Uma iniciativa inédita no Espírito Santo vai ajudar a capacitar pessoas trans. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do estado e a EDP, distribuidora de energia capixaba, vão abrir turmas exclusivas para pessoas trans se tornarem eletricistas.
Durante a pandemia de Covid-19, seis em cada 10 pessoas da comunidade LGBTQIA+ perderam emprego ou tiveram uma diminuição de renda, segundo o estudo de 2021 feito pela plataforma #VoteLGBT. A taxa de desemprego é ainda maior para a comunidade trans, que chega a 20,47%. Como resultado da instabilidade financeira, agravada pela pandemia, cerca de 56,82% das pessoas trans passam por uma situação de insegurança alimentar.
Segundo um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), a comunidade trans é a que mais sofre com o preconceito e a falta de oportunidade: 88% dos entrevistados no estudo revelam que as empresas não estão preparadas para contratar pessoas trans.
Atento a esse cenário e com a visão de ampliar a diversidade no seu quadro de pessoal, a EDP, distribuidora de energia elétrica do Espírito Santo, fechou uma parceria com o SENAI-ES para formar profissionais eletricistas. A primeira turma contará com 16 participantes e as aulas serão ministradas na unidade do SENAI Civit, na Serra.
O início das atividades será em janeiro, mês da Visibilidade Trans. Durante o curso, os participantes receberão materiais didáticos, uniformes e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), além de bolsa-auxílio e almoço no local. O processo de seleção dos participantes e inscrição foi realizado pela EDP. Ao fim do curso, que dura três meses, os participantes podem ser selecionados para trabalhar na empresa.
“Fomentar a educação, a partir de ações intencionais e propositivas, é fundamental para gerarmos oportunidades às populações mais vulnerabilizadas. Ao promover uma jornada de desenvolvimento e capacitação profissional, a escola será um passo em direção à cidadania, empregabilidade e acolhimento da população trans”, afirma a vice-presidente de Pessoas e ESG da EDP no Brasil, Fernanda Pires.
O preconceito, a baixa escolaridade, o desemprego e a violência fazem do Brasil o país que mais mata transsexuais no mundo, levando a expectativa de vida média da população brasileira trans de 74 para 35 anos (segundo o IBGE).
“O cenário dá a dimensão da urgência com que a sociedade precisa ser sensibilizada para a construção da cultura de paz e respeito. E o Senai ES, a partir da estruturação do seu programa de diversidade e inclusão e com parceiros como a EDP, podem apoiar na mudança da empregabilidade trans no mercado”, destaca o diretor regional do Senai ES e superintendente do Sesi ES, Cláudio Marcassa, instituição de referência quando o assunto é educação profissional.
A transformação começa de dentro para fora
A equipe pedagógica do SENAI, instrutores da escola de eletricista e de outras atividades da unidade do Civit, participaram de uma formação on-line com a cofundadora da plataforma de recrutamento TransEmpregos e consultora de Inclusão e Diversidade, Maite Schneider. Além da capacitação técnica, a escola contemplará um módulo voltado ao desenvolvimento de competências comportamentais que será ministrado por Maite.
Para a diretora do SENAI Civit, Mariana Fonseca, essa é a oportunidade de quebrar paradigmas. “É mostrar que é possível abordar a diversidade nesse contexto, mesmo em cursos, até então, altamente masculinos, e de promover a inserção no mercado de trabalho. Além da possibilidade de contratação desses profissionais pela EDP, quem sabe algum aluno, que se destaque e que esteja interessado em dar aula, venha fazer parte do Senai como professor? A expectativa é essa”, destacou.
Mais informações sobre o projeto
Com carga horária de aproximadamente 500 horas e cerca de três meses de duração, a Escola de Eletricistas para Trans é gratuita, com o foco na qualificação e capacitação de pessoas trans como eletricistas de redes de distribuição de energia. A iniciativa é uma parceria da EDP com SENAI-ES Após a finalização do curso, os estudantes recebem certificado chancelado pelo Senai e permanecem no banco de talentos da EDP, podendo participar de processos seletivos para vagas efetivas.
O curso terá aulas teóricas e práticas a respeito dos princípios e leis que regem o funcionamento de sistemas elétricos. O intuito é promover aprendizado sobre os procedimentos e técnicas necessárias para planejamento, execução, avaliação e inspeção das redes, bem como sobre manutenções preventivas e corretivas, dentro das normas técnicas e de segurança. Ao término do curso, a expectativa é que essas pessoas estejam capacitadas para o mercado de trabalho.