Cerca de 80% dos resíduos encontrados nos oceanos têm origem nas cidades

É o que aponta relatório internacional que será lançado no Fórum Mundial da Água. No Brasil, 2 milhões de toneladas de resíduos por ano chegam aos oceanos, volume equivalente a 30 estádios do tamanho do Maracanã (RJ), da base até o topo

A Associação Internacional de Resíduos Sólidos (International Solid Waste Association - ISWA), em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), representante da entidade no Brasil, lança durante o Fórum Mundial da Água, que acontece até  23 de março em Brasília, estudo que mostra a gravidade da poluição marinha decorrente da falta de boas práticas na gestão de resíduos sólidos nas cidades. O relatório destaca que os oceanos recebem anualmente mais de 25 milhões de toneladas de resíduos, e que cada tonelada de resíduo não coletada em áreas próximas aos recursos hídricos representa o equivalente a mais de 1.500 garrafas plásticas que vão parar no mar.

A publicação da ISWA traz uma estimativa de que entre 500 milhões e 900 milhões de toneladas de resíduos não são coletadas no mundo, e chama atenção para o fato de que a falta de um correto gerenciamento de resíduos tem gerado um enorme passivo no ambiente marinho, cujos fragmentos eventualmente se transformarão em micro e nanopartículas, que estão além das nossas habilidades para controlar, mas causam um imenso impacto negativos nos oceanos.

"O lixo existente no ambiente marinho já é um desafio global semelhante às mudanças climáticas. E o problema, que vai muito além daquilo que é visível, está presente em quase todas as áreas costeiras do mundo, trazendo desequilíbrio tanto para a fauna e flora marinhas e comprometendo esse recurso vital para a humanidade”, observa o presidente da ISWA, Antonis Mavropoulos. 

De acordo com o estudo, cerca de 80% dos resíduos encontrados nos mares e oceanos têm origem terrestre, ou seja, resultam da ineficiência dos serviços de gestão de resíduos nas cidades ou são fruto direto da irresponsabilidade da população, que descarta qualquer coisa de maneira indiscriminada no meio ambiente. 

Além dos dados gerais, o relatório também ressalta que, para cada tonelada de resíduo de plástico descartado, até 7 kg vão parar nos oceanos, volume que se perde entre a coleta e a disposição. “O documento analisa como a falta de infraestrutura e práticas inadequadas de gerenciamento de resíduos, particularmente em países em desenvolvimento, são uma falha sistêmica fundamental na luta contra o lixo marinho”, ressalta o diretor presidente da ABRELPE, Carlos Silva Filho.

POLUIÇÃO MARINHA NO BRASIL - No Brasil, cerca de 2 milhões de toneladas de resíduos vão parar nos oceanos todos os anos, segundo levantamento feito pela ABRELPE a partir das considerações do estudo da ISWA. Esse volume equivale encher 7mil campos de futebol ou 30 estádios do Maracanã (RJ), da base até o topo. A quantidade, no entanto, pode ser ainda maior, já que as 30 milhões de toneladas de lixo que seguem para unidades de destinação inadequada, ou seja, lixões e aterros controlados que ainda existem em todo o país, podem acarretar um acréscimo de 3 milhões de toneladas de lixo marinho a cada ano.

“A existência dos lixões viola princípios básicos de direitos humanos, contribui para a poluição dos recursos hídricos e desperdiça mais de R$ 5,5 bilhões por ano de recursos públicos destinados à recuperação do meio ambiente e ao tratamento de problemas de saúde. Com menos da metade desses recursos, o país poderia fechar todos os seus lixões e modernizar significativamente o sistema atual de gestão de resíduos”, analisa o diretor presidente da ABRELPE. 

Se os milhares de resíduos sólidos provenientes dos plástico que chegam aos oceanos pela costa brasileira fossem encaminhados para processos de reciclagem, haveria uma economia de, no mínimo, 3,6 milhões de litros de gasolina, e os recursos naturais da Terra teriam tempo de vida útil maior, contribuindo para o não esgotamento dos ecossistemas, que hoje são consumidos à exaustão e de maneira muito acelerada.

O relatório comprova que as ações locais de gerenciamento de resíduo (ou a falta delas) têm um impacto global nos recursos hídricos de forma que, sem uma ação para financiamento efetivo dos serviços de limpeza urbana,  não será possível eliminar a crise de lixo marinho. "O financiamento dos serviços de gestão de resíduos sólidos é uma questão fundamental para a melhoria das condições ambientais, proteção da saúde e do bem mais precioso da humanidade: os recursos hídricos. Caso contrário, os impactos negativos crescerão em ritmo exponencial, comprometendo e tornando demasiado onerosa qualquer iniciativa futura de recuperação”, conclui o porta-voz da ISWA no Brasil, Carlos Silva Filho.

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