Um a cada três empresários acredita que a indústria brasileira precisará dar um salto de inovação nos próximos cinco anos para garantir a sustentabilidade dos negócios em curto e longo prazos, mostra pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI), encomendada ao Instituto FSB Pesquisa. Para 31% de CEOs, presidentes e vice-presidentes de 100 indústrias - 40 de grande porte e 60 pequenas e médias - o grau de inovação da indústria será alto ou muito alto nos próximos cinco anos, principalmente por necessidade.
A pesquisa é uma iniciativa da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), coordenada pela CNI, e será apresentada em 10 de junho, primeiro dia do 8º Congresso de Inovação da Indústria Brasileira, realizado em São Paulo.
"Diante de uma nova revolução industrial, a inovação ocupa papel primordial, mais importante do que nunca. No limite, nossa capacidade de inovar é que determinará quem fica com as portas abertas e quem vai desaparecer nesse ambiente de crescente pressão tecnológica e de sofisticação de mercado. Inovação precisa ser o centro da estratégia de desenvolvimento das empresas e, sobretudo, do país", afirma Robson Braga de Andrade, presidente da CNI.
BRASIL DE HOJE É POUCO INOVADOR – Atualmente, apenas 6% dos entrevistados consideram a indústria brasileira muito inovadora. Na primeira edição da pesquisa, realizada em 2015, apenas 14% dos empresários ouvidos estimavam um cenário mais inovador para a indústria nacional.
Para 49% das empresários, o grau de inovação da indústria brasileira é baixo ou muito baixo, representando um avanço na percepção em relação a 2015, quando esse percentual chegava a 62%. Para eles, alguns fatores justificam a avaliação negativa. Em primeiro lugar, a ausência de cultura de inovação no país e nas empresas, citada por 25% dos empresários; a falta de financiamento e investimentos em inovação, citada por 18,8%; e o cenário de crise econômica, lembrado por 14,6%.
A pesquisa buscou detalhar quais fatores externos à empresa mais dificultam a inovação no Brasil. O alto custo da inovação e a falta de financiamento ficam em primeiro lugar, mencionados por 28% dos empresários, quase empatado com o excesso de de burocracia, citado por 27%. Na sequência, aparecem a baixa qualificação dos profissionais (18%). De acordo com os empresários, a mão de obra tem pouco preparo para inovar ou aplicar a inovação, além disso, a educação brasileira é pouco alinhada à inovação.
Para a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, o Brasil tem o grande desafio de qualificar profissionais. "A qualidade da educação básica e do ensino superior é um fator diretamente relacionado ao grau de inovação de uma economia. Inovação é resultado da capacidade humana. Nossos esforços precisam ser maiores", analisa.
INOVAÇÃO GANHA RELEVÂNCIA NOS NEGÓCIOS – Segundo 44% dos executivos, as atividades de inovação respondem por mais de 20% do faturamento de suas empresas. Na primeira pesquisa (realizada em 2015), o percentual de empresas que prevêem aumentar ou aumentar muito o volume de recursos destinados à inovação nos próximos cinco anos aumentou de 57% para 66%. Atualmente, 31% dos entrevistados disseram empenhar mais de 5% de seu orçamento em inovação.
FINANCIAMENTO TEM SAÍDO DO PRÓPRIO BOLSO – De acordo com a pesquisa, 55% das empresas utilizam recursos próprios para financiar as atividades de inovação. O percentual é significativamente maior do que o aferido em 2015, quando 40% das empresas declararam usar apenas recursos próprios. Em contrapartida, diminui de 55% para 40% o número de empresas que usam combinação de fontes. "Os dados sugerem que a escassez de recursos públicos não deixou alternativa para as empresas além do uso de capital próprio", afirma a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio. Segundo ela, a experiência internacional mostra a importância do investimento público para alavancar os desembolsos privados em inovação.
O levantamento mostra que, entre as empresas que não utilizaram outras fontes, mais da metade (56,4%) afirmaram ter dificultade de obter financiamento. Entre as medidas sugeridas pelo setor privado para contornar a situação, estão a ampliação do acesso aos fundos de financiamento (26%), a redução da burocracia (22%) e a promoção de estímulos à inovação por parte do governo (18%).
COMO AUMENTAR A INOVAÇÃO – Entre as medidas que podem ser adotadas pelo governo para estimular a inovação, os executivos apontaram principalmente a ampliação e o barateamento do financiamento à pesquisa e desenvolvimento (25%) e a desburocratização de processos (21%). Olhando para a própria iniciativa privada, os empresários reconhecem a necessidade de investir mais em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e em novas tecnologias (19%) e se aproximar mais de universidades e centros de pesquisa, citada por 14% dos entrevistados.
EMPRESAS SE CONSIDERAM INOVADORAS – Apesar da avaliação negativa do contexto nacional, 96% dos empresários entrevistados disseram que a inovação é parte estratégica de suas empresas e 54% consideram suas empresas inovadoras ou muito inovadoras. Outro dado interessante mostra que, entre 2015 e 2019, a tomada de decisão de inovar deixou de depender principalmente da alta cúpula das empresas. Segundo 63% dos entrevistados, há equipes, conselhos ou diretorias específicas de inovação para tomar essa decisão - crescimento de 34,4 pontos percentuais em relação a 2015.
A pesquisa procurou entender quais entraves internos as empresas enfrentam para inovar. A dificuldade de acessar capitais e seu custo alto foram apontados por 17% dos ouvidos. A falta de recursos para investir em PD&I foi apontada por 15% dos executivos, seguida da dificuldade de encontrar recursos humanos qualificados (14%).
AMBIENTE DE INOVAÇÃO TEM MUITO A MELHORAR – Os empresários atribuíram notas a sete atributos relevantes para o ambiente de inovação, entre zero (péssimo) e 10 (excelente). O quesito com melhor pontuação foi a qualidade dos cursos de engenharia, com 6,3 de média. Recentemente, o Conselho Nacional de Educação (CNE) do Ministério da Educação atualizou as diretrizes da base curricular para os cursos de engenharia, com o objetivo de modernizar o ensino no país. O segundo fator com melhor avaliação foi o ecossistema de startups, que recebeu nota 6. O aspecto com menor nota foi o sistema de propriedade intelectual, com 4,5. Vale o destaque de que este é o quesito com maior diferença de avaliação entre grandes empresas e pequenas e médias.
ISRAEL ENTRA NA LISTA DE MELHORES PAÍSES PARA INOVAR – Assim como em 2015, os Estados Unidos são o país de referência quando o assunto é inovação, sendo apontado por 78% dos entrevistados. A Alemanha continua em segundo lugar, reconhecida por 35% dos executivos. O destaque é a ascenção de Israel, que cresceu 15 pontos percentuais entre 2015 e 2019 e aparece como o 3º país mais citado. China e Japão fecham a lista dos cinco países com melhores ecossistemas de inovação.
Segundo os empresários, investimentos em educação básica, universitária e técnica; ambiente favorável e processos simplificados para realizar PD&I são os principais responsáveis pelo contexto pró-inovação nesses países. Cultura inovadora, confiança empresarial e internacionalização das empresas também são elementos que facilitam a inovação, aponta a pesquisa.
EMPRESAS DESENVOLVEM PD&I NO EXTERIOR – 24% dos empresários entrevistados disseram que suas empresas mantém produção e atividade comercial no exterior, sendo que a atuação internacional é maior entre as grandes empresas, entre as quais 47,5% produzem e vendem fora, contra apenas 8,3% das empresas de pequeno e médio portes. Entre as empresas que afirmaram produzir no exterior, 58,1% declararam realizar PD&I fora do Brasil. Destas, 35,6% disseram usufruir de políticas de inovação de outros países, sobretudo dos EUA. "A atração de centros de pesquisa é um instrumento importante para reter talentos, estreitar laços com universidades e desenvolver novos produtos", avalia Gianna Sagazio. O principal interesse daqueles que disseram desejar firmar parcerias internacionais é a troca de tecnologia e experiência, com 31%, e o desenvolvimento de novos produtos, citado por 19% dos empresários.
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