Eu passei: alunos SESI garantem vaga em universidades federais e a nota máxima do ENEM

João Marcos Silva Borges tirou a maior pontuação do exame na prova de matemática. Ele e outros alunos da rede contam como se prepararam para os processos seletivos

Cerca de 2,7 milhões de estudantes prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2020, em janeiro deste ano. No dia 29 de março, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disponibilizou as notas para os candidatos, e alunos do Serviço Social da Indústria (SESI) dos 27 estados comemoraram os bons desempenhos.

Duas semanas depois, saiu o tão aguardado resultado do Sistema de Seleção Unificada (SISU), que utiliza as notas do ENEM para seleção em 209,1 mil vagas de 110 universidades públicas federais, estaduais e municipais do país. Para os jovens que passaram meses se dedicando diariamente ao exame foi a conclusão bem-sucedida da fase escolar e o primeiro passo de uma nova caminhada.

Mudança para medicina: o lado humano da profissão

Um desses alunos é João Marcos Silva Borges, que viu sua vida mudar com uma sucessão de acontecimentos. Primeiro foram as provas e as admissões nas universidades de São Paulo (USP), de Campinas (Unicamp) e de Juiz de Fora (UFJF) para o curso de Engenharia Ambiental. 

No final de março, quando saíram as notas do ENEM, ele foi surpreendido ao saber que tinha alcançado a nota máxima das provas objetivas, registrada na área de matemática e suas tecnologias: 975. Era o prenúncio de que ele conseguiria a sonhada vaga em medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

“A pandemia afetou muito a gente. Vimos que a saúde tem um lado humano muito importante. Pensei, vai que eu consigo passar em medicina. Eu prefiro exatas, mas esse lado humano na convivência é essencial, a empatia com o outro”, justifica.

Desde o 2º ano do ensino fundamental, ele é aluno da Escola Integrada SESI SENAI José Bento Nogueira Junqueira, de São Gonçalo do Sapucaí (MG), município com cerca de 25 mil habitantes. Segundo ele, o esquema de semana de provas, com três avaliações a cada dia, ajudou. 

A rede SESI também adota abordagem educacional STEAM, sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes/Design e Matemática - áreas de conhecimento que devem ser prioridade na formação e precisam ser trabalhadas de maneira integrada.

Formação para desenvolver talentos

Nesse ambiente, João teve a oportunidade de desenvolver um talento que, ele acredita, começou na mercearia dos pais: “Sempre tive facilidade com exatas como um todo, mas matemática é mais forte. Como meus pais já têm comércio, fui acostumado a fazer conta, dar troco”. 

Como um reforço e a oportunidade de ver a teoria aplicada na prática, facilitando o aprendizado de conteúdos densos e muito abstratos, como os de física, ele fez o curso técnico em eletrônica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) no 1º e 2º ano do ensino médio.

Entre as cinco universidades para as quais passou, o estudante acabou optando pela UFMG. Ele está ansioso para começar essa nova etapa, mas parece viver um dia de cada vez, sem pressa. Além de se mostrar bastante solícito e atencioso, tem desenvoltura e lista as recentes conquistas com tranquilidade.

Simulados, provas antigas e redações fazem a diferença

Esse modo prático de ver as coisas é adotado por vários alunos que tiveram bom desempenho, quando eles se lembram da preparação. 

“Nunca tive nervosismo pré prova, tive uma preparação tão boa, fiz tanta prova, que era só mais uma. Todo fim de semana fazia vestibular de uma faculdade diferente. Pesquisava no site da instituição, que eles disponibilizam provas antigas, baixava e fazia on-line”, conta João Marcos.

Aprovada para engenharia civil na Universidade de Pernambuco (UPE) e para engenharia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Geovanna Rodrigues dos Santos tinha uma rotina semelhante. Ela fez o 1º e o 2º ano do ensino médio no SESI de Recife.

Conheça outros temas: Tecnologia 5G , Engenharia, Lean Manufacture, Licenciamento ambiental, Saúde e Segurança no Trabalho, Privatização, Retomada do crescimento, Economia, Cibersegurança, Micro e pequena empresa, Comércio Exterior

“Fazia duas redações por semana. Com o tempo, a gente vai se acostumando. Foi bom porque completei a redação do ENEM bem rápido, já tinha feito uma sobre o mesmo tema. O importante é não se cobrar muito, porque o tempo de estudo não conta tanto, mas sim a qualidade. Pressionado, você não rende. E a prova é muito estratégia, priorizar assuntos mais importantes, cuidar da saúde mental”, opina.

Redação aborda problemas sociais

De Goiana, também em Pernambuco, Lorena Guerra Moura Dantas não quis esperar o resultado do SISU para começar a graduação. Ela cursa farmácia no Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) e, apesar de comemorar a aprovação na Universidade Federal de João Pessoa (UFPB), está satisfeita e pretende continuar na Unipê. 

Assim como Geovanna, ela alcançou 980 na redação, cujo tema foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. Em todo o Brasil, apenas 28 estudantes tiraram a nota máxima, de mil pontos.

“Acho que é como a professora sempre falava na sala, tem que praticar, estudar e ter um repertório social, humano e histórico, porque a redação envolve conhecimentos gerais do mundo, principalmente questões humanas e sociais”, observa Lorena.

Novo Ensino Médio prepara para mercado de trabalho e universidade

Alunos da turma pioneira do Novo Ensino Médio, Igor Roberto Mendonça de Oliveira Brito e Ivo Fábio de Sousa Cidrão estão no time de futuros engenheiros. Filho de pais autônomos, ambos com ensino médio completo, Igor passou para engenharia de energias na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). 

Ele conta que, no começo do ensino médio, sentiu dificuldades em relação à matemática e teve que assistir vídeos de reforço no Youtube e frequentar aulas no contraturno, incluindo oficinas de redação e inglês, para conseguir acompanhar o conteúdo. 

Já Ivo Fábio, cuja mãe é dona de casa, conquistou a vaga para engenharia de alimentos na Universidade Federal do Ceará (UFC). Durante o ensino médio, os dois fizeram o itinerário de formação técnica e profissional com o curso técnico de eletrotécnica - conhecimento que despertou o interesse de ambos para a engenharia elétrica, campo no qual pretendem atuar.

Os estudantes nem começaram a graduação e já estão de olho no mercado de trabalho. Ivo trabalha na Avim, maior distribuidora de ovos do Nordeste, na área de manutenção elétrica; e Igor já vislumbra as oportunidades com as novas tecnologias e as energias renováveis.

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