A gestão participativa, a qualidade dos professores e as práticas pedagógicas inovadoras são os fatores que explicam o motivo pelo qual os alunos do Serviço Social da Indústria (SESI) têm os melhores desempenhos no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), conhecido como Prova Brasil. A conclusão está em estudos desenvolvidos pelo SESI qua analisam a nota dos estudantes na avaliação em relação a variáveis como experiência dos professores, modelo de gestão escolar e metodologias de ensino, que também estão entre os critérios avaliados na Prova Brasil.
Em relação à qualidade dos docentes, um aspecto central é o constante aperfeiçoamento profissional, acredita Fernando Luiz Abrucio, professor de Ciências Políticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do estudo Os professores da Rede SESI de Ensino – Perfil atual e possibilidades de aperfeiçoamento. Nesse quesito, 94% dos professores da rede SESI afirmaram ter participado de alguma atividade de desenvolvimento profissional sobre metodologias de ensino na sua área de atuação e reconheceram algum impacto na prática pedagógica. Esse percentual foi menor nas outras redes de ensino: 77% na rede municipal, 75% na estadual e 79% na rede privada. “A formação inicial do professor não é suficiente. A variável-chave é a formação continuada, que envolve o saber prático de anos de trabalho em sala de aula”, destaca Abrucio. “A experiência internacional em educação mostra que a própria escola e a sala de aula são elementos estratégicos da formação dos professores. Cabe à gestão escolar proporcionar essa maior interação entre os professores novos e mais antigos”, complementa.
A experiência do professor na escola em que trabalha e o tempo de formado também contam para o melhor desempenho dos alunos, segundo critérios avaliados na Prova Brasil. No primeiro aspecto, a rede SESI possui a maior concentração de professores com 11 anos ou mais de sala de aula: 36%. Nas redes municipal e estadual, esse percentual é de 21% e, na privada, de 25%. Em relação ao segundo aspecto, a rede do SESI também apresentou melhores resultados que o sistema público e privado, com 75% dos professores com mais de 7 anos de formados ante 67% da rede municipal, 69%, da estadual, e 56% da rede privada.
O estudo revelou ainda que os professores do SESI utilizam com menor frequência práticas pedagógicas consideradas passivas como a cópia de conteúdos do quadro ou do livro didático e dão preferência a atividades que envolvem participação ativa dos alunos como a discussão sobre a adequação de resultados numéricos obtidos na solução de problemas. Enquanto 26% dos professores da instituição se dedicam diariamente a atividades mais passivas, 42% dos docentes da rede pública, 40% da estadual e 37% da privada utilizam essa prática todos os dias.
GESTÃO PARTICIPATIVA – De acordo com o estudo, outro aspecto relevante relacionado ao melhor desempenho dos alunos do SESI é a maior interação dos professores com a direção da escola para decisões sobre o trabalho, a discussão de metas educacionais e a elaboração do projeto pedagógico próprio ou adaptado à realidade local. Do total de professores do SESI, 47% afirmaram que participam sempre ou quase sempre das decisões relacionadas ao seu trabalho. Esse percentual foi de 43% na rede municipal e de 39% na estadual e na privada.
Em relação às discussões de metas, 80% dos professores do SESI disseram que o diretor da escola discute frequentemente metas com a equipe docente ante 62% da rede municipal, 61% da estadual e 64% da privada. Já na elaboração de projeto pedagógico, 91% dos professores do SESI afirmaram que houve elaboração de um modelo próprio ou adaptação de um modelo pronto à realidade escolar, frente 78% da rede municipal, 82% da estadual e 80% da privada.
ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIOCULTURAIS – O estudo O desempenho da Rede SESI e das demais redes de ensino, liderado pelo coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes, revela que no 5º ano do ensino fundamental os alunos da Rede SESI apresentaram, em média, resultados semelhantes aos alunos da rede federal e superiores aos alunos das escolas municipais, estaduais e privadas do Brasil, tanto em Língua Portuguesa como em Matemática. No 9º ano, o desempenho médio dos alunos das escolas do SESI também superou o dos alunos das redes municipal, estadual e privada e ficou um pouco abaixo dos alunos das escolas públicas federais.
Mesmo com desempenho um pouco menor que o das escolas federais, o SESI consegue ter um maior "efeito-escola", que é a influência da instituição de ensino no desempenho dos alunos. Exemplo disso é que, mesmo a escolaridade da mãe ter relevante influência no rendimento dos alunos, o SESI consegue amortizar essa influência em alunos com mães com menor escolaridade, já que possui um percentual menor de mães com ensino superior que as escolas privadas e federais. Enquanto apenas 28% das mães dos alunos do 5º ano do SESI tinham ensino superior, essa proporção era de 42% na rede privada e 39% na rede federal de ensino.
Essa também foi a conclusão do estudo Fatores Intra e Extraescolares associados à aprendizagem dos alunos das escolas do SESI, coordenado por Rubem Klein, consultor da Fundação Cesgranrio. Ao analisar o nível socioeconômico e o desempenho alcançado pelos alunos da rede SESI, foi observada maior homogeneidade das médias entre as diversas classes econômicas. “No SESI, os fatores intraescolares contribuem para atenuar os extraescolares, como a escolaridade dos pais e a renda familiar. A experiência do SESI poderá servir para o sistema educacional como um todo no sentido de apontar caminhos para minimizar a influência do nível socioeconômico no desempenho dos estudantes”, diz.
Os dados analisados nos estudos são referentes à Prova Brasil 2013. Naquele ano, foram avaliadas 38.484 escolas do 5º ano, com quase 2,6 milhões de alunos, e 30.724 escolas do 9º ano, com mais de 2,5 milhões de estudantes de escolas públicas e particulares de todo o país. Ao todo, o SESI participou no 5º ano com 12.118 alunos de 242 escolas e, no 9º ano, com 15.157 alunos de 237 escolas. Foram analisados os resultados dos alunos nas avaliações de Língua Portuguesa e Matemática e as respostas dos questionários complementares realizados com professores e gestores escolares.
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