Modernização do ensino de engenharias é crucial para avanço tecnológico brasileiro, diz CNI

País depende de melhorias para ganhar competitividade em um mercado global cada vez mais pautado pela sofisticação tecnológica

Engenheiros exercem papel central na capacidade inovadora de um país. Com a corrida digital em curso, a melhoria do ensino de engenharias e o desenvolvimento de habilidades convergentes com a demanda do mercado são ações fundamentais para fortalecer a indústria e ampliar as condições de competitividade da economia brasileira.

Para isso, o Brasil precisa modernizar sua base curricular com foco em resultados e prática, aprimorar a formação de docentes e conectar academia e setor produtivo, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI) no estudo Ensino de Engenharias: fortalecimento e modernização. O trabalho integra uma série de 43 documentos sobre temas estratégicos que a CNI entregou aos candidatos à Presidência da República e aponta os caminhos para superar a defasagem educacional e aproximar o setor produtivo da academia. 

O Brasil ocupa uma das piores posições no indicador de número de engenheiros por habitante. Em 2014, enquanto a Coreia, a Rússia, a Finlândia e a Áustria contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes, e países como Portugal e Chile dispunham de cerca de 16, o Brasil registrava apenas 4,8 graduados em engenharia para o mesmo universo de pessoas. 

Indicador similar para o número de doutores em engenharia também evidencia a frágil posição do Brasil no contexto internacional: temos entre quatro a seis vezes menos doutores em engenharia do que a maioria dos países europeus e cerca de um terço do registrado nos Estados Unidos (CNI, 2016). Os dados, aliados a recorrentes reclamações relativas às dificuldades de contratação de bons profissionais em momentos de expansão da economia, motivaram preocupações quanto a uma possível escassez de engenheiros e ao risco de um apagão de mão de obra. 

AMPLIAÇÃO DA OFERTA - Apesar de os indicadores ainda caminharem abaixo do desejado, houve ampliação da oferta de vagas em universidades públicas e privadas do país, fruto de intensa mobilização do setor empresarial junto aos governos.  Entre 2005 e 2015, o número de matrículas em escolas públicas aumentou em 128% e, em particulares, 395%. Por causa disso, houve também expressiva ampliação do número de concluintes dos cursos presenciais em engenharia.

Entre 2001 e 2016, registraram-se aumentos de 455%, 208% e 719%, respectivamente, no número total de concluintes, no número de concluintes na rede pública de ensino e no número de concluintes em instituições de educação privadas. Essas trajetórias resultaram em uma maior participação relativa de concluintes vinculados a instituições privadas, que representavam 48% do total em 2001 e passaram a 71% em 2016, crescendo, em termos absolutos, de 8.659 para 70.955 pessoas.

EVASÃO - Enquanto a participação relativa das matrículas em cursos de engenharia passou de 6,5% para 15,1%, entre 2001 e 2016, a participação relativa dos concluintes de engenharia passou de 5,1% para 10,6% no mesmo período. Mesmo assim, a questão da evasão segue uma sombra na formação de engenheiros no país. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), sistematizados pela Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), revelam que, para cada 1 mil candidatos nos processos de seleção em engenharia, 175 ingressam e apenas 95 concluem seus cursos.

"Na última década, a média de abandono dos cursos foi de 55%. Para nós, isso reflete deficiências no aprendizado de disciplinas exatas desde a educação básica. Por isso, a qualidade do ensino secundário é tão importante", afirma Gianna Sagazio, superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e diretora de Inovação da CNI

As avaliações dos cursos superiores, realizadas pelo Inep, também são sugestivas das fragilidades do ensino em engenharia no país: dos 1.538 cursos avaliados em 2014, cerca de 60% atingiram apenas a nota mínima satisfatória e 15% ficaram abaixo desse valor. O resultado demonstra a necessidade de aprimorar, consequentemente, a formação dos próprios professores. 

DOCENTES - Para a CNI, o aprimoramento da função docente envolve todo o ciclo de vida acadêmica, incluindo os processos de contratação, capacitação, avaliação e promoção de professores. No caso das engenharias, todos esses processos devem priorizar a capacidade dos docentes de formar profissionais com as competências e habilidades requeridas pelo mercado e de estimular a conexão entre a definição de linhas de pesquisas e a necessidade de buscar soluções para questões críticas do mundo real.

Além de oferecer oportunidades no âmbito da pesquisa acadêmica, os professores precisam estar aptos a motivar o aprendizado e abrir espaço para experiências práticas de engenharia e para a cooperação com o setor produtivo. É preciso que essas dimensões sejam valorizadas nos processos de contratação, capacitação, avaliação e promoção dos docentes.

EDUCAÇÃO BÁSICA - As dificuldades não se limitam às engenharias. Entre as nações de renda média e alta, o Brasil tem um dos menores índices de escolarização superior no mundo. O problema não se restringe ao ensino superior, mas reflete deficiências do conjunto do sistema educacional do país. 

Os resultados da última edição do Programme for International Student Assessment (PISA) revelam que, em 2015, o desempenho médio dos estudantes no Brasil estava significativamente abaixo da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em ciência (401 pontos, em comparação com uma média de 493 pontos), leitura (407 pontos, contra 493 pontos, em média) e matemática (377 pontos, contra uma pontuação média de 490). A baixa qualidade do ensino fundamental e médio dificulta o acesso dos alunos ao ensino superior e é um dos fatores que explicam os níveis elevados de evasão nas universidades.

"Os resultados têm impacto no desempenho da grande maioria das escolas de ensino superior de engenharia no país. Ou pelo tempo necessário para a adaptação do estudante aos requisitos mínimos das carreiras ou pelos elevados índices de reprovação e abandono registrados" avalia Gianna. 

PROPOSTAS - Para transformar essa realidade, a CNI e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) elencaram a modernização dos cursos de engenharia como uma das prioridades da indústria. Por isso, o tema ocupa destaque entre as propostas que foram debatidas com os candidatos à Presidência da República. As medidas sugeridas caminham no sentido de estruturar currículos focados no desenvolvimento de competências e na adoção de metodologias de ensino mais orientadas à prática. 

"Só seremos inovadores como precisamos se conseguirmos transformar conhecimento acadêmico em novos produtos e serviços, que tenham impacto no desenvolvimento dos mercados e na solução dos principais problemas da sociedade. O ensino deve focar em resultados", avalia Gianna Sagazio. 

- Reforçar a base técnica e estimular a formação mais inovadora em engenharia, mediante a adoção de currículos com foco em formulação e resolução de problemas, planejamento, gestão, empreendedorismo, trabalho em equipe, capacidade de tomar decisões em ambientes de incerteza, pensamento crítico e sistêmico. 

- Ampliar a integração entre os cursos de engenharias e o setor produtivo. 

- Estimular a adoção do modelo de ensino híbrido, combinando o uso da tecnologia digital com as interações 

- Aprimorar a avaliação dos programas de ensino de engenharia. 

- Apoiar a disseminação do mestrado profissional nas engenharias e direcionar os mestrados acadêmicos aos engenheiros que pretendam fazer carreira nessa área. 

- Capacitar docentes, com especial atenção ao treinamento em metodologias de ensino de engenharia que envolvam a participação ativa dos estudantes (projetos, desafios, competições e outras). 

- Estruturar programas de premiação docente que estimulem uma atuação condizente com os atuais requisitos da formação de engenheiros, conferindo especial atenção ao reconhecimento de esforços de cooperação e parceria entre a academia e o setor produtivo. 

AÇÕES PARA O BRASIL CRESCER MAIS E MELHOR
Os 43 documentos com propostas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para o novo governo foram elaborados com base no Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, que aponta os caminhos para o Brasil construir, nos próximos quatro anos, uma economia mais produtiva, inovadora e integrada ao mercado internacional. Os estudos sugerem ações em áreas como eficiência do estado, segurança jurídica, infraestrutura, tributação, educação, meio ambiente, inovação, financiamento e segurança pública.

As propostas foram discutidas com os presidenciáveis durante o Diálogo da Indústria com os Candidatos à Presidência da República, que reuniu cerca de 1.500 líderes empresariais no dia 4 de julho, em Brasília. A CNI apresenta as propostas da indústria aos presidenciáveis desde a eleição de 1994.

SAIBA MAIS - Leia todas as notícias sobre as propostas da indústria para as eleições 2018.

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