Novo barco escola do SENAI forma primeira turma nos rios da Amazônia

Mais de 50 mil alunos já foram qualificados pela educação profissional itinerante do SENAI

De Tefé, o Samaúma II segue ainda este ano para os municípios de Coari, Tapauá, Itapiranga e São Sebastião do Uatumã

Histórias de superação e esperança marcaram a solenidade de formatura, nesta terça-feira (3), dos primeiros alunos do barco escola SENAI Samaúma II, no município de Tefé, a 523 quilômetros de Manaus, no rio Solimões. Depois de quase três meses do início das aulas, em dezembro último, 756 alunos receberam o certificado de conclusão nos 22 cursos oferecidos na embarcação. 

"Essa formatura é especial para mim, pois há 36 anos o nosso primeiro barco escola, o Samaúma, formava sua primeira turma, também neste município, construindo uma vitoriosa trajetória”, discursou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), Antonio Silva. A educação profissional itinerante do SENAI pelos rios da região já qualificou mais de 50 mil alunos. “Estamos levando o ensino de excelência, alinhado às potencialidades e necessidades locais, proporcionando oportunidade de melhoria de vida para os moradores do interior da Amazônia", disse Silva. 

Esta foi a sexta visita do Samaúma a Tefé, desde a viagem inaugural do primeiro barco, em 1979. Nesses 36 anos, o programa de educação itinerante qualificou 2.085 moradores locais em áreas como panificação, mecânica e eletricidade. Na grade atual, foram oferecidos ainda os cursos de tecnologia da informação e empreendedorismo, entre outras novidades. 

“A qualificação do SENAI amplia a oportunidade de emprego e renda para nossa população, e o barco escola deu acesso às pessoas interessadas em ter uma profissão e que agora estão qualificadas para entrarem no mercado e contribuírem com o crescimento de nosso município”, disse o prefeito de Tefé, Jucimar Veloso. 
 

Ozevan de Sales (direita) fez o curso de eletricista residencial. Com a qualificação, ele quer trabalhar para elevar a renda da família

DEDICAÇÃO - O técnico em eletricidade Raimundo Nazaré, um dos instrutores da equipe do Samaúma II, ministrou os cursos de eletricidade residencial e de comandos elétricos e revela que a primeira atuação como instrutor no barco escola foi gratificante. “Adquiri experiência que marcará minha vida como instrutor. Aqui observamos interesse maior dos alunos e a vontade que eles têm de aprender e crescer na profissão”, afirmou Nazaré. 

Ozevan de Sales, 23 anos, foi aluno de Nazaré no curso de eletricista residencial. Ele dedicou 40 dias à qualificação, deixando o trabalho pesado da plantação e cultivo da terra para aprender uma nova profissão. O pai, José Rougevan, 51 anos, e a mãe, Noemi de Sales, 42, o apoiaram na busca pelo conhecimento, almejando um futuro melhor para o filho. Eles acreditam que a qualificação do filho elevará a qualidade de vida de toda a família, formada por 15 membros. 

“Sempre tive curiosidade na área de eletricidade e agora sei como fazer esses serviços. Espero conseguir um emprego na cidade e ganhar um salário bom para ajudar ainda mais a minha família”, reforçou Ozevan. Segundo ele, sua renda familiar gira em torno de R$ 1 mil reais mensais, por meio da venda de hortaliças e outros produtos agrícolas. 

A família de Ozevan mora na Comunidade São Jorge, a uma distância de 50 minutos de viagem pelo rio até a sede do município onde está ancorado o Samaúma. Para concluir o curso de eletricista, com carga horária de 160 horas, ele precisou abrir mão de oito horas diárias de trabalho na roça, e enfrentar duas horas de idas e vindas diárias entre a comunidade e Tefé. “Precisava sair de casa às 11h e só retornava às 19h devido à lentidão do transporte”, conta. 

Para o pai do aluno, a decisão de permitir a ausência do seu braço direito nos serviço de plantio e colheita foi acertada. “Sempre queremos o melhor para nossos filhos e o Samaúma trouxe uma grande oportunidade para Ozevan e para nós. Fizemos um sacrifício danado, pois além de não poder contar com ele na roça, ainda precisávamos pagar pelos três litros de gasolina para ir e voltar do curso e isso não foi nada fácil”, disse Rougevan, lembrando que o litro da gasolina em Tefé custa R$ 4,00. 

A barreira da distância também foi rompida por Waldernan Assis, 18 anos. Ao decidir que iria se inscrever no curso de operador de microcomputador, o aluno já imaginava os desafios que deveria superar com relação à falta de transporte público do bairro Vila Nova, a 20 quilômetros do centro de Tefé. O ônibus passava em horários incertos e, por conta disso, Waldernan teve de dormir muitas vezes em casa de parentes, pois o percurso era longo e demorado. “Eu precisava me qualificar, pois é importante ter um curso profissional que me dê mais chances de conseguir um emprego”, disse Waldernan.

Valdo Vasques fez o curso de torneiro mecânico na primeira turma formada pelo Samaúma em Tefé, em 1979. Agora, no Samaúma II, ele conquistou uma segunda profissão: a de pedreiro

QUALIFICAÇÃO NAS DUAS EMBARCAÇÕES - Localizada na Mesorregião do Centro Amazonense, com uma população de 62.662 habitantes, Tefé foi escolhida pelo Sistema FIEAM para receber o primeiro atendimento do Samaúma II como homenagem ao município onde o Samaúma I começou, em fevereiro de 1979. Naquela ocasião, cerca de 100 alunos receberam diploma nas primeiras turmas dos cursos de mecânica, marcenaria e confecção de roupa. 

Um desses alunos era Valdo Vasques, que se manteve em Tefé nos 36 anos seguintes graças ao curso de torneiro mecânico que concluiu na oficina do barco escola Samaúma em sua primeira turma. Agora, ele não perdeu a oportunidade de fazer outro curso, mas numa área bem diferente, a de pedreiro. 

Vasques foi um dos alunos certificados pelo Samaúma II nesta terça-feira (3). Além da construção civil, foram contempladas as áreas de panificação e confeitaria, mecânica diesel, de popa e de manutenção, tecnologia da informação, bem como confecção do vestuário e mecânica de motocicletas.

Inaugurado em fevereiro do ano passado, em Manaus, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, o Samaúma II tem missão semelhante à do barco escola pioneiro da Rede SENAI, o Samaúma: certificar trabalhadores para atuar em seus respectivos municípios, contribuindo para a geração de novos postos de trabalho, com empreendedorismo e sustentabilidade, em cidades distantes das capitais da região Norte. A diferença é que o novo barco foi projetado de acordo com os novos tempos: é dotado de estação de tratamento de água e efluentes, e sistema de energia solar, o que faz dele um exemplo ecologicamente correto e referência em sustentabilidade. 

A partir da entrada em ação do Samaúma II, o SENAI Amazonas vai duplicar o atendimento aos municípios do Norte, com a oferta de 4 mil vagas anuais em suas duas unidades fluviais. Para este ano, a meta é atender 2.500 alunos com a nova embarcação e 1.500 com o Samaúma, que está a serviço, desde 2013, no Amapá, onde já certificou 3.427 alunos. 

A tripulação do Samaúma II, formada por 11 instrutores do SENAI, ministra cursos embarcados nas oficinas da própria embarcação, e desembarcados, em salas e ambientes oferecidos pela prefeitura local. No total, foram formadas 31 turmas em Tefé, nos turnos vespertino e noturno. 

De Tefé, o Samaúma II segue para o município de Coari, a 444 quilômetros de Manaus, com previsão de iniciar a programação de 23 cursos no dia 16 de março. A perspectiva é certificar 500 alunos nos próximos dois meses. Depois de Coari, o barco segue ainda este ano para Tapauá, Itapiranga e São Sebastião do Uatumã.

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