Professor de Harvard diz que falta coragem política para melhorar qualidade da educação

Roland Fryer diz que países sabem quais estratégias adotar para melhorar a qualidade da educação, mas não implementam ações

"Acredito que é muito difícil aprender matemática ou química, se você não acredita que vá utilizar isso no trabalho" - Roland Fryer

Roland Fryer é professor de Economia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Lá, coordena o Laboratório de Inovação em Educação, onde realiza pesquisas sobre impactos da qualidade da educação. Antes disso, coordenou a área de equidade do Departamento de Educação da cidade de Nova Iorque entre 2007 e 2008. Nesse período, ele desenvolveu e implementou uma série de ideias inovadoras voltadas à motivação de estudantes e ao pagamento de professores pela melhoria de seu desempenho.

Ele foi o convidado para proferir a palestra magna no seminário que antecedeu a apresentação do projeto Educação para o Mundo do Trabalho, realizado na Confederação Nacional da Indústria (CNI), no dia 30 de outubro.

Fryer defende que boas escolas podem corrigir diferenças entre estudantes e que os países sabem que estratégias adotar para melhorar a qualidade da educação que ofertam. O desafio, segundo ele, está em reunir coragem política para implementar as ações. Depois da conferência realizada em Brasília, ele conversou com o Portal da Indústria. Veja, a seguir, os principais trechos.

PORTAL DA INDÚSTRIA – Assim como os Estados Unidos, o Brasil é um país de grandes dimensões e também grande diversidade. Quais são os principais desafios para promover a educação nessa realidade? 

ROLAND FRYER – Nós sabemos o que e como devemos fazer. Não importa a diversidade que exista no país. Há diversidade de recursos, de escolas, da situação entre os estudantes. As crianças com que lido são as de escolas públicas e carentes, as crianças vêm de grupos minoritários e os resultados acadêmicos são muito parecidos os do Brasil. O que eu descrevo na minha pesquisa é que melhores professores e mais tempo ao ensino são o senso comum. Não se trata de uma mágica. São estratégias que podem ser adotadas em qualquer lugar do mundo nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países. O problema é que isso é politicamente complicado. Os Estados Unidos ficaram dando voltas e não enfrentaram o problema e isso é muito frustrante. O principal desafio é ter a coragem política para fazer.

PORTAL DA INDÚSTRIA – Na sua apresentação, o senhor citou algumas medidas como pagar para que estudantes leiam livros, por exemplo. Aqui, o programa Bolsa Família coloca entre suas condicionalidades a matrícula na escola. Na sua opinião, qual o mais importante passo depois deste para se conseguir oferecer educação de qualidade? 

FRYER – Eu acredito que o Brasil e outros países da América Latina fizeram bem ao adotar esse tipo de política. Isso aumenta o acesso à educação e isso é importante. A chave agora não é acesso, mas qualidade. Qualidade é difícil. É mais fácil garantir acesso à escola do que, por exemplo, ter professores fantásticos numa sala de aula.

PORTAL DA INDÚSTRIA – Como a indústria pode ajudar na construção de uma educação de mais qualidade no Brasil? 

FRYER – Acredito que - com uma economia vibrante, que ajude os estudantes entenderem que existe um mundo diferente longe da academia - é muito difícil aprender matemática ou química, se você não acredita que vá utilizar isso no trabalho. É tolo pensar que as pessoas vão estudar apenas pelo fato de isso ser o certo. Elas vão estudar para comprar coisas, comprar sua casa. A indústria também pode estar mais envolvida nas políticas para aumentar a qualidade da educação. Os empresários podem demandar melhores escolas, porque eles precisam de força de trabalho. Para o Brasil crescer e prosperar, vai precisar de capital humano de qualidade. O melhor investimento que um país pode fazer em relação a isso é em seu próprio povo e a indústria pode liderar esse processo.

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