Tecnologia, inovação e o futuro da moda foram temas de encontro entre profissionais do setor têxtil e de confecções

Evento ocorreu na segunda-feira, 26, no SENAI CETIQT, no Rio de Janeiro, com representantes da FIRJAN, Sebrae, IED, ANPROTEC, dentre outros

A forma de fazer e de consumir moda passa por diversas transformações. Para traçar um quadro atual e analisar o futuro do setor têxtil e de vestuário, representantes do segmento se reuniram na segunda-feira, 26, na Unidade Riachuelo do SENAI CETIQT, no 'Ciclo de Encontros com a Indústria'.

O evento contou com o painel “Visões de inovação dentro da cadeia têxtil”. O estilista Renato Cunha, autor do Blog Stylo Urbano e conhecedor de tendências e tecnologia da moda, falou sobre a movimentação que vem ocorrendo internacionalmente em torno da reciclagem de materiais para transformação em fibras têxteis. Já existem, por exemplo, pilotos de tecidos feitos com resíduos plásticos e redes de nylon descartados nos mares; além de fios feitos da caseína do leite, da borra de café, de soja e de semente da mamona. Retalhos e restos de tecidos usados na fabricação de peças – 30% do corte de uma confecção vai para o lixo – também já estão sendo reutilizados para a fabricação de novas fibras. 

O estilista apresentou ainda as tendências da "Wearable Technology" - ou “Tecnologia Vestível” – roupas e acessórios inteligentes, confeccionados com tecidos e materiais tecnológicos. É o caso dos tecidos inteligentes que captam a energia solar e cinética para alimentar os wearables instalados na trama do tecido. Essa tecnologia poderá ser usada, por exemplo, na área biomédica, para monitorar a saúde das pessoas. No ramo esportivo e fitness, também já existe um movimento de tramas com sensores que monitoram e auxiliam os exercícios físicos, como um personal trainer de inteligência artificial. Uma roupa com este tecido poderá informar, em tempo real, se o usuário está ganhando massa muscular, se está trabalhando o músculo corretamente e, ainda, se a intensidade do treino está de acordo com objetivo almejado. 

Dando sequência ao painel, Desiree Cerqueira, da Dupont, falou sobre tecnologia industrial para uso militar utilizada em tecidos com proteção balística e ainda com camuflagem infravermelha. Já Gustavo Miranda, da TNS Antimicrobial Solution, apresentou oportunidades e tendências em nanotecnologia, com soluções antimicrobianas para aplicação em tecidos e outras superfícies.

Joyce Quenca, diretora da Biodivesité, e Adriano Passos, do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos (ISI), também apresentaram cases com oportunidades em P&D para a indústria têxtil. Os dois falaram sobre a pesquisa desenvolvida no SENAI CETIQT para transformar pigmentos extraídos da casca da castanha do Brasil e do Baru em corantes industriais para tecidos.

“Estamos bem estruturados nacional e internacionalmente no ramo de cosméticos, mas no segmento têxtil estamos começando agora. Esse evento está sendo nossa mola propulsora porque estamos tendo a oportunidade de nos conectar com pessoas do ramo da moda. Queremos nos aproximar cada vez mais desses profissionais para que possamos alavancar os investimentos da empresa nessa área”, pontuou Joyce.

George Faria, pesquisador do ISI Biossintéticos, apresentou o projeto que está sendo desenvolvido na Planta de Fibras Químicas sobre um material antichama de baixo custo que usa a nanotecnologia. Para isto, emprega-se nanopartícula comercial, atóxica e de fácil incorporação à fibra, que fornece um efeito permanente no tecido. Ensaios preliminares já indicaram uma excelente capacidade do material na não propagação de chamas.

Lia Coelho, pesquisadora do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), falou sobre o ‘Cashmere Brasileiro’, criado por ela. O projeto, inédito no mundo e desenvolvido em parceria com o SENAI CETIQT, mostrou que o fio pode ser colhido de três raças de cabras encontradas facilmente no Brasil e, o que é melhor, possui qualidade superior às fibras dos grandes produtores mundiais de cashmere, como China, Austrália e Mongólia.

“Após visitar diversas fazendas de cabras, descobri que podemos coletar cashmere em sete regiões do país. No Nordeste, encontramos em Taperoá, na Bahia, o fio mais fino do mundo, com três micrômetros de espessura, contra 12 micrômetros dos principais produtores do mundo. O projeto já está concluído. Precisamos agora de um empresa investidora disposta a realizar todo o processo, desde a coleta do pêlo, a produção do fio, até a confecção do tecido e das peças”, explicou a pesquisadora.

Gilberto Petraconi, engenheiro do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), ministrou palestra em que apresentou materiais têxteis, técnicos e funcionais, como a funcionalização com plasma e sua aplicação em tecidos antichama, por exemplo.

Já o coordenador do curso de Design de Moda do SENAI CETIQT, Marco Lobo, falou sobre design, inovação e tecnologia na educação, traçando um diagnóstico do design no Brasil. Lobo comandou ainda uma mesa redonda composta por Fabiana Pereira Leite, coordenadora de Moda do Sebrae-RJ; José Aranha, presidente da Associação de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC); Yamê Reis, estilista e coordenadora do curso de Moda do IED (Istituto Europeo di Design); e Eliane Damasceno, coordenadora de responsabilidade social da FIRJAN.

“Os desafios são tão grandes que é importante a gente se reunir e colocar as instituições juntas para conversar. Então, um evento como esse, trazendo SENAI, FIRJAN, SEbrae, IED, todas as instituições que estão pensando a moda juntas, é muito rico. Muitas vezes os alunos ou jovens empreendedores querem inovar mas não sabem como fazer; logo, esse tipo de debate é essencial para florescerem novas ideias”, explica a coordenadora do Sebrae-RJ.

O presidente da ANPROTEC ressaltou, por sua vez, que “a inovação está evoluindo muito rapidamente e essa rapidez é crítica. A grande discussão no mundo é como vamos preparar o jovem para trabalhar no futuro, um futuro que a gente nem sabe qual vai ser, que está completamente em aberto. Estamos falando da quarta revolução industrial e das mudanças que essa revolução vem fazendo nos processos industriais, de produtos e de relacionamento”.

“Essa discussão é essencial porque o futuro da moda está batendo à nossa porta. Vivemos uma mudança de paradigma, de percepção da roupa, da forma como se desenha um produto, como você o fabrica e o que você faz com a peça no final do ciclo de vida dela. Todas essas questões estão sendo debatidas em nível global e o Brasil precisa entrar nessa discussão. É essencial que a gente consiga construir um caminho e passá-lo adiante para as novas gerações”, acredita Yamé Reis.

O ‘Ciclo de Encontros com a Indústria’ terminou com uma visita dos participantes do evento às instalações do SENAI CETIQT para conhecerem a planta da Confecção 4.0 e os laboratórios de pesquisa e inovação da instituição.

“O evento foi interessantíssimo. É bom ver e aprender sobre o que as empresas estão fazendo em termos de inovação, novas oportunidades de negócios e como a indústria têxtil e de confecção está evoluindo. Me interessei muito sobre os corantes naturais, pois nossa empresa trabalha com algodão e linho e é do nosso interesse seguir por essa vertente da sustentabilidade”, contou Alexandre Nogueira, diretor de Planejamento da Fábrica de Tecidos Corcovado.  

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