Se, por um lado, a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 resultou no fechamento de empresas em todo o Brasil, por outro, ela abriu um leque de oportunidades tanto para empreendedores que precisaram se reinventar quanto para os que iniciaram seu negócio do zero. Os projetos que começaram para atender a demanda por novos produtos usados na prevenção e no combate ao novo coronavírus agora miram o crescimento dos negócios mesmo no pós-pandemia.
O novo cenário exigiu criatividade de profissionais como a design de moda Nadjan Bilibio, 34 anos, moradora de Floriano (PI). Recém-formada em Direito, ela planejava se engajar no mundo jurídico quando a pandemia começou. O mercado na sua nova área ficou mais difícil com a crise e, ao ver amigos procurando máscaras para comprar, a piauiense vislumbrou a oportunidade de voltar a costurar, mas desta vez produtos voltados para a pandemia.
Nadjan colocou em operação máquinas de costura que estavam guardadas há 7 anos e, logo no início, chegou a produzir 7 mil máscaras por semana, desde os modelos mais simples até os mais sofisticados, com estampas, bordados e personalizações a pedido dos clientes.
Mas, com a queda na procura por máscaras, a empresária enxergou a necessidade de oferecer um mix de produtos e, com a ajuda de uma mentoria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), passou a costurar itens como aventais, jalecos e macacões hospitalares.
Hoje, em sua empresa, a Higienize, Nadjan trabalha com mais três costureiras e consegue um faturamento próximo a R$ 12 mil por mês. Os clientes vão desde pessoas físicas, passando por supermercados, farmácias, funerárias e até mesmo uma empresa na área de fertilizantes.
Por meio da mentoria do SENAI, Nadjan disse que desenvolveu habilidades como organizar sua pequena fábrica e trabalhar a marca de seus produtos, incluindo desde a etiquetagem até a divulgação nas redes sociais.
“Eu já conhecia muitas pessoas na cidade e percebi um novo nicho de mercado, que deu certo. Agora, meus planos, mesmo quando a pandemia acabar, são abrir uma loja física e passar a vender meus produtos no e-coomerce”, diz a empresária, que pretende também conciliar a carreira jurídica com as atividades da empresa.
O diretor de Operações do SENAI, Gustavo Leal, ressalta que o programa de consultoria lean possibilitou novos cenários de oportunidades para várias empresas e durante a pandemia foi um momento oportuno para que elas buscassem transformação e aperfeiçoamento dos processos e eficiência de uma forma geral.
“É preciso ver este momento não como ameaça, mas como uma grande oportunidade de tornar o setor industrial mais produtivo e inovador. Ajustar, mapear fluxos e processos contribuem para que a indústria se torne mais produtiva e competitiva”, afirma.
Cachaçaria passa a produzir álcool 70%
A pandemia também fez com que a Cachaçaria Jiboia, famosa no estado do Acre por uma bebida com o mesmo nome da fábrica, passasse a produzir álcool 70% líquido e em gel. Sócio da empresa, o engenheiro Jackson Soares, 46 anos, explica a crise desencadeada pelo novo coronavírus adiou o lançamento de uma nova bebida da marca, planejado para março de 2020.
No lugar do novo destilado, a fábrica, localizada em Acrelândia, usou a plantação de cana-de-açúcar que estava pronta para ser colhida para a produção de álcool líquido. Com a mentoria do SENAI, a empresa aprimorou a sua produção e passou a fornecer também álcool em gel.
“Nós tínhamos um estoque de cana-de-açúcar e, como vimos que faltou álcool 70% em todo o estado do Acre, em vez de lançar a nova bebida, passamos a produzir o álcool”, afirma.
Inicialmente, a empresa produziu álcool para realizar doações. Ao todo, a cachaçaria doou 5 mil litros do produto para hospitais, unidades do SAMU, para a manutenção de atividades de pesquisa na Universidade Federal do Acre e para unidades do Exército e dos Bombeiros. Depois das doações, a empresa vendeu outros 5 mil litros de álcool.
“A pandemia mostrou que poderíamos, com nossos equipamentos e matéria-prima, oferecer um produto a mais. O SENAI nos ajudou na qualificação, para aprendermos a usar os aditivos para a produção do álcool em gel, e o resultado foi positivo”, disse.
O novo nicho de negócio levou a Cachaçaria Jiboia a criar mais oito empregos diretos. Além disso, destacou Soares, a produção incentiva a plantação de cana-de-açúcar por pequenos agricultores, com um impacto indireto sobre a economia local.
Agora, a cachaçaria pretende não apenas lançar as bebidas antes planejadas para 2020, mas também manter e expandir a produção de álcool líquido e em gel 70%. Para isso, o investimento planejado é de R$ 500 mil até o fim de 2021. A expectativa é vender 70 mil litros de álcool 70% por ano.
“A crise foi muito forte para todos, mas crises geram oportunidades. No início, pensamos até em fechar o negócio, mas preferimos investir e o resultado foi ótimo”, afirma o empresário.