Por que a integração universidade-empresa é estratégica para a inovação?

Especialistas brasileiros e internacionais debateram os desafios e benefícios da parceria entre a indústria e a academia em fórum promovido pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI)

A relação entre indústrias e a academia é fundamental para o avanço da agenda da inovação no país. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) avaliam que universidades e instituições de pesquisa são componentes-chave dos ecossistemas de inovação, uma vez que essa união contribui para o intercâmbio de profissionais, o fortalecimento da pesquisa e para os processos de inovação empresarial, por meio de diferentes formatos de parcerias e estratégias de atuação.

Esses assuntos foram abordados no Fórum Nacional de Integração Universidade-Empresa, realizado nesta sexta-feira (11) pela MEI no escritório da CNI em São Paulo. O evento foi promovido em parceria com a Global Federation of Competitiveness Councils - GFCC (Federação Global de Conselhos de Competitividade, em português). Coordenada pela CNI, a MEI reúne cerca de 500 das principais lideranças empresariais com atuação no país e contribui com políticas e propostas voltadas a tornar o Brasil um país mais inovador.

O quadro jurídico que regula a relação universidade-empresa foi alterado de forma substantiva no Brasil, em 2016, com a entrada em vigor do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243). O novo marco criou instrumentos, aprimorou antigos e estabeleceu regras mais claras para a operacionalização desses mecanismos de suporte à atividade inovativa. As estatísticas mostram, no entanto, que as universidades ainda não são os parceiros mais importantes para inovação no Brasil, ao contrário do que ocorrer em países como os Estados Unidos, onde a cooperação universidade-empresa é algo já consolidado. 

Diante desse contexto, especialistas brasileiros e internacionais de universidades, instituições de pesquisa e empresas debateram os desafios e benefícios da parceria entre indústria e academia, assim como tendências e boas práticas de cooperação universidade-indústria.

A diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, lembrou que o mundo está passando por rápidas mudanças tecnológicas

A diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, observou que as universidades, indústrias e todos os outros atores dos ecossistemas de inovação em todo o mundo estão operando em um cenário de rápida mudança, marcado pelo crescimento tecnológico e pela incerteza.


“Todos têm sido chamados a desenvolver e implantar soluções em velocidade e, cada vez mais, a enfrentar grandes desafios sociais, desde as mudanças climáticas até o imperativo da inclusão. Nesse contexto, os papeis que as universidades e a indústria desempenham estão mudando, as fronteiras entre as organizações se esvaindo e novos modelos de parcerias estão surgindo”, pontuou.


O diretor de Educação e Tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi, destacou que a parceria universidade-empresa é o caminho para a competitividade de qualquer país, pois fortalece as pesquisas e contribui para a melhora dos ecossistemas de inovação. “É inegável que o lócus da inovação é a empresa. A indústria tem protagonismo na agenda de inovação em todos os países do mundo, mas precisamos lembrar que ninguém inova sozinho. Esse elo da conjunção universidade-empresa tem que ser cada vez mais buscado”, sugeriu.

Confira alguns pontos debatidos no fórum realizado pela MEI:

  • Estruturas institucionais para parcerias indústria-universidade em países como Estados Unidos e Brasil
  • Lições do GFCC e do Fórum de Liderança em Pesquisa para a integração indústria-universidade
  • Parcerias de impacto e boas práticas da relação universidade-empresa
  • Oportunidades de sustentabilidade e resiliência a partir da integração indústria-academia
  • Cenário para futuras parcerias indústria-universidade no Brasil
  • Organização de pesquisas para impacto
  • Formas de colaboração universidade-empresa

A presidente do Conselho de Competitividade dos Estados Unidos, Deborah Wince-Smith, detalhou o cenário da integração de indústrias com as universidades nos EUA. Segundo ela, havia resistência a esse modelo muitos anos atrás, mas as parcerias evoluíram e hoje são uma realidade cada vez mais presente no setor empresarial.


“Esse é um modelo colaborativo para promover a inovação e a competitividade. Universidades são âncoras para o desenvolvimento econômico”, enfatizou.


De acordo com o vice-presidente de Engenharia da Embraer, Luís Carlos Affonso, as empresas só se tornam competitivas quando inovam e buscam parcerias para encontrar as melhores soluções. “Estamos colhemos bons resultados em função da tríplice hélice que mantemos, como ocorre na integração com o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)”, afirmou. Tríplice hélice é a integração para inovar entre empresas, universidades e o governo. 

Com o objetivo de contribuir para a formação de profissionais qualificados para a nova realidade da Indústria 4.0, a MEI mantém um Grupo de trabalho de Engenharia-STEAM (acrônimo em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática). O grupo tem buscado contribuir concretamente para a melhora da formação de engenheiros no Brasil, tendo colaborado para a reformulação das diretrizes dos cursos de engenharia, que foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação.

Universidade tem papel de ajudar a empresa a compreender a ciência

Também palestrante do evento, o presidente do GFCC, Chad Holliday, alertou que as universidades têm papel importante no sentido de ajudar as empresas a compreenderem a ciência. “As empresas precisam do apoio da ciência, por exemplo, para interpretar o que significa a transformação energética dentro desse cenário de transição para uma economia de baixo carbono”, destacou.

O superintendente de Inovação e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Jefferson Gomes, observou que o Brasil desenvolveu na última década inúmeras ferramentas de aproximação das universidades com os negócios.


“A universidade precisa estar próxima da rua. Tem papel importante nessa parceria com a indústria”, disse.


Já o diretor da 3M, Paulo Gandolfi, contou que a multinacional mantém parcerias com a academia para a promoção de uma série de pesquisas. Segundo ele, a empresa destinou 10 milhões de dólares para universidades desenvolveram pesquisas relacionadas à pandemia de Covid-19. “Temos essa interação com as universidades e usamos essa parceria de forma bastante positiva. Temos também uma conexão muito forte com startups, olhando sempre para as grandes tendências”, contou.

A vice-presidente de Inovação da Eurofarma, Martha Penna, contou que a multinacional mantém parcerias consolidadas para a realização de projetos com diferentes universidades e laboratórios. “Na indústria farmacêutica é impossível fazer inovação sem estar ancorado no mundo acadêmico. Temos todos os tipos de aproximação com universidade, como a formação de recursos humanos, a realização de pesquisas”, detalhou. Ela, porém, lembrou que no Brasil ainda não é uma tarefa simples firmar parcerias com a academia. “Tivemos uma experiência com certa universidade em que levamos dois anos para assinar um contrato de intenções. É muito difícil”, contou.

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