Especialistas internacionais debatem os desafios da educação: do aprendizado à formação técnica

Evento do jornal O Globo Educação 360, que conta com apoio do SESI, traz grandes nomes do Brasil e do mundo para debater assuntos sensíveis à educação, como a capacidade de aprendizagem, ensino profissional, cotas e diversidade

"Existe uma crise de aprendizagem no mundo. E há desigualdade de desempenho entre países e dentro dos próprios países entre ricos e pobres, por exemplo. Isso precisa ser combatido”, defendeu David Evans, representante do Banco Mundial

Especialistas do Brasil e do mundo reuniram-se, nesta segunda-feira (24), no Rio de Janeiro, para discutir a educação, os desafios e suas trajetórias futuras. O evento Educação 360, ocorre até esta terça-feira (25) no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio e conta com o apoio de instituições como o Serviço Social da Indústria (SESI). Entre os debates realizados neste primeiro dia de programação estiveram questões como os desafios da aprendizagem no mundo, o ensino técnico e a universidade, a política de cotas e a diversidade no ambiente escolar. O encontro é promovido pelo jornal O Globo e Extra e tem a participação do Banco Mundial, universidades, institutos federais e organizações não-governamentais como a indiana Barefoot College. 

A mesa “Universidade ou ensino técnico: antagonistas ou aliados”, contou com a presença do gerente-executivo de Educação Profissional e Tecnológica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Felipe Morgado. O representante da indústria focou na importância da qualificação profissional para as oportunidades que surgirão com a quarta revolução industrial.  

“Relatório do Fórum Econômico Mundial mostra que a estimativa é que 133 milhões de novos postos de trabalho vão surgir com a tecnologia, enquanto 75 milhões de empregos devem desaparecer. Dessa forma, é preciso formar essa mão-de-obra nas habilidades técnicas e emocionais, como o SENAI vem fazendo”, ressaltou.

Morgado defendeu o ensino profissional para diminuir a angústia dos jovens brasileiros na procura pelo primeiro emprego e descreveu as experiências bem-sucedidas de integração do ensino médio com o profissional, realizadas pelas escolas do SESI em parceria com o SENAI. Segundo ele, a experiência pedagógica já ocorre em cinco estados e, até o fim do ano, será realizada em outras 15 unidades da Federação. 

Na opinião da educadora Ana Inoue, participante do debate, experiências de ensino médio articulado com itinerários de formação profissional, como vem sendo feito na Bahia, são importantes para diminuir a evasão do ensino médio e dar uma profissão àqueles jovens que não vão para a universidade após a conclusão do ensino médio - que hoje correspondem à 83% desse público. O entendimento foi compartilhado pelo professor Dante Moura, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. “O ensino técnico não inviabiliza o ensino superior. O sujeito pode escolher o que ele faz com essa formação: se vai direto para o mercado de trabalho, se faz o ensino superior e trabalha, se só estuda na universidade. A escolha é do sujeito de acordo com as suas condições materiais”, ressaltou. 

DESAFIO DO APRENDIZADO - Um dos principais desafios dos países é aumentar o aprendizado dos alunos. Relatório do Banco Mundial traz dados alarmantes. Na África, por exemplo, 75% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental não conseguem interpretar frases simples. Na Índia rural, 48% dos integrantes do 5º ano do ensino fundamental não conseguem resolver questões matemáticas básicas, como a subtração. No Brasil, embora os índices venham melhorando, ainda serão necessários mais de 60 anos para que o país alcance as metas estabelecidas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

“Existe uma crise de aprendizagem no mundo. E há desigualdade de desempenho entre países e dentro dos próprios países entre ricos e pobres, por exemplo. Isso precisa ser combatido”, defendeu David Evans, representante do Banco Mundial. Para ele, é preciso aumentar o financiamento para educação, entretanto, esse incremento de verba deve vir aliado a outros fatores como o investimento no docente - tanto na formação inicial quanto na continuada -, a melhoria da gestão escolar e maior pesquisa e acesso aos indicadores educacionais.

Nuno Crato, ex-ministro de educação de Portugal, trouxe a experiência portuguesa. O país europeu vem subindo os índices educacionais em testes mundiais desde que fez alterações estruturais na educação. Dados apresentados por ele mostraram que Portugal subiu 36 posições no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) nos últimos 20 anos. Para o ex-ministro alguns itens fizeram a diferença no bom desempenho português. “Tudo começa por um currículo mais exigente, centrado nas disciplinas essenciais, com metas estruturadas e progressivas. Arte, opinião crítica e outras disciplinas são importantes, mas elas não podem ser centrais se o aluno tiver deficiências básicas, como a de não conseguir ler”, explica. Nuno contou ainda que as escolas ganharam mais autonomia, assim como créditos para trabalharem alunos com dificuldades de aprendizagem. 

Levar melhoria na qualidade de vida de mulheres e suas comunidades em 96 países é o desafio da Barefoot College (Faculdade dos pés descalços), fundada pelo indiano Bunker Roy. A organização não-governamental qualificou mais de 2.500 mulheres pelo mundo. O foco são as mães e avós de comunidades tradicionais sem acesso a serviços essenciais como a energia elétrica. As mamães solares, como são conhecidas, fazem um curso de seis meses na Índia e aprendem a montar placas solares, levando energia elétrica e conhecimento para as suas comunidades. Uma brasileira da Chapada Diamantina (BA) participou do projeto e outras três, do Amazonas, estão se qualificando no país asiático. “A mulher, ao retornar à sua comunidade, traz mudanças não só para a sua família, como para toda a comunidade que ela está inserida”, reforçou Bunker Roy.

VIOLÊNCIA - Participantes do evento também discutiram temas como os efeitos da política de cotas raciais e indígenas nas universidades. “Os dados mostram que a qualidade do curso não cai e o desempenho dos cotistas não é menor do que os não-cotistas. Além disso as cotas trouxeram maior diversidade, estímulo para novos ingressantes e justiça social”, defendeu Naercio Menezes, professor e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. Houve debates ainda sobre diversidade na escola e sobre o papel transformador da educação em comunidades pobres, como a Favela da Maré, no Rio de Janeiro.  

Nuno Crato, ex-ministro de educação de Portugal, trouxe a experiência portuguesa. O país europeu vem subindo os índices educacionais em testes mundiais desde que fez alterações estruturais na educação

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