Sabe o que é a Embrapii? Ela pode ajudar a tirar seu projeto de inovação do papel!

A entidade conecta empresas e institutos credenciados em um modelo que envolve financiamento de recursos a partir dos projetos apresentados

Foram cerca de 12 meses para a ideia de um caminhão autônomo, guiado a partir de geoposicionamento que permite uma colheita mais precisa, sair do papel e permitir uma redução de perdas de produtividade da cana-de-açúcar. O projeto da Volvo com o Laboratório de Análises Lactec foi intermediado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), em um modelo de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) referência no país.

Quando o caminhão é dirigido manualmente, o motorista não consegue manter precisão total na rota e acaba passando por cima de brotos nas plantações, o que representa um dos maiores problemas nesse tipo de cultivo. No caso do caminhão autônomo, a partir do posicionamento dos pontos de plantio, é gerado um gráfico de rota, que é colocado no computador de bordo e permite maior exatidão.

Em geral, a cada cinco safras potenciais de cana, uma é perdida por pisoteamento das mudas pelo caminhão comum durante a colheita. Com a altíssima precisão de direção do Volvo VM autônomo, de 2,5 cm, é possível zerar essa perda, de acordo com a empresa. Há sete veículos em operação em fazendas de Maringá (PR). Sem abrir mão do motorista, os veículos andam sozinhos quanto estão em áreas restritas, sem trânsito, dentro das lavouras. 

A Volvo procurou a Embrapii para uma prova de conceito, que contou com apoio do Lactec. O processo de aprovação foi rápido e a equipe do laboratório ajudou a definir as partes do sistema e chegou a visitar a matriz da empresa na Suécia para aperfeiçoar o modelo. O primeiro veículo foi apresentado em 2017.

“A Embrapii dá um suporte essencial para empresas focadas em inovação. Com experiência e conhecimento especializado, a instituição atua como facilitador para validação e implementação de ideias inovadoras, que assim conseguem sair das pranchetas para trazer benefícios para toda a sociedade”, afirma Amauri Pyziak, assessor de relações institucionais da Volvo do Brasil.

Sem abrir mão do motorista, os veículos andam sozinhos quando estão em áreas restritas, sem trânsito, dentro das lavouras

O projeto desenvolvido pelo Lactec em parceria com a Volvo é uma das diversas iniciativas apoiadas pela Embrapii. Vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a organização social funciona em um modelo de compartilhamento dos riscos técnicos e econômicos em três partes. A entidade subsidia um terço dos recursos, a partir de projetos apresentados por empresas, que entram com outra parte dos investimentos juntamente com os centros de pesquisa credenciados, chamados de Unidades Embrapii.

É por isso que essa edição do Tem Solução vai explicar exatamente o que é a Embrapii, como ela ajuda a indústria a inovar e por que é tão importante para o nosso ecossistema de inovação. 

Como funciona a Embrapii?

O funcionamento é inspirado na Sociedade Fraunhofer, maior organização de pesquisa aplicada da Europa. A associação conta com 69 institutos espalhados pela Alemanha e tem orçamento anual de 2,1 bilhões de euros. Outros países que apostam na agenda de inovação, como Reino Unido, França, Austrália e Estados Unidos, também contam com instrumentos de financiamento semelhantes.

Tanto os modelos desses países quanto a experiência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com pesquisas reconhecidas internacionalmente, inspiraram a criação da Embrapii, em 2013. A organização nasceu de uma demanda do setor industrial apresentada pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI). A principal diferença entre as duas é que a Embrapa é uma empresa pública, com centros de pesquisas próprios, já a Embrapii é uma organização de direito privado, criada para fomentar a inovação por meio do credenciamento de centros de pesquisa.

Esses locais contam com equipamentos e profissionais e com competências técnicas nas mais variadas áreas e experiência em atender a demanda empresarial, uma aposta que aproveita o conhecimento e infraestrutura pré-existentes no país. 

A organização é financiada com recursos do MCTI e dos ministérios da Educação e da Saúde e cumpre a função de estimular os investimentos empresariais em inovação, necessários para o desenvolvimento econômico e social do país. Em 2021, 277 empresas foram apoiadas e 243 projetos contratados. Foram R$ 220 milhões em investimentos totais, sendo R$ 72,2 milhões de recursos não reembolsáveis da Embrapii. Também foram alavancados R$ 109 milhões de investimentos privados em inovação.

Desde a criação, a entidade financiou 1.379 projetos de inovação de 956 empresas nas 75 unidades de pesquisa credenciadas, que já resultaram em 5.166 pedidos de propriedade intelectual. Juntas, as iniciativas somam R$ 1,8 bilhão, sendo R$ 621 milhões da Embrapii, R$ 926 milhões do setor privado e R$ 346 milhões de recursos econômicos, como uso de equipamentos e infraestrutura e remuneração dos profissionais envolvidos no projeto.

A Embrapii também firmou parcerias com bancos regionais que garantem condições para que as empresas financiem sua contrapartida financeira no projeto. Já com o Sebrae, a parceria pode diminuir o investimento da startup e da pequena empresa em até 80%.

Como ter acesso à Embrapii?

Empresas industriais de todos os portes podem ter acesso à Embrapii. As companhias devem entrar em contato diretamente com as Unidades Embrapii ou Polos Embrapii IF. A negociação, elaboração e contratação do projeto são realizadas diretamente entre a empresa e a Unidade Embrapii. Como o modelo é de fluxo contínuo, não há edital para a apresentação de propostas.

Os instrumentos de apoio incluem os recursos não reembolsáveis em até 1/3 do valor dos projetos e recursos de fomento disponíveis nas Unidades e Polos Embrapii, sem necessidade de aprovação prévia na sede da organização na contratação de projetos.  O modelo também garante interação entre Unidades e Polos Embrapii para concretizar as propostas de inovação.

Além dos recursos não reembolsáveis e do compartilhamento de custos e riscos, o formato permite que a empresa tenha acesso a instituições de pesquisa e tecnologia com experiência técnica e científica, possibilitando o avanço em inovação que muitas vezes a empresa não conseguiria sozinha. É ainda um caminho com menor burocracia para a contratação.

O modelo geral conta com duas modalidades de financiamento. A primeira é voltada para projetos individuais ou cooperativos de empresas com Receita Operacional Bruta maior que R$ 90 milhões. Nesses casos, o aporte é de até 1/3 do valor do projeto com recursos não reembolsáveis.

Na segunda modalidade, o foco é em projetos cooperativos com pelo menos uma empresa com ROB igual ou inferior a R$ 90 milhões. Nessas situações, o aporte sobe para até 50% do valor do projeto com recursos não reembolsáveis. O valor restante é dividido, caso a caso, entre a(s) empresa(s) e a Unidade Embrapii.

A contrapartida da empresa é necessariamente financeira e os projetos apoiados nessas devem estar entre os Technology Readiness Levels (TRL) 3 a 6. Isso significa que é preciso estar ao menos na fase da prova de conceito, através de modelagem, simulação e experimentação. Não são aceitas propostas em fases anteriores, como ainda nas atividades de pesquisa científica, por exemplo.

A metodologia para classificação tecnológica aplicável aos projetos de inovação é incorporada na norma NBR ISO 16290: 2015 e tem como objetivo apoiar gestores na tomada de decisões relativas aos investimentos e esforços em cada etapa de desenvolvimento. Quanto mais madura está uma tecnologia, mais alto é o TRL. A escala vai de 1 a 9.

Como saber sobre mais instrumentos de inovação?

A Embrapii é um dos instrumentos de inovação que podem ser encontrados no MEI Tools, a plataforma da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que reúne as principais oportunidades para empresas brasileiras inovarem. Atualizada trimestralmente, a MEI consolida de forma clara e objetiva as principais características dos instrumentos de apoio à inovação de sua rede de parceiros, que reúne mais de 50 instituições, públicas e privadas.

No MEI Tools, a empresa pode encontrar instrumentos de diversas naturezas para apoiar seus projetos de inovação, tais como:

  • Financiamento indireto: mapeamento de incentivos fiscais, como a Lei do Bem;
  • Financiamento direto: recursos financeiros reembolsáveis ou não-reembolsáveis (como a subvenção econômica, que não exige devolução dos recursos ou pagamento de juros); 
  • Apoio técnico, tecnológico e consultivo: inclui consultorias, cursos, bolsas, acesso a laboratórios e centros de testes, premiações de projetos inovadores e apoio à parcerias internacionais para inovação.

Os instrumentos de financiamento indireto são isenções fiscais garantidas na legislação para empresas que realizam atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Ocorrem por meio de incentivos fiscais, ou seja, redução de impostos para esse tipo de atividade.

No financiamento direto, por sua vez, os recursos podem ser acessados para custear projetos executados somente pela empresa, em parceria com outras empresas ou com Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Podem ter origem pública ou privada. 

No caso dos reembolsáveis, o foco são linhas de crédito com taxas diferenciadas para projetos de inovação. As ofertas podem ser delimitadas por temas específicos ou não. Esse tipo de financiamento pode ser feito também por meio de fundos de investimento públicos ou privados que exigem participação no capital da empresa como contrapartida.

Na categoria dos recursos não reembolsáveis — que inclui a Embrapii —estão opções como a subvenção econômica, que não exige devolução dos recursos ou pagamento de juros. O dinheiro a fundo perdido pode ser oferecido para projetos individuais ou realizados em parceria com outras empresas e instituições. Também há modalidades de um tema específico e outras mais gerais.

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