A recuperação econômica e a atração de investimentos para o Brasil depende significativamente do ajuste nas contas públicas. Inclusive, essa deve ser a prioridade do próximo governo na avaliação do diretor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Luiz Guilherme Schymura, e do diretor-executivo do Banco Mundial, Otaviano Canuto. Eles participaram do painel Os desafios para o cenário econômico durante o Encontro Nacional da Indústria (ENAI), realizado nesta terça-feira (3), em Brasília.
Conforme Schymura, a situação fiscal brasileira se agravou devido à distribuição de renda desigual e patrimonialismo arraigados nos “donos do poder”. “O ajuste fiscal fará com que o futuro presidente tenha de encarar pautas explosivas, como novas regras para reajuste do salário-mínimo e dos salários dos servidores públicos e para estabelecimento do teto de gastos públicos”, disse. “Mesmo com desemprego grande, também terá de entrar na batalha da reforma da Previdência”, complementou Schymura.
Segundo ele, esse processo exigirá do novo governo elevada capacidade de coordenação e de negociação, sobretudo com os “perdedores”, que seriam os grupos que não teriam seus interesses atendidos. Schymura disse ainda que o setor privado terá papel central como locomotiva para o crescimento do Brasil. “Com redução do financiamento público, a iniciativa privada deverá assumir uma responsabilidade muito maior, que nunca teve antes”, declarou Schymura.
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Para Canuto, a situação fiscal é agravada pelo baixo nível de produtividade do país, por meio da criação de diversos programas em que se gastam muitos recursos, além de isenções tributárias, sem ter resultados efetivos. “O ambiente de negócios no Brasil é horroroso, pois pagamos por ativos que não adicionam valor algum às empresas e à sociedade”, afirmou Canuto.
De acordo com o representante do Banco Mundial, mais recursos em determinadas áreas, como educação e saúde, não significam mais qualidade dos serviços. “Um exemplo disso é que o país tem um dos mais altos investimentos em educação, em relação ao PIB, e tem um dos piores desempenhos no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)”, declarou. “É interessante observar uma experiência recente do governo do Ceará, que associou o aumento salarial de professores ao desempenho dos alunos.”
Encontro Nacional da Indústria (ENAI) - Organizado desde 2006, o Encontro Nacional da Indústria (ENAI) reúne empresários de todo o país para debater questões estratégicas para o desenvolvimento do Brasil. Neste ano, o evento conta com a participação de mais de 2 mil representantes do setor industrial. Acompanhe a cobertura completa na Agência CNI de Notícias e as fotos no Flickr da CNI.