Estudantes criam revestimento para semente crescer com apenas 3 ml de água

Produzido a base de água, amido de milho e alimentos descartados, o revestimento de semente permite que a planta absorva mais nutrientes e reduz os impactos da seca, principalmente na região Nordeste

Feito a partir de resíduos de alimentos, o revestimento ainda fornece nutrientes para o desenvolvimento da planta

O fenômeno da seca castiga principalmente a região Nordeste do Brasil. Todos os anos, milhares de famílias sertanejas sofrem com a estiagem. Junto com a água, a seca tira o alimento, o trabalho e a renda das pessoas. Mas, e se houvesse um jeito de garantir colheitas com muito pouca, quase nenhuma água? Há.  

América Ellen de Sousa e Rian Victor Pereira, ambos de 16 anos, são baianos e cresceram conhecendo bem as consequências da seca. Por isso, desenvolveram um revestimento que possibilita que sementes germinem 80% a mais que uma semente comum em condições de estiagem, usando apenas 3 ml de água. Feito a partir de resíduos de alimentos, o revestimento ainda fornece nutrientes para o desenvolvimento da planta. 

Quer entender como essa mágica acontece? Vem, vou te contar! 

A solução de América e Rian foi desenvolvida nas atividades do grupo de iniciação científica Bioativos, dentro da escola Serviço Social da Indústria (SESI) Djalma Pessoa, na Bahia.  


“O projeto focou em duas problemáticas comuns aqui na região: a seca e o desperdício de alimentos. Aprimoramos a técnica agrícola de revestimento de sementes, que permite que a planta cresça em solos inapropriados para ela. No nosso caso, usamos alimentos desperdiçados, que têm baixo custo também”, explica América. 


Ela conta que a ideia do projeto surgiu de um costume que aprendeu em casa. “Desde criança, meu pai me ensinou a usar o alimento todo, porque ele vem de família humilde, com muitos irmãos, então ele sabe o que a falta dessa comida faz”. 

Já Rian cresceu em meio às hortaliças. Criado numa casa cheia de plantas e com uma horta, ele emprestou seu conhecimento de cultivo. O projeto, criado em março desse ano, recebeu o Prêmio Casio na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec)

O projeto, criado em março desse ano, recebeu o Prêmio Casio na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec)

Sementinha quando nasce, espalha a rama pelo chão 

O revestimento de semente tem como base água, água destilada, açúcar, amido de milho e alimentos desperdiçados, como casca de ovo, de verduras, de banana, de maracujá e borra de café. 

Para produzi-lo, os estudantes fazem uma capinha de caramelo (água e açúcar), colocam a semente dentro e acrescentam o pó de amido de milho potencializado com o pó de um tipo de alimento, de acordo com a ilustração abaixo. 

Para transformar o amido e os alimentos em pó, os estudantes os cozinham com água, depois congelam, filtram, secam na estufa, e, por fim, os trituram. O amido de milho, além de barato, retém muita água, o que beneficia ainda mais o cultivo da semente de rúcula. A folha foi escolhida para os testes por exigir condições muito específicas de cultivo, como solos mais úmidos e temperaturas mais baixas. Tudo que as regiões marcadas pela seca não oferecem.

“O amido de milho também consegue absorver e reter nutrientes na semente, reduzindo a perda em solos não favoráveis e fazendo com que a planta cresça de forma saudável”, pontua Rian. 

O revestimento de semente tem como base água, água destilada, açúcar, amido de milho e alimentos desperdiçados, como casca de ovo, de verduras, de banana, de maracujá e borra de café

Para cada semente, um tipo de revestimento 

América e Ian fizeram testes em três tipos de solo: terra, areia branca e arenoso, os mais comuns da região Nordeste. A pesquisa incluiu a definição de qual tipo de revestimento é mais adequada para o plantio em cada solo. Na terra, é indicado o potencializador de cascas de verduras; na areia, o de cascas de maracujá; e no arenoso, a melhor opção é a casca de ovo. 


“Quando você pega uma planta que já é rica em nutrientes e coloca um revestimento desse, é fantástico, porque surgem novos nutrientes. Se você pensar nas famílias em situação de vulnerabilidade social, por exemplo, que não têm condições de comprar muitos remédios e usar produtos para se proteger, o revestimento é uma solução, porque uma planta dessa tem muito mais nutrientes, a qualidade de vida dessas pessoas pode melhorar com o consumo delas”, ressalta a orientadora Jamile Caldas. 


Todo o processo de testagem, fisiológica e bioquímica, foi realizado no laboratório do SESI, em parceria com a Universidade Estadual da Bahia (UNEB).

América e Ian testaram em três tipos de solo: terra, areia branca e arenoso, os mais comuns da região Nordeste

Menos seca, mais alimentos 

A ideia dos estudantes é fazer parcerias com restaurantes locais para conseguir o fornecimento do descarte de alimentos, conforme explica Rian: 

“O foco do nosso projeto é encapsular o revestimento de sementes e poder começar a usá-lo em larga escala nas agriculturas familiares. O intuito foi baratear ao máximo para que os agricultores possam aumentar a produção e, assim, melhorar, nem que seja um pouco, a qualidade de vida e a condição econômica daquelas famílias”. 

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