Digitalização e automação dos processos produtivos criam novos desafios para a educação brasileira

Proposta da CNI que foi entregue a candidatos à Presidência da República defende promover a qualidade da educação para que os trabalhadores possam interagir com novas tecnologias e métodos de produção

A qualidade da educação é um desafio antigo do Brasil. Apesar do avanço na universalização do ensino básico, o país tem 6,9 milhões de jovens entre 18 e 24 anos que não trabalham nem estudam. Apenas 11,1% dos alunos do ensino médio estão cursando educação profissional, e somente 15% da população entre 25 e 64 anos tem o ensino superior completo. Esses números impactam diretamente na inserção dos brasileiros no mercado de trabalho e nos níveis de produtividade e inovação da indústria. É o que mostra o estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Educação: a base para a competitividade.

De acordo com o documento, que integra uma série de 43 trabalhos sobre temas estratégicos que a CNI entregou aos candidatos à Presidência da República, o Brasil precisa estabelecer novas políticas públicas educacionais para enfrentar o desafio de preparar jovens e adultos para um mercado de trabalho em profunda mutação tecnológica e organizacional diante da 4ª revolução industrial. Para promover a competitividade, a qualificação dos brasileiros deve acompanhar os avanços e a sofisticação dos processos produtivos.

“Os esforços empreendidos na área educacional nas últimas décadas resultaram em algumas importantes conquistas em termos de acesso, mas não conseguiram equacionar problemas relacionados à qualidade do ensino, tampouco assegurar a universalização das matrículas do ensino médio”, afirma o estudo. Nesse novo ambiente, ganham destaque competências e habilidades relacionadas à criatividade, ao empreendedorismo, à gestão de equipes, ao trabalho colaborativo e à tomada de decisões complexas, que precisam ser apoiadas por conteúdos curriculares flexíveis e experiências práticas.

A aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e o ensino fundamental e a recente reforma do Ensino Médio, com a inclusão da formação técnica e profissional no currículo regular, são colocados como avanços. Mas o documento mostra que, para alinhar o sistema de educação brasileiro às melhores experiências internacionais, ainda há muito a ser feito.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – O modelo educacional do Brasil precisa ser modernizado e avançar para um formato capaz de reter os alunos até sua formação básica integral. Além disso, é preciso adequar a educação profissional às demandas do setor produtivo e ampliar a oferta de cursos técnicos, articulados com o ensino médio e com a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“Nos países desenvolvidos, a média de jovens que se dedicam a cursos técnicos é de 50%. Na Áustria, esse percentual chega a 75%. Mas, no Brasil, apenas 11% dos estudantes fazem o ensino médio em paralelo a educação profissional”, explica o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), Rafael Lucchesi.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ALIADA AO ENSINO MÉDIO - Em sua visão, inserir a educação profissional como projeto de Estado é crucial para o Brasil – gera ampliação de oportunidades e renda para a juventude e competitividade para o ambiente de negócios. “Jovens bem preparados e com formação sólida são fundamentais para o crescimento econômico, por serem uma força de trabalho criativa, com grande capacidade de absorção de conhecimentos e de novas tecnologias”, afirma.

Nesse sentido, o estudo da CNI defende ainda a revisão do sistema brasileiro de aprendizagem profissional. Embora a contratação de aprendizes pelas empresas seja compulsória e estabelecida por lei, apenas 10% dos egressos do programa têm seus contratos efetivados. A saída para esse problema, segundo o documento, está na criação de efetivas do setor produtivo.

É recomendado também o aumento do tempo de duração dos programas (de dois para três anos) e a elevação da idade mínima dos aprendizes (de 14 anos para 16 anos de idade). Hoje, muitos estudantes finalizam a aprendizagem antes de completarem 18 anos, e não podem ser absorvidos de maneira imediata pela indústria. “Nessas situações, o jovem tem suas expectativas frustradas e a empresa não se beneficia do programa”.

Para promover a competitividade, a qualificação deve acompanhar os avanços e a sofisticação dos processos produtivos

DEMAIS PROPOSTAS – Em face ao avanço da tecnologia e da importância crescente de inovação, também é preciso que o Brasil tenha maior volume de engenheiros e tecnólogos industriais. Assim, o estudo destaca a necessidade de promover a formação de profissionais nas áreas de ciências exatas. Atualmente, apenas 16% dos diplomas universitários estão relacionadas a Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Em países como a Alemanha e Finlândia, os percentuais de graduados nessas áreas são de 37% e 29%, superando a média da OCDE (25%).

Para o desenvolvimento do país, é necessário estimular a formação continuada dos docentes; estabelecer uma Política Nacional de Gestão Escolar; modernizar as estratégias de ensino e incentivar o uso de tecnologias educacionais em todos os níveis da educação. Não obstante, o estudo da CNI mostra que é preciso desenvolver políticas públicas para qualificar jovens em situação de risco social, “visando promover a sua reinserção no meio educacional e ampliar as possibilidades de integração com o mercado de trabalho”. 

Veja abaixo as principais agendas na área de educação, propostas pelo estudo:

  • Atualizar estratégias de ensino, material didático e currículos escolares;
  • Elaborar políticas pedagógicas com ênfase nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM);
  • Detalhar a BNCC para o novo ensino médio e ampliar a oferta de formação técnica e profissional;
  • Dar ênfase na formação inicial e continuada dos docentes;
  • Construir e incentivar o uso de tecnologias educacionais e plataformas online;
  • Ofertar novos cursos de licenciatura, segmentados por área de conhecimento;
  • Valorizar os profissionais e assegurar a existência de planos de carreira para o magistério;
  • Ampliar a oferta de vagas para cursos de Educação Profissional;
  • Estimular a formação de profissionais em ciências exatas;
  • Adequar a oferta de educação profissional e superior às demandas do setor produtivo;
  • Revisar a política de financiamento à educação, equilibrando o investimento entre os níveis básico e superior;
  • Estabelecer uma Política Nacional de Gestão Escolar;
  • Promover a avaliação dos cursos de educação profissional quanto a qualidade e efetividade;
  • Criar condições para a efetiva implantação da nova lei do ensino médio, sobretudo no que diz respeito à sua integração com o ensino profissional;
  • Reestruturar o sistema de aprendizagem profissional e consolidá-lo como política pública educacional, contribuindo para o processo de profissionalização dos jovens;
  • Modernizar a metodologia de ensino e melhorar a efetividade dos resultados da Educação de Jovens e Adultos (EJA);
  • Ampliar a oferta do EJA integrado à formação profissional;

AÇÕES PARA O BRASIL CRESCER MAIS E MELHOR - Os 43 documentos com propostas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para o novo governo foram elaborados com base no Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, que aponta os caminhos para o Brasil construir, nos próximos quatro anos, uma economia mais produtiva, inovadora e integrada ao mercado internacional. Os estudos sugerem ações em áreas como eficiência do estado, segurança jurídica, infraestrutura, tributação, educação, meio ambiente, inovação, financiamento e segurança pública.

As propostas foram discutidas com os presidenciáveis durante o Diálogo da Indústria com os Candidatos à Presidência da República, em Brasília. A CNI apresenta as propostas da indústria aos presidenciáveis desde a eleição de 1994.

SAIBA MAIS - Leia todas as notícias sobre as propostas da indústria para as eleições 2018.

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