Saiba qual é a relação entre as conferências do clima e da biodiversidade

Quase simultâneas, a COP27 e a COP15 têm igual importância para reverter as catástrofes ambientais que ameaçam o planeta

A 27ª Conferência das Partes (COP27) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) foi encerrada há algumas semanas, em Sharm El-Sheikh, no Egito, com alguns avanços, ainda que tímidos, no enfrentamento à crise climática global.

Agora, está em andamento a 15ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em Montreal, que começou no dia 7 de dezembro e se encerra no dia 19.

Os dois mais importantes fóruns globais para tratar da crise climática e da perda da biodiversidade estão intimamente conectados e têm igual importância para reverter as catástrofes ambientais que ameaçam a sobrevivência na Terra, ainda que o primeiro, do Clima, venha recebendo mais atenção. 

De acordo com o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, a interface entre essas agendas ambientais vem sendo identificada há muito tempo no âmbito internacional e, por isso, devem ocupar o mesmo patamar de importância no plano multilateral e mobilizar esforços equivalentes por parte de todos os atores da sociedade – com forte protagonismo da indústria. 

“Existe essa relação e, portanto, essas agendas não devem ser tratadas separadamente: uma ação relacionada à redução de emissões de gases de efeito estufa muitas vezes pode ocasionar um impacto na biodiversidade e vice-versa”, explica.


“A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos garantem, por exemplo, a resiliência às mudanças climáticas, assim como a perda da biodiversidade intensifica a ocorrência de eventos climáticos extremos e prejudica a capacidade da natureza de regular as emissões de gases de efeito estufa”.


Quando o equilíbrio entre as diversas espécies é afetado por questões relacionadas ao clima, você coloca tudo em jogo, destaca Bomtempo. “Assim, as soluções para as ameaças à biodiversidade e para as mudanças climáticas devem ser traçadas de forma a considerar as relações entre as duas agendas”.

O IPCC e a interface entre clima e biodiversidade

A discussão em torno da relação entre clima e biodiversidade veio crescendo até que, em 2020, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) – formado por especialistas sobre o tema e ligados à Organização das Nações Unidas (ONU) – promoveu uma primeira reunião com a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), o painel de especialistas ligados à ONU para este tópico. Um relatório científico foi produzido a partir desse encontro, apontando vários pontos de interface entre o clima e a biodiversidade.


“As duas agendas têm especificidades, evidentemente, mas não podem ser tratados de maneira isolada”, reitera Bomtempo. “Caso contrário, corremos o risco de não alcançar as metas de nenhuma das duas – nem a conservação necessária da biodiversidade, nem um resultado em mudanças climáticas. É importante que as discussões sejam coordenadas. Existe um movimento cada vez maior de aproximação entre essas duas COPs; vamos percebendo essas interrelações e assim as diversas agendas vão se aproximando”, explicou.


Vale lembrar que o Brasil tem protagonismo tanto na agenda climática quanto na de biodiversidade. A eliminação do desmatamento ilegal leva à redução de gases de efeito estufa (GEE), com enormes ganhos para a proteção da biodiversidade e para quem depende de seus serviços.

O Marco Pós-2020 da CDB

O principal objetivo da COP15 é estabelecer um novo conjunto de metas por meio do Marco Global para a Biodiversidade Pós-2020, as quais estão divididas em três pilares: redução das ameaças à biodiversidade; cumprimento das necessidades das pessoas por meio do uso sustentável e repartição de benefícios; e ferramentas e soluções para a implementação do plano e integração da biodiversidade a todos os setores da sociedade.

Entre as metas do Marco está a meta sobre interrelações entre biodiversidade e mudanças do clima. A ideia é que a meta reconheça as sinergias entre as duas convenções que tratam sobre os temas, a CDB e a UNFCCC.

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