Aplicação prática e possibilidade de escolher o que estudar revolucionam educação

Na sexta reportagem, a série especial do site Poder 360, com apoio da CNI, Caminhos da Indústria - desafios e oportunidade, mostra que o Espaço Maker, em escolas do SESI, torna os alunos protagonistas da aprendizagem. E destaca ainda que o novo ensino médio aumenta autonomia do estudante

Meditação, robótica e testes de raciocínio lógico são as atividades que a estudante Emanuelle Jeremias, de 8 anos, mais gosta de fazer no Espaço de Educação Maker do Serviço Social da Indústria (SESI) de Blumenau (SC). “A gente aprende aqui coisas que nunca vamos aprender na sala de aula”, afirma a estudante.

Inaugurado em março de 2017, o espaço ocupa uma área de 1200 metros quadrados no Complexo Esportivo Bernardo Werner. Em um galpão sem paredes e sem mesas individuais, estudantes com idades entre 7 e 17 anos testam na prática conhecimentos de artes, ciências, física, matemática, robótica e até de culinária e de edição de vídeos. A ideia central da educação maker é fazer com que os alunos sejam protagonistas do próprio processo de aprendizado, treinando habilidades que serão fundamentais ao longo da trajetória educacional e profissional.

“Na escola, os alunos aprendem muito a teoria. Aqui eles vêm para pôr em prática tudo que eles aprenderam na escola. Eles vêm para pôr realmente a mão na massa, que é o principal objetivo da educação maker: desenvolver as competências do século XXI, como por exemplo a comunicação, a resolução de problemas complexos, a criatividade e a autonomia. E todas essas coisas por meio de desenvolvimento de projetos. A gente trabalha com foco em projetos e aqui o aluno é o protagonista, é ele que vai escolher aquilo que vai fazer, a forma como vai fazer, como ele quer pesquisar. Sempre com auxílio dos nossos instrutores que vão mediando as situações e direcionando para que ele aprenda e construa da melhor forma o próprio conhecimento”, afirma Ketlin Endler Cubas, supervisora no espaço.

Conheça mais do Espaço de Educação Maker no vídeo. 

O Espaço de Educação Maker do SESI de Blumenau atende entre 350 e 400 alunos por semestre. Os estudantes trabalham em grupos e podem utilizar equipamentos diversos, desde computadores, drones e impressoras 3D até furadeiras, lixadeiras e retíficas. Softwares para programação e para modelagem em 2D e em 3D também estão disponíveis. Bolívar Fernandes é instrutor no espaço e, para ensinar robótica para crianças a partir dos sete anos de idade, ele usa técnicas como engenharia reversa de sistemas já construídos e divide atividades complexas em tarefas menores, para que os pequenos não percam o foco. “É desafiador, mas ao mesmo tempo incrível ensinar robótica para essa faixa etária. Eles têm muita criatividade para criar soluções para os problemas propostos”.

A educação maker ganhou força e se disseminou em escolas da rede pública e da rede privada do país nos últimos 15 anos, mas não há números precisos sobre o total de instituições de ensino que possuem espaços makers ou que utilizam o modelo STEM, sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

O modelo STEM busca fortalecer a formação teórica e prática nessas 4 áreas do conhecimento e impulsionou a criação de espaços makers em escolas de todos os níveis – infantil, básico e médio. Há uma variação do modelo em que o estudo de artes é incluído, modificando a sigla original para STEAM. As instituições de ensino que utilizam essas metodologias devem adaptar as atividades propostas para os estudantes à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

No Espaço de Educação Maker do Sesi de Blumenau (SC), estudantes de sete a 17 anos têm autonomia para escolher o que e como querem estudar

NOVO ENSINO MÉDIO - Aumentar a autonomia e o protagonismo dos alunos também é um dos objetivos do novo modelo de ensino médio que está sendo implementado no país. Aprovada em 2017, a reestruturação prevê aumento da carga horária dos estudantes, que poderão escolher a quais áreas do conhecimento irão dedicar 40% do tempo que gastarão na escola – os outros 60% serão destinados ao currículo comum.

A lista de disciplina também foi revisada, e as áreas de conhecimento foram divididas em 5 grandes grupos: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias e formação técnica e profissional. Matemática, língua portuguesa e língua inglesa serão obrigatórias para todos os estudantes nos 3 anos – assim como a língua materna no caso de estudantes indígenas.

No 1º ano do ensino médio, os alunos poderão escolher em quais das 5 áreas desejam se aprofundar, de acordo com os interesses profissionais. Entre as opções de itinerário formativo, está a possibilidade de realizar, junto com o ensino médio, curso técnico na área que o estudante escolher. No ano passado, 23 estudantes do SESI Escola de Brusque (SC) participaram de projeto piloto no estado: eles ingressaram no 1º ano já seguindo as diretrizes do novo ensino médio e seguindo itinerário formativo com capacitação técnica em desenvolvimento de sistemas. O módulo inicial do curso técnico teve aulas que abordaram a importância do autoconhecimento, detalharam as atividades cotidianas que inúmeras profissões realizam e explicaram como criar projetos de vida e de carreira. Confira a grade curricular para os 3 anos do curso.

Na avaliação da supervisora de ensino médio da escola, Louise Dorow Caetano, os alunos receberam bem as novidades: “Tudo que é novo gera uma insegurança, tudo que é novo gera uma ansiedade muito grande. É um desafio e os alunos gostam de desafios, ainda mais na adolescência, eles gostam de coisas novas. Penso que eles aceitaram muito bem. Tanto que é uma turma que trabalha muito bem em grupo, é uma turma muito bem entrosada desde o início, por mais que eles fossem alunos de várias escolas diferentes. A gente conseguiu perceber que eles estavam muito à vontade desde o começo e trabalham muito bem juntos. Para os pais e até para a equipe pedagógica a gente está, todo mundo, em processo de aprendizagem desse novo modelo, mas estamos todos trabalhando em conjunto.”

As discussões sobre o impacto da mudança do novo modelo na capacitação de professores e na qualidade do ensino ofertado, principalmente na rede pública, começaram antes mesmo da proposta ser aprovada. Se, com um currículo unificado, as escolas não conseguem formar estudantes habilitados para obter bom desempenho em testes internacionais, como terão condições de ofertar itinerários formativos em áreas distintas? E como deverão ser treinados os professores? Integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), Eduardo Deschamps reconhece que o novo modelo traz desafios, mas afirma que as mudanças trazem racionalidade para o ensino médio.

“A ideia básica é de que o novo ensino médio possa ser adaptado aos anseios e projeto de vida dos estudantes. Para os que quiserem seguir direto para o ensino superior, que possam fazê-lo já se aprofundando em temas da área em que irá cursar na universidade. Para aqueles onde faz mais sentido seguir para o mundo do trabalho ao terminar o ensino médio, que possam escolher uma formação profissional que o habilite para boas posições no mercado. Ou seja, que o ensino médio faça mais sentido para o jovem de acordo com suas expectativas de vida.” De acordo com Deschamps, já há experiências bem sucedidas na rede pública de ampliação da carga horária e de possibilidades de escolha dentro dessa carga horária ampliada. 

“Além disso, a lei proporciona algumas alternativas para viabilizar esta nova oferta, como o EaD, as parcerias, entre outras inovações. Logicamente que investimentos terão de ser feitos, mas isso já teria de ocorrer no modelo atual para dar algum ganho, ainda que limitado, de qualidade”, explica Deschamps. O conselheiro afirma ainda que, para os professores, o desafio está na formação, que deverá sofrer transformações por conta do caráter interdisciplinar do novo currículo. Já para as escolas as principais mudanças se referem à organização do tempo dos estudantes, uma vez que eles poderão escolher seus itinerários formativos. “E lógico que há o desafio da infraestrutura e do perfil do corpo docente que a escola deve ter para atender ao novo currículo”, finaliza o especialista.

A série Caminhos da Indústria – desafios e oportunidades é produzida pelo Poder360, com apoio da CNI.

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