O preço da eletricidade é determinante para a competitividade da indústria. Apesar de ter uma privilegiada situação para gerar energia limpa e barata, o Brasil apresentava uma das mais elevadas tarifas de energia do mundo. Esse cenário mudou com a Medida Provisória no 579, em 2012, mas os efeitos benéficos da norma têm sido anulados por desequilíbrios no setor elétrico. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende medidas no curto e médio prazos e garantir o fornecimento de energia a tarifas competitivas para as empresas no futuro.
As propostas estão no estudo "Setor Elétrico: uma agenda para garantir o suprimento e reduzir o custo de energia", que foi entregue aos candidatos à Presidência da República. A CNI avalia que a aprovação da MP 579, que aproveitou o fim das concessões de usinas hidrelétricas e sistemas de transmissão para reduzir tarifas de energia elétrica, foi benéfica para a indústria e para o consumidor. Na ocasião, conseguiu-se uma redução de R$ 57/MWh, o que correspondia a 20% da tarifa média de todas as distribuidoras (R$ 280/MWh) para os consumidores no mercado regulado (ACR).
Os efeitos positivos da medida, porém, têm sido subtraídos, principalmente, pela combinação de dois fatores: a descontratação de demanda – o que obrigou distribuidoras a comprarem energia no mercado à vista, mais caro – e o esvaziamento dos reservatórios, o que exigiu o acionamento de todo o parque térmico de geração, desde o fim de 2012. Juntos, esses dois eventos acarretaram despesas extraordinárias para o setor, e esses custos terão de ser repassados às tarifas de energia até 2015.
O documento da CNI aponta as possíveis causas dos desequilíbrios no sistema elétrico e apresenta um conjunto de proposições que podem garantir a segurança e a confiabilidade do setor no curto e no médio prazos. Em relação à baixa incidência de chuvas em regiões de reservatórios, o trabalho destaca que esse quadro se configurou, sobretudo, neste ano. Os reservatórios das hidrelétricas iniciaram 2013 com níveis elevados e foram esvaziando ao longo do ano, mesmo com o índice pluviométrico dentro da média histórica.
"A única explicação técnica que parece ser coerente com o observado desde 2012 é que a capacidade estrutural de geração (ou seja, a capacidade de produção de energia em condições hidrológicas adversas, que é o critério de planejamento do sistema) está menor que o consumo”, avalia o estudo da CNI. Os dados analisados indicam que os modelos de simulação são otimistas em relação à realidade de operação das usinas hidrelétricas.
Por isso, a CNI propõe:
- Analisar com profundidade a capacidade estrutural de geração e, caso constatado o desequilíbrio, que seja oferecido reforço na geração o mais rápido possível para restabelecer a relação saudável entre oferta e consumo de energia.
- Analisar a causa da piora nos índices de desempenho do sistema de transmissão, observada nos últimos anos, para garantir bom funcionamento futuro.
MERCADO LIVRE – O Brasil precisa contratar 13 GW médios de nova capacidade de geração (garantia física) para atender ao crescimento de demanda até 2023. Até 2030, esse total pode chegar a 40 GW médios. Isso exige que o planejamento da expansão do sistema comtemple diferentes regiões do país e segmentos de consumo. Na visão da CNI, há duas oportunidades de aperfeiçoamento do modelo, que são:
- Ampliar os parâmetros para definição de nova oferta (hoje o único critério é a menor tarifa), tais como a região em que a geração deve ser instalada, otimizando investimentos em transmissão. Além disso, deve considerar a demanda máxima de energia, e não só o consumo, no dimensionamento da oferta e prever a capacidade de cada usina produzir energia adicional em imprevistos.
- Estimular a contratação de nova capacidade pelo segmento do mercado livre (ACL), em que se inserem os grandes consumidores, como indústrias eletrointensivas. Hoje o modelo prevê expansão apenas com base na demanda do mercado regulado, destinando uma cota ao segmento ACL. Para isso, é necessário aperfeiçoar o modelo de forma a permitir a contratação de fontes, como a biomassa e a eólica, pelo mercado livre.
RESERVATÓRIOS – A gestão integrada dos recursos hídricos é essencial para garantir que o impacto da redução da vazão de rios seja dividida igualitariamente entre setor elétrico e setores da economia. Significa dizer que, ao se consolidar um sistema de gerenciamento por bacia, sejam avaliados os efeitos para abastecimento de água, irrigação, piscicultura e hidrovias e as ações sejam administradas de maneira integrada.
Parte importante dessa proposta diz respeito à questão dos reservatórios, que, nas usinas hidrelétricas, têm a capacidade de regular as vazões dos rios e, com isso, aumentar a segurança da operação do sistema e reduzir gastos com geração térmica. Além disso, os reservatórios permitem a instalação de sistemas de irrigação que asseguram abastecimento em cenário de seca e mantêm a navegabilidade de rios utilizados como hidrovias. Assim, a CNI propõe:
- Nos últimos anos, tem havido uma proibição “a priori” da construção de hidrelétricas com reservatórios de regulação, sem que haja embasamento técnico-financeiro para isso. É preciso buscar um aproveitamento racional dos recursos naturais do país, sem prejuízos aos aspectos ambientais.
O estudo Perspectivas para o setor elétrico integra o documento Propostas da Indústria para as Eleições 2014 . Elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o documento contém 42 estudos com recomendações sobre os principais temas da agenda da indústria para o desenvolvimento do país nos próximos anos. O documento foi entregue aos candidatos à Presidência da República e os principais pontos serão debatidos no dia 30 de julho entre os presidenciáveis e os empresários em encontro na sede da CNI em Brasília. Desde a eleição de 1998, a CNI entrega documento com propostas aos candidatos à Presidência.
Ao longo de mais de nove meses, a CNI promoveu debates, reuniões e consolidou propostas em conjunto com dezenas de especialistas, consultores e representantes das associações setoriais da indústria e das federações estaduais. Algumas das propostas serão apresentadas em formato de projetos de lei e atos normativos. Todos os projetos foram elaborados com base no Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, que estabelece as ações necessárias para fazer o Brasil crescer mais e melhor.
Assim como o Mapa, as propostas aos presidenciáveis são divididas em dez fatores-chave: educação; ambiente macroeconômico; eficiência do Estado; segurança jurídica e burocracia; desenvolvimento de mercados; relações de trabalho; financiamento; infraestrutura; tributação; inovação e produtividade. Com a carteira de projetos, a CNI pretende ajudar o governante eleito a aumentar a competitividade da indústria e do Brasil.
CONTEÚDO ESPECIAL - Saiba mais sobre as sugestões apresentadas pela CNI no site especial Propostas da Indústria para as Eleições 2014.