemia, quando teatros fecharam, espetáculos foram cancelados e muitos artistas ficaram desempregados.
“Nós fomos os primeiros a largar e estamos sendo os últimos a voltar. Passei dois anos sem trabalhar, sem reger a minha orquestra, carregando violinos no bagageiro do meu carro para dar aula particular nas casas”, relembra o maestro.
A arte salva
A arte não chega a todos os brasileiros. No Nordeste, onde está concentrada quase metade da pobreza do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Gladson diz que chega a ser loucura querer viver da arte.
Muitas pessoas têm desafios ainda mais básicos do que o acesso à música. “Apesar dos avanços, muitas crianças só comem na escola. Não tem como ensinar música se a criança está com a barriga vazia”.
O projeto, destinado a estudantes da rede SESI e à comunidade no geral, leva não só a música para a vida de crianças e jovens da região. Leva junto felicidade e esperança.