Formação de professor precisa ter foco na prática, defendem especialistas

No primeiro dia de debates do 2º Seminário Internacional SESI de Educação, educadores defenderam mudança nos cursos de Pedagogia para que o docente seja capaz de desenvolver competências e habilidades nos estudantes

O Brasil tem 2,6 milhões de professores, dos quais 2,2 milhões na educação básica

A formação de professores precisa ter foco na prática para que os docentes sejam capazes de desenvolver nos alunos as competências e habilidades exigidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A avaliação de especialistas em educação que participaram do primeiro dia de debates do 2º  Seminário Internacional SESI de Educação - Educação para o Tempo Presente, nesta segunda-feira (9), é de que o currículo dos cursos de Pedagogia deve ser redesenhado para o que o futuro docente tenha contato efetivo com a experiência de sala de aula desde o primeiro ano da graduação. 

“O conhecimento sobre a docência é desenvolvido na prática, ou seja, sendo professor, mas não é um conhecimento espontâneo, que nasce do nada. É necessária uma base de conhecimento que não é apenas teórica, é composta também pelas técnicas (de ensino)”, afirmou a diretora da Faculdade de Educação da Universidade Diego Portales, em Santiago, Chile, Paula Louzano, durante o painel Formação de professores: ensinar – agir na urgência e decidir na incerteza: tradição e inovação na formação docente.

Segundo ela, a literatura demonstra que o professor deve ter três tipos de conhecimento: do aluno e seu contexto social; do conteúdo da disciplina e o saber ensinar. É necessário, por isso, que a formação inicial e continuada do professor seja também de metodologias pedagógicas e técnicas de ensino e não apenas dos conteúdos a serem ensinados, como ocorre na maioria das vezes. 

“O conjunto de saberes se materializam na prática. Eu só posso dizer que eu sei sobre meus alunos, sobre minha disciplina e que eu sei ensiná-la, isso só importa na medida em que consigo colocar o conhecimento em prática na sala de aula, e, para fazer isso, é preciso integrar os conhecimentos”, explicou a especialista. “O que diferencia um médico de um biólogo e de um químico não é o conhecimento sobre o corpo humano ou sobre a química, mas a capacidade de colocar em prática conhecimentos diferentes de maneira integrada a serviço da saúde de um paciente específico”, comparou.

Docente tem de se adaptar a situações inesperadas

Para o presidente do Instituto Singularidades, Alexandre Scheiner, que também participou do painel,  o docente precisa ter o domínio de diversas metodologias para ser capaz de se adaptar a situações inesperadas, como a que aconteceu durante a pandemia do novo coronavírus. “Devemos formar o professor em diversas metodologias para que ele possa atuar em situações como a que a gente está vivendo hoje ou futuramente com o uso da tecnologia”, defendeu. 

Na sua opinião, o desafio do Brasil nesse campo é do tamanho do universo de professores do país. O Brasil tem 2,6 milhões de professores, dos quais 2,2 milhões na educação básica. Todos precisam de formação continuada para responder aos desafios impostos pela BNCC. Além disso, é preciso mudar a formação inicial para que seja mais voltada à prática, sendo que 60% dos profissionais são formados hoje à distância.

“A gente tem dois grandes desafios: mudar a formação inicial no país para que seja baseada em uma articulação entre o como fazer e aquilo que deve ser ensinado, algo que é um desafio enorme em um país que forma à distância e que mesmo os cursos presenciais não têm essas características”, explicou. “No caso da formação continuada, além de realizar a formação para aquilo que o país declarou que deve ser ensinado e aprendido nas escolas, também em metodologias e práticas novas. Não é um desafio trivial”, afirmou.

Para que isso se concretize, Alexandre Scheiner avalia que é necessária grande articulação com estados e municípios, responsáveis pela educação básica. “A gente vai precisar, em um país que não tem um sistema nacional de educação, buscar uma articulação entre estados e municípios para formação dos professores”, complementou. 

É preciso recuperar papel importante do coordenador escolar

Durante o debate desta segunda, o gerente de Educação Básica do Serviço Social da Indústria (SESI), Wisley João Pereira, também defendeu que é preciso recuperar o papel do coordenador escolar de articulador da formação multidisciplinar do estudante. É o ocorre na rede SESI, especialmente nas turmas que já adotam o novo modelo de ensino médio, baseado em itinerários formativos com foco no desenvolvimento de competências e habilidades.

“A formação na rede SESI é de professores, mas também de gestores e coordenadores. O coordenador, no Brasil, perdeu sua função, deixou de ser o articulador do currículo e de formação de professores. A gente tem de resgatar esse papel fundamental dos coordenadores”, argumentou. 

Na sua opinião, o professor precisará de grande ajuda para “virar a chave”, em uma velocidade muito maior devido à pandemia. Segundo ele, o SESI conseguiu, em quatro dias, migrar todos os seus alunos para o ensino remoto, pois já se preparava para o uso intensivo de novas tecnologias. “Precisamos pensar em como podemos ajudar os mais de 2 milhões de professores neste momento em que dois grandes normativos precisam ser implementados em um cenário em que o professor precisa se reiventar em uma velocidade acelerada pela pandemia”, defendeu.

Em 2019 foram capacitados mais de 3 mil professores de 350 escolas da rede SESI para utilização pedagógica do Minecraft Education Edition e do Office 365, com mais de 30 recursos e ferramentas como Forms, Sway, Classnotebook e Teams. O SESI também desenvolve há 12 anos um programa de Robótica Educacional na educação básica, que oferece serviços de suporte técnico, assessoria pedagógica e formações para os docentes, proporcionando o engajamento nas metodologias e novas formas de aprender e ensinar.

No ano passado, foram realizadas mais de 400 horas de qualificação com 496 docentes formados. Em 2020, em virtude da pandemia, essa demanda aumentou por parte das escolas, e até o momento mais de 2 mil docentes foram formados.

Durante o primeiro dia do seminário, o professor unidocente de Eduação de Jovens e Adultos (EJA) da Fundação Roberto Marinho, João Filipe Brasil, também apresentou sua experiência de formação continuada. Até sexta-feira, especialistas nacionais e internacionais debatem temas fundamentais da escola do século 21, que estimule o envolvimento ativo dos alunos com experiências da vida real, por meio da solução de problemas, da investigação, da descoberta e da inovação. 

Os encontros são sempre das 17h às 19h, no YouTube do SESI. Nesta terça-feira (10), um dos palestrantes é o professor adjunto da Universita Cattolica del Sacro Cuore di Milano, Pier Cesare Rivoltella. O especialista é um dos pesquisadores europeus que mais tem produzido no campo de mídia-educação e participará do painel Tecnologias Educacionais: a experiência de aprender no mundo 4.0.

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