Brasil precisa de uma política estruturada para avançar em ciência, tecnologia e inovação

Dados divulgados pelo IBGE mostram que país está numa posição muito desfavorável. CNI e MEI defendem que o país estruture políticas para garantir financiamento e segurança jurídica para investimentos na área

Para a CNI, as dificuldades provocadas pela pandemia da COVID-19 vêm mostrando o tanto que a área de ciência, tecnologia e inovação é importante e necessária para o enfrentamento de crises

As empresas consideradas inovadoras no Brasil investiram R$ 67,3 bilhões em atividades inovativas no ano de 2017, o que corresponde a 1,95% da receita líquida total das vendas no mesmo ano.

É o que mostra a Pesquisa de Inovação (Pintec), divulgada nesta quinta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com os dados, entre 2015 e 2017, 33,6% das 116.962 empresas brasileiras com dez ou mais trabalhadores fizeram algum tipo de inovação em produtos ou processos, o que significa 2,4 pontos percentuais a menos que na pesquisa anterior (que avaliou o período entre 2012 e 2014). Na indústria, a queda foi ainda maior, de 36,4% em 2014 para 33,9% em 2017.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera que as dificuldades provocadas pela pandemia da Covid-19 vêm mostrando o tanto que a área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) é importante e necessária para o enfrentamento de crises do ponto de vista econômico e social.Na avaliação da CNI, os dados da Pintec mostram que os investimentos em inovação estão abaixo do potencial brasileiro. O Brasil, apesar de ser a nona maior economia do mundo, aparece apenas na 66ª posição no mais importante ranking que mede a atividade inovativa dos países – o Índice Global de Inovação.

"Esta é uma oportunidade para que o Brasil consiga se posicionar entre as 30 economias mais inovadoras do mundo até 2030”, afirma Gianna Sagazio

Para a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, um dos passos importantes para que o Brasil se torne um país mais inovador é aprovação da Política Nacional de Inovação. Recentemente, a CNI e a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) – grupo coordenado pela CNI que reúne lideranças de mais de 300 das principais empresas com atuação no país – enviaram ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) contribuições para a construção dessa política.

“Esta é uma oportunidade para que o Brasil tenha uma estratégia ambiciosa na área e, com isso, consiga se posicionar entre as 30 economias mais inovadoras do mundo até 2030”, afirma Gianna. “A agenda de inovação é urgente e precisa ser vista como prioridade de país. A capacidade das empresas inovarem é determinante para aumentar o desenvolvimento econômico e social do Brasil”, acrescenta a diretora. Segundo ela, a inovação terá fundamental importância para a superação da crise ocasionada pelo coronavírus.

Entre os eixos prioritários para a inovação no Brasil defendidos pela CNI estão a criação de um ambiente institucional e regulatório favorável à CT&I; a oferta de instrumentos de subvenção econômica e de crédito compatíveis com o risco tecnológico; e o apoio do Estado ao desenvolvimento científico, para que haja um ambiente favorável à produção de conhecimento e tecnologias de ponta.

A CNI defende ainda a ampliação de investimentos públicos e privados em inovação, bem como o aprimoramento de instrumentos de apoio à CT&I e a desburocratização das leis de apoio à inovação. Outro fator imprescindível para o desenvolvimento do país por meio da inovação é a maior integração do setor industrial com as universidades e os governos. 

Pesquisa da CNI mostra que indústria precisará dar salto de inovação
O estudo mais recente da CNI mostra que, em 2019, um em cada três empresários acredita que a indústria brasileira precisará dar um salto de inovação nos próximos cinco anos para garantir a sustentabilidade dos negócios em curto e longo prazos. Para 31% de CEOs, presidentes e vice-presidentes de 100 indústrias – 40 de grande porte e 60 pequenas e médias – o grau de inovação da indústria será alto ou muito alto nos próximos cinco anos, principalmente por questão de necessidade.

De acordo com dados da pesquisa da CNI, 6% dos empresários consideram a indústria brasileira muito inovadora. Para 49%, o grau de inovação da indústria brasileira é baixo ou muito baixo. Entre os fatores que justificam a avaliação estão a ausência de cultura de inovação no país e nas empresas, citada por 25% dos empresários; a falta de financiamento e investimentos em inovação, citada por 18,8%; e o cenário de crise econômica, lembrado por 14,6%.

Empresas parceiras da MEI são mais inovadoras
De acordo com levantamento da CNI, com base nos dados da Pintec anterior, relativos a 2014, as empresas que participam da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) investem 46,3% a mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do que a média nacional. Segundo o levantamento da CNI, que levou em conta o desempenho de empresas da MEI na base de dados da Pintec. 

De acordo com os dados, as empresas participantes da MEI investem 1,13% da sua receita líquida de vendas em P&D, enquanto a média nacional de investimentos é de 0,77% da receita líquida própria de vendas em P&D, conforme a Pintec relativa a 2014, que englobava 132.529 empresas. A amostra representativa na pesquisa da CNI contemplou 160 empresas – 80% delas implementaram inovações de produto e de processo simultaneamente contra 15% das demais empresas brasileiras que investem em inovação.

Conheça a agenda de inovação proposta pela CNI e pela MEI 
- Aprimorar os instrumentos de apoio à inovação, com foco no empreendedorismo e no desenvolvimento de negócios inovadores;
- Priorizar tecnologias disruptivas e transversais e sua combinação (IA + IoT + 5G);
- Criar e instalar um órgão ligado à Presidência da República, voltado à tomada de decisão em CT&I;
- Aprimorar a Lei do Bem, de forma a permitir a contratação de outras empresas para a realização de P&D externo; e permitir que os dispêndios com P&D possam ser abatidos em mais de um ano fiscal;
- Assegurar recursos para CT&I sustentados ao longo dos anos;
- Identificar novas fontes e possíveis oportunidades de redirecionamento de recursos para inovação;
- Melhorar a qualidade da educação e formar profissionais especializados, com base em currículos e atividades;
- Desburocratizar e fortalecer os ambientes empreendedores.

Eixos prioritários de uma Política Nacional de Inovação (PNI)
A CNI entende que a PNI deve produzir conhecimento e transformá-lo em riqueza; melhorar a qualidade de vida dos cidadãos; gerar desenvolvimento socioeconômico; e ser o principal instrumento orientador do planejamento das iniciativas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

A CNI sugere ainda que a Política Nacional de Inovação tenha como eixos prioritários:
1 - Criação de um ambiente institucional e regulatório favorável à inovação: isto quer dizer simplificar o ambiente de negócios e facilitar a produção de conhecimento e sua transformação em riqueza e bem-estar social. Desse ponto de vista, defende-se o aprimoramento de leis, do sistema de propriedade intelectual e de normas técnicas, por exemplo.
2 - Oferta de instrumentos de subvenção econômica e de crédito compatíveis com o risco tecnológico: o Brasil dispõe de mecanismos de apoio à inovação, mas é preciso focar naqueles que apresentam elevado potencial de induzir a inovação de maior conteúdo e risco tecnológico, as quais são menos passíveis de captar recursos no mercado privado de capitais;
3 - Apoio ao desenvolvimento científico: para criar um ambiente favorável à produção de conhecimento e tecnologias de ponta, é fundamental que o Estado apoie a ciência brasileira, fortalecendo as instituições de formação e pesquisa para que contribuam com o trabalho de inovação das empresas e com a solução de problemas da sociedade;
4 - Estruturação de programas nacionais transversais: é importante definir desafios e articular programas orientados a tais temas específicos, como a difusão de tecnologias para elevar a produtividade do conjunto da economia; a transformação digital das empresas; e a capacitação de recursos humanos para atuar na era digital.
Para tornar a política mais objetiva e transparente, sugere-se que o documento-base contemple ainda pontos como: governança dos atores do ecossistema de inovação; desafios estratégicos para o país; metas factíveis e fundamentadas a serem alcançadas em um horizonte de 10 anos; e formas de monitoramento e avaliação das ações.

INVESTIMENTO MÉDIO ANUAL EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D)
Brasil – US$ 40,5 bilhões
Coreia do Sul – US$ 84,25 bilhões
Alemanha – US$ 110,09 bilhões
Japão – US$ 155,10 bilhões
China – US$ 442,72 bilhões
EUA – US$ 483,68 bilhões

Debate sobre a Pintec 

A CNI realiza nesta quinta (16) às 18h um bate-papo ao vivo para debater os resultados da Pintec e o cenário da inovação no Brasil. Participarão a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio; o secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Julio Semeghini; o secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTIC, Paulo Alvim; e o coordenador de Pesquisas Econômicas Estruturais e Especiais do IBGE, Alessandro Maia Pinheiro. 

A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise

Acompanhe todas as notícias sobre as ações da indústria no combate ao coronavírus na página especial da Agência CNI de Notícias.

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