O grão que vira alimento que vira energia: indústria de MT agrega valor a commodities

Empresas matogrossenses são exemplo de cadeia autossustentável: produzem grãos, alimentam o rebanho e geram energia a partir de resíduos, como a biomassa

Crédito: Gilberto Sousa / CNI

O Brasil, um dos maiores produtores mundiais de alimentos como soja, carne animal e açúcar, pode dar um salto de desenvolvimento econômico e sustentável se agregar valor às suas commodities e aproveitar os resíduos orgânicos da agricultura e da pecuária, como dejetos de animais, para a geração de energia.

A indústria do Mato Grosso já adotou essa estratégia e essa atitude pode servir de exemplo não só para o país, mas para o mundo. 

A Jornada Nacional de Inovação da Indústria, evento itinerante da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), está percorrendo todo o país para traçar desafios, propostas e inovações de cada estado.  

Nesta quinta-feira (30), em Goiânia, acontece o segundo encontro regional da Jornada, do Centro-Oeste, que vai reunir Mato Grosso, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul. Para cada Unidade da Federação, a Agência de Notícias da Indústria está publicando uma matéria para contar um pouco mais sobre o ecossistema do estado. Já trouxemos um panorama sobre RS, SC, PR, GODF e MS. Agora é a hora de conhecer o MT. 

Três grandes empresas matogrossenses ilustram bem o ciclo autossustentável que a agroindústria pode ter no Brasil: a Nutribras Alimentos, a Uisa e a Amaggi. A primeira, com mais de 1,7 mil funcionários e 600 mil animais abatidos por ano, começou com a suinocultura, mas evoluiu para a produção agrícola, frigorífico e geração de energia.  

Cultivam milho, feijão e soja, que, além de serem comercializados, são utilizados para fabricar ração para os suínos. E os dejetos dos animais vão para os biodigestores, para produção de biogás. Ou seja, tudo o que é subproduto de uma atividade se torna matéria-prima para a seguinte.  

Em outra frente de sustentabilidade, a empresa utiliza biofertilizante nas lavouras de milho e soja. E, mais recentemente, iniciaram o desenvolvimento de biometano para uso veicular, com o lançamento do primeiro caminhão movido a biometano da suinocultura. O próximo desafio é converter toda sua produção de biogás (30.000 m³/dia) em combustível sustentável.  

Já a Uisa, referência em processamento de biomassas com mais de 43 anos de história, tem 3,3 mil funcionários e atua em todas as etapas da cadeia produtiva, do plantio da cana-de-açúcar até o comércio, logística e distribuição do produto acabado - que pode ser açúcar, etanol, energia elétrica, biomassa, CBios (crédito de descarbonização), biogás e levedura. A empresa tem unidades industriais e centros de distribuição no MT, PA e AM. 

E, para fechar o trio, a Amaggi começou como uma empresa familiar no Paraná, mas, dois anos depois da fundação, migrou as atividades para uma fazenda em Mato Grosso, onde o negócio prosperou. Hoje, dividem suas atividades em quatro frentes: agro, commodities, logística/operações e energia.  

Os números impressionam: produzem 1,2 milhão de toneladas de soja, milho e algodão anualmente; comercializam 18 milhões de toneladas de grãos e fibras por ano em diferentes países; têm seis pequenas centrais hidrelétricas com 92 me de potência instalada e 35 usinas fotovoltaicas com mais de 32 mil placas solares; além de uma frota fluvial com 212 barcaças e empurradores e 40 unidades de armazenagem que comporta 2,7 milhões de toneladas. 

Conheça as empresas e inovações do Mato Grosso mapeadas na Jornada de Inovação da Indústria 

📍 Nutribras Alimentos 

As atividades da Nutribras começaram no fim da década de 1990 no MT, como suinocultura de pequeno porte e produção de grãos. A virada veio com a industrialização do negócio e início da operação do frigorífico, em 2011, já com a proposta de ciclo autossustentável, da produção de milho e soja para ração dos suínos até o sistema de biodigestores para tratamento de dejetos e geração de energia (biogás). Atualmente, exporta cerca de 10% da carne suína produzida para países da América do Sul, Ásia e Leste Europeu. 

📍 Amaggi 

A maior companhia brasileira na cadeia de grãos e fibras do país nasceu em 1977, tem sede em Cuiabá e está presente também na China, Argentina, Paraguai, Holanda, Noruega , Singapura e Suíça. Além de atuar em toda a cadeia do agronegócio, tem usinas hidrelétricas e fotovoltaicas, uma frota fluvial e unidades de armazenagem.  

📍 TRC 

A Teak Resources Company (TRC) produz madeira teca e, a partir dela, toras, blocos, serrados e biomassa. A empresa atua desde a produção de sementes e mudas, escolha de sítios adequados, plantio, manejo florestal e colheita até o processamento, comercialização e entrega dos produtos. 

📍 Britaguia 

Com mais de 65 anos de trajetória, a pedreira Britaguia produz pedra britada e calcário calcítico a partir de jazida própria com mais de mil hectares. Tornou-se fornecedora das maiores construtoras e concreteiras do estado do Mato Grosso. 

📍 UISA 

Uma das maiores e mais integradas biorrefinarias do país tem como modelo de negócio transformar matérias-primas renováveis e seus resíduos em biocombustíveis, energia limpa, alimentos, fertilizantes orgânicos e leveduras. Têm capacidade instalada de 350 mil toneladas de açúcar, 325 mil m³ de etanol, 300 mil CBios e 100MW de energia elétrica. 

📍 Thonet Interiores 

Começou com negócio de marcenaria e, em 10 anos, tornou-se referência em móveis planejados no norte do Mato Grosso. O salto se deu com a automatização da fábrica, que permitiu controle total sobre a qualidade e personalização dos produtos. 

📍 Canaã Norte Resíduos 

Nasceu há 20 anos com princípio de que resíduo precisa de destinação correta. Atuam em 98 municípios do estado com maiores grupos agrícolas para descarte de resíduos recicláveis, industriais, contaminados e orgânicos. Com os materiais recolhidos, produzem e comercializam aparas de papelão; garrafas de polietileno; plástico duro de polipropileno; ráfias; plástico lona, filme, cristal e colorido; garrafas pet; e sucatas de ferro miúda e de ferro lata. 

📍 Hom3D 

Pioneira na construção de casas com impressão 3D, a Hom3D levou cerca de dois anos para tirar o projeto do papel e entregar a residência de 68 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha, banheiro social, lavanderia e varanda. O modelo fica em torno de 20% mais barato que as construções tradicionais e reduz tempo, pessoas e resíduos envolvidos na obra. 

📍 Tagna Tecnologia 

Começou com automação industrial e evoluiu para empresa de tecnologia, com soluções digitais: software, inteligência artificial e machine learning. Apesar de ter sido fundada em Minas Gerais, atende empresas de manufatura no Centro-Oeste. 
 

📍 Giacomelli & Filhos

Referência em produção agrícola e biomassa, a Giacomelli & Filhos atua com soluções sustentáveis que integram o campo à geração de energia. A empresa investe em inovação e eficiência para transformar resíduos agroindustriais em energia limpa, fortalecendo a economia circular e o desenvolvimento sustentável em Mato Grosso.

 

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