Com inovação, indústria vai atender rapidamente a demanda por equipamentos contra covid-19

Em entrevista à Agência CNI de Notícias, Pedro Wongtschowski avalia que indústrias de diferentes ramos têm conseguido adequar linhas de produção. Ele defende política de longo prazo para ciência, tecnologia e inovação

Pedro Wongtschowski considera que o Brasil e o mundo têm conseguido reagir com rapidez à crise provocada pelo Covid-19

Líder da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski considera que o Brasil e o mundo têm conseguido reagir com rapidez à crise provocada pela Covid-19. Segundo ele, a qualificação do corpo de pesquisadores tem feito a diferença para o enfrentamento do coronavírus.

Em entrevista à Agência CNI de Notícias, o empresário destaca que as empresas adequaram  as linhas de produção para fabricar produtos e equipamentos, como máscaras, testes e respiradores, que até então tinham baixa demanda, e hoje se mostram indispensáveis para o país enfrentar de frente a pandemia. “Não tenho dúvida de que a indústria vai rapidamente conseguir atender a esta demanda”, afirma.

Wongtschowski avalia que políticas de longo prazo para ciência, tecnologia e inovação (CT&I) são essenciais para o desenvolvimento de um país, assim como ações coordenadas entre o setor produtivo, o governo e a academia. Sobre a queda de 19 posições do Brasil nos últimos 10 anos no Índice Global de Inovação, ele diz que houve uma perda relativa. “Significa basicamente que andamos mais devagar que os outros países que têm investido mais e melhor em inovação”, enfatiza.

De acordo com o líder da MEI, o fato de o Brasil estar na 66ª colocação no ranking de 129 países serve de sinal de alerta para fortalecermos fatores como os recursos destinados a pesquisa e desenvolvimento (P&D), a qualidade da educação , a continuidade do apoio à CT&I e as condições para startups de bases tecnológicas se estabelecerem.

Leia a entrevista:

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Qual o papel da inovação para que o Brasil e o mundo possam superar a crise causada pelo coronavírus?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – O papel da inovação é essencial para este momento em que enfrentamos o crescimento do número de casos no Brasil – já tendo visto o que aconteceu mundo afora –bem como para enfrentarmos o momento seguinte: de retomada da economia, que certamente sofrerá impactos substanciais. O que ficou demonstrado é que o mundo tem conseguido reagir razoavelmente bem e rapidamente a esta pandemia, justamente em função do conhecimento técnico acumulado e da existência de um corpo de pesquisadores em todas as áreas, direta ou indiretamente ligadas à saúde, disponível, experimentado e com rapidez de reação. São profissionais da área epidemiológica, estatística, biológica, entre várias outras. Fato é que em nenhuma circunstância no passado, a sociedade conseguiu reagir com tal rapidez. No Brasil não foi diferente. A estrutura do vírus foi identificada celeremente. A comunidade científica já tem trabalho para eventual criação de vacinas porque está habilitada  e foi desenvolvida ao longo de décadas em esforços de formação, pesquisa e desenvolvimento.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – A Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) tem acompanhado a crise e buscado alternativas para o enfrentamento da covid-19 junto aos parceiros?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – Há quase 12 anos, desde que foi criada pela Confederação Nacional da Indústria, a Mobilização Empresarial pela Inovação trabalha pela ampliação da capacidade de inovar da indústria brasileira. Mais do que nunca, precisamos entender que momentos como este nos mostram o quanto necessitamos de políticas de longo prazo para o país. Isso requer um esforço conjunto e ações coordenadas entre o setor produtivo, o governo e outros atores, como universidades, centros de pesquisa e laboratórios. Entidades e empresas parcerias da MEI já colocaram em prática uma série de ações, como o desenvolvimento de soluções e plataformas para conectar empresas e startups que possam contribuir com medidas de combate ao coronavírus, a destinação de recursos para pesquisas e ofertas de créditos a juros baixos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Neste momento, qual deve ser o foco dos governos e dos institutos de inovação para que seja dada uma resposta rápida e eficaz ao novo coronavírus? 

PEDRO WONGTSCHOWSKI – A sociedade toda se mobilizou muito rapidamente tanto na compreensão do fenômeno quanto na contenção e prevenção da doença, e fabricação de equipamentos. Os editais do SENAI, da Embrapii e dezenas de outras entidades, como USP e Unicamp, têm como objetivo estimular que, rapidamente, sejam criados produtos e processos que possam atender a uma demanda nova. De repente, o país passou a precisar de milhões de máscaras e de testes, de milhares de respiradores e tomógrafos, e de metodologia para identificar conhecimento estatístico e epidemiológico voltados a conter o fenômeno e a disseminação da doença. Então, a sociedade como um todo se mobilizou, o que incluiu os centros de pesquisa e desenvolvimento, as empresas e a academia. A indústria automobilística, a Embraer, as empresas de higiene e limpeza, por exemplo, estão fabricando produtos e equipamentos que em geral desconheciam. E não tenho dúvida de que a indústria vai rapidamente conseguir atender a esta demanda.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O senhor considera que o momento é de destinar mais recursos para a ciência e tecnologia?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – Essa é uma questão permanente. Não tem à rigor nada a ver com essa pandemia em particular. É evidente que agora se abrem novas frentes. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por exemplo, abriu uma série de editais em que pesquisadores de áreas próximas adaptaram seu trabalho para atender especificamente a esta pandemia. Então, mais do que pedir agora recursos extraordinários, isso é uma demonstração de que recursos estáveis devem permanentemente ser destinados ao setor de ciência e tecnologia (C&T), porque é desta forma que se acham soluções para os problemas que vão aparecer – sejam poluição, pandemias, violência, novas demandas de bens e serviços,  ou sustentabilidade. Mais do que recursos extraordinários, este é um momento em que a sociedade deve se convencer ainda mais que prover permanente e continuamente recursos para C&T faz todo o sentido para os países, inclusive para um país na situação do Brasil.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Na última década, o Brasil caiu 19 posições no Índice Global de Inovação (IGI) e está no 66º lugar entre 129 países. O que contribuiu para essa queda e o que o Brasil pode fazer para voltar a crescer nesse indicador? 

PEDRO WONGTSCHOWSKI – Essa queda é uma perda de posição relativa. Significa basicamente que andamos mais devagar que os outros países que têm investido mais e melhor em inovação ou têm criado estruturas como facilidade de fazer negócios, disponibilidade de recursos e instituições de ensino adequadas. São fatores que afetam diretamente a inovação. Há um grande número de fatores que melhoraram no Brasil, mas melhoraram ainda mais em outros países, fazendo com que a gente perdesse posição relativa. A própria existência do IGI tem como objetivo chamar a atenção e deixar explícito o que está bom, o que está ruim, o que é urgente e o que precisa melhorar. A nossa posição no índice é um sinal de alerta, um aviso e também uma receita para verificarmos por que o país caiu e tentarmos fortalecer a nossa posição em itens como os recursos destinados a PD&I, a qualidade da educação de ensino superior, a continuidade do apoio à C&T e as condições para startups de bases tecnológicas se estabelecerem.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – O Brasil ainda discute uma Política Nacional de Inovação (PNI). Quais as medidas mais relevantes que essa política deve conter?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – A MEI encaminhou ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações um documento que sintetiza nossas recomendações à PNI. Precisamos ter clareza de que a política de inovação deve ter como alvo a melhoria do ambiente de inovação para a empresa, que, efetivamente, é quem precisa assumir os riscos e incertezas inerentes à atividade de inovar. Entre as ações prioritárias que defendemos estão a criação de um ambiente institucional e regulatório favorável à inovação; o apoio ao desenvolvimento científico - é um equívoco imaginar que a inovação se faz sem a existência de uma estrutura bem estruturada de C&T -  e a oferta de instrumentos de fomento,  como subvenção econômica e crédito para atividades de maior risco tecnológico. Neste contexto, o governo federal definiria grandes linhas de pesquisas voltadas para resolver determinados problemas nacionais, em que a área de ciência, tecnologia e inovação apresentaria projetos em torno da solução para esses problemas. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Com a crise causada pelo novo coronavírus, o senhor considera que a elaboração dessa política se torna mais urgente?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – Ela é importante, mais do que urgente. É razoável que nos próximos três meses as prioridades sejam outras, porque ela não resolve em si nenhum problema urgente. Mas o momento mostra que se tivéssemos definido mais atrás e com mais clareza uma Política Nacional de Inovação, talvez o nosso corpo de ciência, tecnologia e pesquisa estaria ainda mais bem preparado para endereçar as questões específicas que esta pandemia trouxe. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Como a indústria pode contribuir para o processo de inovação no contexto atual, mais precisamente com o auxílio da MEI, CNI e Embrapii? 

PEDRO WONGTSCHOWSKI – Talvez o mais simples seja começar pela Embrapii, que foi concebida e criada no âmbito da MEI, e está se revelando um instrumento poderoso, especialmente neste momento em que você financia e incentiva empresas privadas a desenvolverem processos ou produtos que atendam a determinados mercados. Neste momento, a demanda por recursos da Embrapii é enorme. Há empresas que poderiam nos dar soluções em prazo relativamente curto, mas que precisam que alguém pague um pedaço da conta. Esse método fez com que instituições  de pesquisa e desenvolvimento florescessem. Estas, transformadas em unidades Embrapii estão hoje mais bem preparadas do  que no passado.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Quais ações e medidas um empresário deve tomar para o combate e enfrentamento ao coronavírus?

PEDRO WONGTSCHOWSKI – As empresas agora devem ter três grandes objetivos. O primeiro é proteger e preservar a saúde de sua equipe de trabalho; a segunda é manter a continuidade operacional, ou seja continuar operando tão normalmente quanto possível, o que implica em ter acesso aos seus fornecedores, aos insumos para produzir, ter logística adequada e atender o seu mercado; o terceiro objetivo é preservar a saúde financeira do seu negócio, tendo em vista os riscos de inadimplência e que a cadeia não está normalizada. 

A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise

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