Unir as agendas de comércio internacional e economia circular é um passo essencial para garantir o desenvolvimento sustentável e inclusivo. Esse foi o ponto central do painel “Remodelando o comércio para a circularidade”, que reuniu especialistas de bancos multilaterais, governo e indústria no Fórum Mundial de Economia Circular, realizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
O debate ocorreu na manhã desta quarta-feira (14) e trouxe discussões sobre como eliminar barreiras para a circulação de produtos sustentáveis, harmonizar regras e fortalecer cadeias produtivas regionais, especialmente na América Latina.
Integração regional: a lacuna latino-americana
Leonardo Lahud, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), destacou a baixa integração comercial da América Latina e do Caribe. Segundo ele, enquanto o comércio intra-regional representa 68% do total na Europa e 55% na Ásia, na América Latina esse número é de apenas 15%.
“A gente pode ter acordos comerciais com tarifas reduzidas ou zeradas, mas comércio não é só tarifa. É também facilitação, regulação e harmonização para que os bens possam transitar entre os países”, explicou Lahud, apontando a perda de participação da região no comércio de bens manufaturados como uma oportunidade desperdiçada para impulsionar a circularidade.
Harmonização de regras e cadeias globais
Emmanuel Chaponnière, chefe da Divisão de Economia Circular e Desenvolvimento Sustentável do Banco Europeu de Investimentos (EIB), disse que cadeias produtivas globais exigem a integração de critérios de circularidade nas regras de comércio.
Ele compartilhou exemplos da União Europeia (UE), como a harmonização de padrões para produtos de base biológica e iniciativas como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM) — instrumento da UE para aplicar um preço ao carbono emitido na produção de bens importados pelo bloco — e o Passaporte Digital do Produto (DPP), que estabelecem parâmetros para produtos circulares e influenciam as cadeias globais.
“Ao inserir regras de circularidade no sistema de comércio, criamos um campo de jogo mais equilibrado para produtos circulares, que hoje enfrentam desvantagem frente aos produtos lineares”, apontou.
Papel do Brasil na governança global
Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), trouxe uma reflexão sobre a lacuna nas regras globais. “A OMC não conta com um acordo estruturado sobre comércio e desenvolvimento sustentável. Se quiser recuperar relevância, precisará avançar nessa agenda”, afirmou.
Ela citou a atuação do Brasil na presidência do G20 no ano passado, que resultou na adoção dos Princípios do G20 sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável, como um exemplo do protagonismo do país na construção de uma nova governança global para a sustentabilidade.
Indústria como vetor de transformação
Rafael Cervone, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), defendeu que a indústria nacional tem papel estratégico na transição para a economia circular. Ele citou projetos de inovação do SENAI em bioeconomia no ramo têxtil e ressaltou a importância de integrar pequenas e médias empresas a essa agenda.
“A circularidade precisa ser integrada às cadeias produtivas, especialmente com o apoio de iniciativas regionais que fortaleçam nossa capacidade de competir e inovar”, concluiu.
WCEF2025
O Fórum Mundial de Economia Circular é organizado por Fundo Finlandês de Inovação (SITRA), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).