Programa de reabilitação de trabalhadores da GM reduz faltas ao trabalho e custos com plano de saúde

Iniciativa, com apoio do SESI, reduziu as faltas na fábrica em cerca de 40%, o número de pessoas afastadas em 50% e os usuários crônicos em planos de saúde em 30%. As mudanças ocorreram em quatro anos

Em 2018, o operador Eduardo Valenci passou quase cinco meses afastado do trabalho por causa da retirada de um cisto no ombro direito, que causava dor e dificuldade para movimentar o braço. Do tempo que começou a sentir as primeiras dores no ombro até procurar um médico, passaram-se mais de oito meses. “Quis evitar ir ao médico por acreditar que uma hora a dor ia passar. Foi um grande erro”, assume. “Se tivesse ido antes, no estágio inicial, talvez nem precisasse fazer cirurgia.”

Assim que recebeu o diagnóstico de Valenci, a equipe de saúde da GM mudou a atividade do trabalhador, já que a tarefa que executava até aquele momento – cuidar da mecânica da parte de baixo dos carros – exigia o movimento de ombros. Além disso, ele passou a ser atendido por fisioterapeuta da empresa para o tratamento pré-operatório. Mesmo após a cirurgia, que eliminou as dores, Valenci continuou sendo atendido pelos profissionais de saúde da GM e foi remanejado de função e hoje trabalha com a programação, que exige manipulação de painéis dos carros  sentado ao volante. “A equipe responsável foi super atenciosa nesse processo e a mudança foi muito positiva. Na minha nova área, todos me acolheram super bem e hoje trabalho com mais mulheres na equipe”, diz.

O responsável pelo Grupo da Montagem Geral da fábrica de Gravataí, Adriano Marques, antigo gestor de Valenci, participou ativamente desse retorno ao trabalho. E tem consciência do papel dos líderes no processo. “Na GM, recebemos capacitação para lidar com essa situação juntamente com o médico do trabalho e a equipe de Bem-estar, que cuida de toda parte ergonômica, para verificar em que outra função ele poderia se encaixar para que o problema de saúde não venha se repetir ou se agravar”, relata. “Além disso, é importante o gestor estar próximo do funcionário, passando segurança e querendo saber como ele está se sentindo.”

RECONHECIMENTO – Mais de um ano após o retorno de Valenci, que tem nível médio completo, Marques continua em contato com o antigo funcionário de sua equipe. “Independentemente da situação, o Eduardo dá ótimo retorno e hoje ele é membro do time apto a ensinar funcionários novos que chegam e o rendimento dele só melhora”, elogia. “Eu mesmo o indiquei para a promoção que ele recebeu 15 dias depois do retorno dele ao trabalho e tenho de dizer que ele já tem postura para ser um facilitador”, conta.

Depois da experiência de afastamento do trabalho, Valenci confessa que ficou mais cuidadoso com a saúde. Durante três meses continuou na fisioterapia para trabalhar a movimentação e a força nos braços e ombros e busca cumprir com mais rigor as mudanças de posições do corpo durante intervalos de tempo. “Sou mais atencioso para movimentar o corpo e não ficar na mesma posição durante muito tempo”, relata. “Na GM, já fazemos rodízios de função a cada 30 carros produzidos para evitar sobrecarga em membros e músculos.”

O programa desenvolvido pela General Motors em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) em sua unidade de Gravataí (RS) para reabilitação de colaborares com problemas osteomusculares é considerado um modelo de ação eficiente em saúde e segurança do trabalho.

Desde que a parceria foi iniciada, em 2015, as faltas na fábrica diminuíram em cerca de 40%, o número de pessoas afastadas caiu 50% e o número de usuários crônicos em planos de saúde teve redução de 30%. Além disso, a empresa teve redução no Fator Acidentário de Prevenção (FAP) de 1,7 para 1,2. Esse índice, que varia de 0,5 a 3,0, integra o cálculo de contribuição de incidência de afastamentos causados por acidentes sobre a folha de pagamento. Quanto maior o FAP, maior a contribuição das empresas para a Previdência.

Por conta disso, em novembro de 2018, o médico do trabalho Fábio Oliveira, coordenador das ações, foi convidado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RS) para apresentar o case na escola de formação de desembargadores da instituição. “A GM e o SESI já haviam trabalhado juntos em outras ocasiões, mas nos últimos três anos a parceria foi retomada mais intensamente”, ele conta. O trabalho de reabilitação foi feito primeiramente em unidades da montadora em São Paulo. Em Gravataí, o programa ganhou características especiais.

Envolvendo profissionais de educação física, nutricionista e fonoaudiólogo, o programa de reabilitação tem diferentes áreas de atuação. No primeiro momento, visou os profissionais ativos na planta, mas que apresentavam algum tipo de problema de saúde. “Agora partimos para um segundo estágio, preventivo, com visitas periódicas dos profissionais do SESI para antever fatores que possam resultar em doenças laborais”.

OUTRA INICIATIVA – Outro segmento do programa de reabilitação da GM diz respeito aos funcionários que estão afastados sob benefício do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). “Temos casos de pessoas que estão afastadas há mais de 10 anos. Nesse caso, o trabalho envolve também assistente social e psicóloga, que averiguam a disposição de cada um para a volta ao trabalho e as condições físicas, por exemplo”, afirma Fábio Oliveira.

Aliás, um dos focos da apresentação do médico Fábio Oliveira no TRT-RS foi voltado justamente para como as empresas devem se preparar para o retorno de colaboradores afastados pelo INSS. “É um problema que chamamos de limbo previdenciário, em que o profissional vai para o INSS, é devolvido à empresa, e fica indo e vindo, sem uma solução”.

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