Quando o assunto é propriedade intelectual, conceitos como patente, indicação geográfica, desenho industrial e topografia de circuitos integrados despertam dúvidas em muita gente. Considerado complexo até mesmo por especialistas, o tema requer atenção ao ser divulgado para o público, que deve se informar cada vez melhor para saber como é feita a proteção jurídica de empresas, inventores e artistas. Para isso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) promoveram a 3ª Oficina de Propriedade Intelectual para Profissionais de Comunicação Social. O evento aconteceu nesta terça (6), na sede da CNI, em São Paulo.
O coordenador de Comunicação Social do INPI, no Rio de Janeiro, Marcelo Chimento, falou sobre o papel da imprensa na informação e na formação de opinião diante do tema propriedade intelectual. “A falta de conhecimento mais avançado no assunto e o fato de ele ser técnico leva à simplificação de termos, e essa simplificação pode acabar sendo malfeita. Ou, então, o assunto não é divulgado por ser tão específico. Nosso propósito é engajar os veículos de comunicação na transmissão correta dos conceitos relacionados à propriedade intelectual”. Na oficina, Chimento também deu dicas aos jornalistas sobre como encontrar personagens para reportagens sobre o assunto, além de tópicos para pautas.
Profissionais de diferentes instituições participaram do workshop interessados em aprender mais sobre propriedade intelectual. Luiz Deganello trabalha na TV Cultura desde 1973 e é diretor de programas na rede de televisão. Ele se inscreveu na Oficina para levar o conhecimento adquirido para o trabalho. “Nesse momento, estou trabalhando com o acervo da TV, que é riquíssimo. Me interessei muito em saber sobre a questão dos direitos autorais, que são complexos, e o que poderia fazer para aproveitar esse acervo e propor projetos para a diretoria. É um assunto que pede cuidado”, explica.
Mas o workshop também atraiu empresários e empreendedores em busca de conhecimento sobre registros de marcas, por exemplo. Formada em Comunicação Social e pós-graduada em Gestão de Vendas e Negociação, Carla Malvazzio participou do workshop para se preparar para abrir uma empresa. “A ideia de vir aqui foi aprender como funciona o registro de marca e a importância de se ter uma marca para o empreendedor. Até mesmo no dia a dia, a gente conhece pessoas que estão indo por esse caminho e não sabem como fazer, então, é uma forma também de ajudar. Vim atrás de conhecimento”, conta.
No evento, os palestrantes reforçaram a importância do sistema de propriedade intelectual para a inovação. Para o diretor executivo do INPI, no Rio de Janeiro, Mauro Maia, falta conhecimento sobre a relevância da inovação para o desenvolvimento econômico e social do país. “Eventos como esse ajudam a disseminar conhecimento sobre o assunto no Brasil. Muitos empreendedores não sabem, por exemplo, como registrar marca e a importância disso para os negócios”, afirma.
PALESTRA - Além da discussão sobre o papel da comunicação na difusão de conhecimento em propriedade intelectual, o evento contou com a participação da cientista brasileira Joana D’arc Félix, cuja trajetória de vida impressionou e emocionou os participantes. A pesquisadora e professora, que tem 15 patentes concedidas no Brasil e em 30 países, enfrentou um árduo caminho para estudar e ter sucesso no mundo da ciência. Joana passou fome na infância e na adolescência, e sofreu diversos tipos de preconceito, até se tornar doutora em química precocemente, quando tinha 24 anos. “Tirei forças do preconceito que sofri para seguir adiante”, diz.
Joana é professora de química na Escola Técnica Estadual Professor Carmelino Corrêa Júnior (ETEC) e mostra que desenvolver tecnologia de ponta não é exclusividade de grandes universidades e centros de pesquisa. Junto com os alunos, produz pesquisas que levaram à criação de tecnologias e, posteriormente, a novas patentes. “Meu objetivo foi levar a iniciação científica para esses jovens a fim de reduzir a evasão escolar. Isso desperta a curiosidade dos alunos, eles desenvolvem o raciocínio lógico e aprendem a interpretar texto”, explica.
Por meio das patentes, Joana conseguiu proteger os inventos desenvolvidos na ETEC e conquistou, não apenas dezenas de prêmios, mas também benefícios para a instituição e para os alunos. “O maior prêmio que eu ganhei na vida foi o poder de transformação social. Só por meio da educação é possível mudar de vida”, finaliza.