Vencedor da eleição presidencial não será quem tem mais dinheiro e estrutura partidária, diz diretor do Eurasia

Para Christopher Garman, o descontentamento da classe média com o cenário político e o forte alcance das mídias sociais terão grande influência nas eleições 2018

Tempo de televisão, dinheiro, palanque eleitoral e estrutura partidária não serão os pontos centrais para a definição das eleições presidenciais de 2018. A avaliação é do diretor das Américas do Eurasia Group, Christopher Garman. Para ele, todas essas variáveis são importantes, mas menos que nas eleições passadas. Entre os fatores que farão a diferença, o especialista aponta o descontentamento da classe média com o cenário político, a influência das mídias sociais, a proibição de doações eleitorais por empresas e o fato de a campanha ter sido encurtada de 90 para 45 dias.

Garman participou nesta terça-feira (3) do Encontro Nacional da Indústria (ENAI), em Brasília, onde fez palestra sobre as tendências e cenários para as eleições 2018. Segundo ele, o pleito presidencial no Brasil seguirá as recentes tendências verificadas nos Estados Unidos, onde Donald Trump foi eleito, e da Europa e América Latina, que viram candidatos de direita vencerem. O diretor do Eurasia mencionou também a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, conhecida como “Brexit”.

De acordo com Chistopher Garman, há uma boa notícia em relação aos potenciais candidatos que disputam com chances efetivas as eleições: “é que o caminho para fazer uma reforma da Previdência está ficando mais fácil”. Na avaliação dele, de um ano e meio para cá o cenário mostra uma tendência cada vez maior de o próximo presidente da República levar adiante a reforma previdenciária. “Todas as lideranças começaram a bater nessa tecla de reforma da Previdência. Todos os presidenciáveis também vão abordar nesta eleição o combate aos privilégios, como os de servidores (em relação a benefícios previdenciários)”, afirmou.

Segundo o especialista, pela primeira vez numa eleição presidencial brasileira, a corrupção se tornará um atributo prioritário.

CENÁRIOS – Na avaliação do especialista, diante do descontentamento dos eleitores, principalmente da classe média baixa brasileira, os candidatos tradicionais ficarão para trás na corrida eleitoral. Garman mencionou que esse descontentamento é tão alto ou maior que nas eleições de Donald Trump nos Estados Unidos. Segundo ele, pela primeira vez numa eleição presidencial brasileira, a corrupção se tornará um atributo prioritário.

O especialista dividiu os pré-candidatos ao Palácio do Planalto em três grupos. O primeiro, que ele classifica como os “quase reformistas”, inclui Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos). O segundo, dos “reformistas”, é formado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB). E o terceiro, dos antirreformistas, está composto por Ciro Gomes (PDT) e pelo candidato que o PT vier a lançar.

“Provavelmente, o candidato que tem mais chance de ir para o segundo turno é o Jair Bolsonaro. Excluindo o ex-presidente Lula, nenhum candidato tem índice de votação espontânea acima de 2%. Bolsonaro tem mais de 10%”, afirmou Garman. Ele considera que dois candidatos teriam grande chance de ir para um eventual segundo turno nesse cenário: o candidato do PT e Marina Silva, que, na avaliação dele, venceria o segundo turno contra qualquer candidato se chegar lá.

RENOVAÇÃO NA CÂMARA – Christopher Garman disse ainda que, diferentemente das eleições presidenciais, a votação para deputados federais não levará a grandes mudanças no Parlamento. “Teremos o grau de renovação mais baixo dos últimos anos na Câmara. Motivo: a vedação do financiamento empresarial das campanhas. Os atuais detentores dos mandatos têm verba parlamentar para bancar uma boa eleição”, finalizou.

ENCONTRO NACIONAL DA INDÚSTRIA (ENAI) - Organizado desde 2006, o Encontro Nacional da Indústria (ENAI) reúne empresários de todo o país para debater questões estratégicas para o desenvolvimento do Brasil. Neste ano, o evento conta com a participação de mais de 2 mil representantes do setor industrial. Acompanhe a cobertura completa na Agência CNI de Notícias e as fotos no Flickr da CNI

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