Espaço de aprendizado além muros da escola estimula a criatividade dos alunos

Avaliação é de especialistas que participaram, nesta quarta-feira (11), do Seminário Internacional SESI de Educação, Para eles, o ambiente também é instrumento pedagógico que deve ser usado para desenvolver inteligências

A escola deve aproveitar a retomada das aulas presenciais, após a pandemia do novo coronavírus, para repensar seus espaços

O espaço da escola ensina e deve ser ampliado para atender às novas metodologias educacionais e auxiliar no aprendizado dos alunos. A avaliação foi feita, nesta quarta-feira (12), por especialistas e educadores durante o 2º  Seminário Internacional SESI de Educação - Educação para o Tempo Presente. O evento, realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho e o Canal Futura, vai até amanhã, sempre das 17h às 19h no Youtube do Serviço Social da Indústria (SESI).

De acordo com a arquiteta e urbanista Úrsula Troncoso, uma das participantes do painel “A escola e suas novas possibilidades: materiais, recursos e a reorganização dos espaços para a garantia da aprendizagem”, a sala de aula tradicional, com carteiras enfileiradas, informa uma postura de disciplina e incentiva a apreensão do conhecimento lógico-matemático, mas não é capaz de estimular as inteligências múltiplas que o ser humano possui. Para ela, a escola deve aproveitar a retomada das aulas presenciais, após a pandemia do novo coronavírus, para repensar seus espaços, a fim de que sejam instrumento do aprendizado. 

“As inteligências são de diversos tipos. A gente pode aprender a inteligência lógico-matemática em um espaço de sala de aula, e ainda assim há limitações, mas existem outras diversas inteligências – musical, do movimento –  que a gente não consegue desenvolver nesse espaço. É preciso repensar se o que a gente quer retomar é a mesma escola da mesma maneira, se a sala de aula pode continuar sendo uma matriz, e entender o que seria essa escola pós-sala de aula”, afirmou ela. 

Úrsula Troncoso é uma das autoras do Manual Técnico para Escolas Saudáveis, elaborado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), que traça protocolos para a volta das aulas presenciais. Uma das principais recomendações é a retomada das aulas ao ar livre, já que a saúde em espaços externos não está relacionado apenas a vírus. O contato com verde ajuda a fortalecer o sistema imunológico e a desenvolver competências cognitivas de crianças.

Ruas e praças próximas da escola podem ser usados com resultados extraordinários

Segundo a arquiteta, é possível expandir o espaço do aprendizado para além dos muros da escola, utilizando ruas e praças próximas, com baixo custo para contribuir com o projeto pedagógico escolar. “A primeira coisa é melhorar os espaços externos das escolas, uma coisa que dá para fazer rápido, sem gastar muito dinheiro, e trabalhar com elementos naturais, desde as coisas mais simples, madeira, grama, pedra, areia, sol, vento, ar. É possível fazer uma mudança real e significativa mais ou menos em tempo curto e não gastando muito dinheiro”, orientou.

Foi exatamente o que fizeram os gestores da Escola Municipal Professor Waldir Garcia, em Manaus, há quatro anos. A escola, que tem grande demanda de alunos estrangeiros, como venezuelanos e haitianos, sofria com alta evasão e resultados negativos nos exames nacionais de desempenho e qualidade. A diretora Lucia Cristina Santos conduziu então um processo de total reformulação, que começou pela alteração do ambiente escolar. 

“Em 2016, acabamos com todas as carteiras da escola, criamos ambientes de trabalho com mesas, e a sala de aula passa a ser mais atrativa. Esse novo ambiente favorece o trabalho em colaboração e que os alunos conversem, se olhem, dialoguem; incentiva o trabalho colaborativo, trabalhando a autonomia. Passamos também a conhecer todo o entorno da escola. A gente precisa ir além dos muros, explorar novos territórios de aprendizagem, tendo a figura do professor mediador”, contou a educadora. 

Os resultados foram extraordinários. Além de maior envolvimento dos alunos com o ensino, entusiasmo e disciplina, as notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação, saltaram de 3,5 para 7,5 – entre as mais altas do país. A meta do Brasil é atingir média 6 no Ideb até 2021. 

“Hoje temos a Waldir Garcia uma escola contemporânea, que respeita a singularidade, o tempo e  o ritmo de cada criança, que aprende com a diversidade e as diferenças, que desperta a alegria de aprender em todos. A gente trouxe para a escola a observação, a experimentação, a ressignificação do aprender”, resumiu a diretora. “Com isso, trazemos um sentido, conectamos a escola com a vida, uma escola além dos muros. Como consequência, a gente tem uma educação personalizada e coletiva, que garante a todos o direito de aprender. Nós mudamos a escola, melhoramos a educação e transformamos vidas.”

Escola deve permitir a fabulação, com a criação de novas possibilidades pelos alunos

O caminho percorrido pela Escola Professor Waldir Garcia contém elementos do que o diretor acadêmico da Fundação Santillana, Miguel Thompson, propõe para transformar a educação. Ele sugere que escola trabalhe um conjunto de habilidades básicas: análise, uma aula com decomposição de problemas; síntese, a capacidade de encontrar regularidades em coisas díspares; imaginação, a imagem em ação, o uso da criatividade para produção de novos elementos; dialética, para que as crianças tenham a capacidade de pensar, independentemente de padrões; fabulação, espaço para que a criança crie novas possibilidades; e fruição.

“A partir dessa fruição, dessa fabulação e da brincadeira, a gente pode produzir muitas ideias criativas em uma sociedade que precisa produzir cada vez mais soluções cívicas e de consumo. É fundamental que a gente brinque, crie, continue pensando novas possibilidades, a partir da diversidade”, explicou Thompson durante o seminário nesta quarta-feira. “Uma escola da fabulação, do espaço da diversidade permite com que haja trocas, grandes possibilidades de criação em um mundo de desmaterialização, em que as coisas estão desaparecendo. Os jovens estão vivendo cada vez mais em um espaço imagético e cada vez menos em espaço de coisas.”

É possível transformar a escola com ações de baixo custo

Durante o debate, o gerente-executivo de Educação do SESI Nacional, Sergio Gotti, avaliou que essa transformação da escola é possível com a adoção de medidas simples e de baixo custo, diante da restrição orçamentária por que passa o país. “Precisamos criar ambientes acolhedores, instigantes que diferem do espaço da escola atual. Não é criar o espaço por criar, o espaço precisa ter significado e relevância. Não é simplesmente colocar pufes, novas carteiras, é trazer a relevância e a pertinência em cima do trabalho pedagógico”, explicou.

“Para isso, a gente pode muito bem trabalhar dentro dos espaços que temos. São ações exequíveis, de baixo custo. Temos de ter uma ideia de modificação dentro daquilo que é possível ser feito, pensando que futuramente teremos condições de fazer coisas cada vez maiores.”

Antes mesmo da pandemia, a infraestrutura das escolas SESI já vinha sendo alterada, com o objetivo de acompanhar a mudança metodológica de ensino. Com o uso de ferramentas digitais de aprendizagem e com base no que ocorre no dia-a-dia dos alunos ou das empresas, a escola prepara o estudante para o mundo do trabalho. 

Em turmas-piloto do novo ensino médio, por exemplo, as salas de aula são totalmente diferentes do modelo convencional: mesas grandes e altas, em torno das quais os estudantes se reúnem em grupos e podem transitar pela sala durante as aulas do itinerário formativo técnico de Eletroeletrônica. Para implantar a metodologia, centrada na resolução de problemas, as escolas SESI contam com infraestrutura que estimula o mundo maker (ou ‘mão na massa’), que permite aos estudantes criar e prototipar seus projetos.

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