Quer seguir carreira na gastronomia? Eis algumas dicas de grandes chefs

Claude Troisgros, André Mifano, Felipe Bronze, Henrique Fogaça e Mara Alcamim falaram sobre o caminho árduo até o sucesso na cozinha e na televisão

Claude Troisgros, André Mifano, Mara Alcamim, Felipe Bronze e Henrique Fogaça deram dicas e contaram suas experiências para um auditório lotado, na OC2018

Sorte, trabalho duro e amor pela comida são marcas comuns às vidas de chefs de cozinha. No boom gastronômico vivido pelo Brasil, influenciado pela popularidade de programas de televisão e pelas redes sociais, cresce o interesse de jovens por carreiras no campo da gastronomia. O caminho até o sucesso é árduo e exige resiliência de quem quer fazer um nome no ramo.

Isso é um consenso entre os grandes chefs da atualidade Claude Troisgros, André Mifano, Felipe Bronze, Henrique Fogaça e Mara Alcamim. Neste sábado (7), o time de estrelas bateu um papo sobre os bastidores da vida na cozinha em palestra na Olimpíada do Conhecimento, evento organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Serviço Social da Indústria (SESI), em Brasília.

Selecionamos boas histórias e conselhos e para quem quer ter um futuro no mundo da gastronomia. Confira!

CLAUDE TROIGROS
“Tive sorte na vida. Primeiro de nascer numa família que ajudou a mudar a gastronomia na França e no mundo. Segundo, de estar em um momento de mudança na gastronomia. Vim para o Brasil em 1979 e não quis ir embora. Pedi ajuda ao meu pai e ele disse que se eu quisesse ficar no Brasil, não ia me ajudar. Me virei. Quando abri o Rouen, era pequeno, não tinha dinheiro, usava fogão e geladeiras antigos. No primeiro dia, não foi ninguém. No segundo, um casal entrou, olhou o menu e foi embora. No terceiro, entraram dois homens. Comeram e gostaram. Um deles era o José Bonifácio de Oliveira, então diretor-geral da Globo. Ele disse que entrou pelo nome, que é o nome da minha cidade natal na França. ‘Gosto tanto da sua cidade que todos os anos vou à França e como no restaurante Troisgros, você conhece?’, ele me perguntou. Não tive coragem de dizer que era o restaurante do meu pai. No dia seguinte, tinha uma fila de globais para comer no meu restaurante. Tive sorte.”

- Claude hoje tem seis conceituados restaurantes no Rio de Janeiro e é apresentador de dois programas televisão de gastronomia. Aprendeu hoje a usar a função do Stories no Instagram.

FELIPE BRONZE
“Quando eu tinha 13 anos me apaixonei perdidamente por esse homem aqui sentado, o Claude Troisgros. Foi para ele também que perguntei para qual escola de gastronomia eu deveria ir. Há 20 anos eu decidi que queria empreender. Lembro exatamente o momento que pensei nisso. Escuto muita história de cozinheiro e é sempre triste. Pensei em como eu ia fazer para viver disso, mas viver legal. Trabalhei em muitos lugares antes de ter o meu. Abrir restaurante está muito longe de ser cozinheiro. Demorei 20 anos para chegar até esse momento. Acho que as possibilidades hoje são inúmeras. Primeiro que o mundo caminha para profissionais muito especializados, acho que o emprego como conhecemos hoje vai mudar drasticamente. Nisso, eu acho que o curso técnico em gastronomia prepara você e te habilita a ser responsável pela própria carreira, te estimula a empreender. Existem mais carreiras relacionadas à cozinha, o que é muito bom. Segundo que, com um telefone na mão, você consegue mostrar o seu talento para o mundo, produzir o seu próprio conteúdo.”

- Bronze é dono de três restaurantes e é apresentador de dois programas de TV. Ele assina o único menu do Rio de Janeiro que tem duas estrelas Michelin, o mais importante guia da alta gastronomia mundial.

HENRIQUE FOGAÇA
“Todo mundo tem uma história e um mérito para frente. Gastronomia não é glamour. É trampo pesado. Não dormi direito por dois anos quando abri o Sal, meu primeiro restaurante. De madrugada fazia feira, comprava peixe, abastecia o restaurante e trabalhava de dia. O modismo passa. O que é de raiz sobrevive. A cozinha é isso. Os programas de televisão estão inspirando as pessoas. A gente nasce comendo e morre comendo. O Brasil tem uma gastronomia grande, temos tanto potencial. Mas tem que ter sangue no olho, muita determinação e ralar. Para quem tem corpo mole, oportunidade não vai ter.”

- Fogaça é dono de três restaurantes e jurado de um dos maiores reality-shows de gastronomia da TV. A voz rouca de Fogaça também pode ser ouvida no vocal da banda Oitão.

MARA ALCAMIN
“Mudei muito o meu conceito sobre o ensino técnico depois que conheci o trabalho do SENAI. Quem teve a oportunidade de ir na cozinha da Olimpíada vê um trabalho surpreendente. E a partir de agora o restaurante Universal só vai aceitar estagiários do SENAI. Lá a gente arranca o couro, mas é experiência para vocês. Vamos começar uma grande história em Brasília para que outros restaurantes façam o mesmo.”

- Mara Alcamin é dona de um restaurante e colunista de gastronomia. Uma vez por mês o cardápio é preparado especialmente para moradores de rua.

ANDRÉ MIFANO
“Chorei todos os dias na primeira semana do meu primeiro emprego na cozinha. Pensava que ninguém merecia aquela vida. Mas tinha uma coisa em mim que me fazia voltar porque sabia que meu futuro estava na cozinha. Trabalhei em muito lugar, aprendi muito, tive sorte, mas também ralei. Demorei a entender, mas hoje eu vejo como a comunicação e a tecnologia fazem parte de tudo que a gente faz. A comida só vale alguma coisa se você conseguir alcançar algo maior do que aquelas pessoas que vão ao seu restaurante.”

- Mifano é dono de um restaurante em São Paulo e jurado de um reality-show de gastronomia na TV. Ele inspira sua equipe ao som de Hell's Bells, da banda australiana AC/DC.

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