Izabella Teixeira defende debate sobre “land transition” no Fórum Mundial de Economia Circular

Ex-ministra propõe que Brasil lidere debate global sobre uso da terra como eixo estratégico para segurança alimentar, mineral e energética

A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira defendeu nesta quarta-feira (14) que o Brasil lidere um debate global sobre a transição do uso da terra (land transition), como parte do legado da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), que vai ocorrer em novembro em Belém, no Pará.

A proposta foi apresentada em sua palestra de abertura no segundo dia do Fórum Mundial de Economia Circular, realizado no Parque Ibirapuera, em São Paulo. 

Ao abordar os desafios da descarbonização, Izabella destacou que a discussão internacional não deve se limitar ao conceito tradicional de transição energética (energy transition). Para ela, o desafio é promover a adição de novas fontes de energia (energy addition), ampliando a matriz energética global de forma coordenada e segura.

Natureza como aliada no desenvolvimento

A ex-ministra explicou que discutir land transition significa ir além da pauta do desmatamento, abrangendo também segurança alimentar, mineral e energética. Nesse contexto, a eficiência no uso de recursos naturais passa a ser central para a construção de soluções de desenvolvimento sustentável, com a natureza como grande aliada.

De acordo com Izabella, todas as soluções para descarbonização e eletrificação são intensivas em recursos naturais e energia, o que exige uma nova visão de desenvolvimento, capaz de integrar as agendas econômica, ambiental e geopolítica.

Comércio, cadeias de valor e competitividade

Outro ponto enfatizado por Izabella foi a necessidade de alinhar políticas públicas, cadeias de valor e comércio internacional. Ela ressaltou que não se trata apenas de discutir quem produz petróleo, mas também de refletir sobre quem consome e quais os impactos dessa demanda sobre a segurança energética global (energy security).

“A pergunta que está na mesa não é só sobre quem produz, mas sobre quem consome, quem compra petróleo no mundo. E aí entrou, ou melhor, voltou a agenda de energy security”, destacou.

Izabella defendeu que o Brasil tem potencial para ser um provedor de soluções sustentáveis, mas que isso depende de uma relação mais eficiente e estável entre setor público e privado. Entre os desafios, ela citou a necessidade de regulação transparente, previsível e de longo prazo, evitando retrocessos a cada ciclo eleitoral.

Brasil como articulador de soluções globais

A ex-ministra também ressaltou a vocação histórica do Brasil para atuar como articulador de soluções globais, citando como exemplo o fato de o país manter relações pacíficas com seus vizinhos há centenas de anos. Essa característica, segundo ela, é um ativo estratégico para a reinserção internacional do Brasil em um cenário global cada vez mais complexo.

Por fim, Izabella defendeu que o debate climático seja conduzido com pragmatismo e visão estratégica, sem se deixar levar por narrativas de ameaça que polarizam e esvaziam o debate.

“Eu não gosto de narrativa sobre ameaça, acho que isso só polariza e esvazia. Ninguém que vive com medo pode achar que constrói alguma coisa. Então não pode ter medo, tem que ter capacidade de enfrentar”, afirmou.

WCEF2025

Fórum Mundial de Economia Circular é organizado por Fundo Finlandês de Inovação (SITRA), Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo  (FIESP) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

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