A força da robótica na sala de aula: ferramenta ajuda estudantes a melhorarem as notas nas matérias

Segundo professores, pais e os próprios alunos, robótica educacional é uma importante aliada para adquirir habilidades socioemocionais como o trabalho em equipe

O uso da robótica em sala de aula vem sendo construído por décadas. O potencial educacional da tecnologia foi abordado ainda na década de 1960, pelo cientista Seymourt Papert, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, Papert desenvolveu a tartaruga de solo, um robô que podia ser programado por crianças e capaz de desenhar diferentes figuras geométricas. No Brasil, a robótica ganhou ênfase nos anos 2000. Um dos principais disseminadores da prática pelo país é a rede de escolas do Serviço Social da Indústria (SESI), que, há 13 anos, inseriu a ferramenta no currículo escolar e realiza o Festival SESI de Robótica, o principal evento do gênero no país.

Após mais de um década de atuação, a análise da instituição é que a robótica tem mostrado resultados interessantes aos estudantes, como o desenvolvimento de habilidades em matérias como Matemática, Ciências e Linguagens e de competências como a capacidade do trabalho em grupo. Pesquisa realizada pela consultoria John Snow Brasil com participantes do Torneio de Robótica da edição de 2018 apontou que 94% passaram a gostar mais de conteúdos de exatas após a participação no torneio. Além disso, 50% dos entrevistados afirmaram que as notas escolares aumentaram nos últimos 12 meses e 76% acreditam mais em sua capacidade de inovação.

A mãe de Murilo, Luzilene Escardovelli, acompanha de perto o desenvolvimento do filho, tanto em casa como pela escola

O estudante Murilo Zucolotto Escardovelli, 14 anos, é um exemplo de como a robótica pode modificar a postura de um aluno. Ele participa da equipe de robótica do Centro Educacional 148, no SESI de Birigui (SP), desde o 7º ano. Agora, estudando no 1º ano do ensino médio, ele consegue notar os avanços alcançados graças à participação da equipe de robótica do colégio. Uma das primeiras observações é a organização. Segundo Murilo, antes da robótica, ele tinha dificuldade de organizar o tempo, os estudos e as várias matérias do currículo. Atualmente, ele espelha o planejamento de estudos ao usado pela equipe de robótica. 

E não foi só na organização que Murilo notou mudanças. O estudante também aprendeu a gostar de novas matérias. No 7º ano, Murilo não gostava de Física, se concentrava em tirar pontuação suficiente para passar de ano. Depois da robótica, a disciplina não só passou a ser uma das preferidas, como ele faz planos para o futuro. “Penso em seguir alguma carreira em astrofísica. Principalmente depois desta competição, cujo tema foi o espaço e eu entrevistei um astrofísico da Unicamp”. 

A mãe de Murilo, Luzilene Escardovelli, 43 anos, acompanha de perto esse desenvolvimento, tanto em casa como pela escola. Afinal, ela é coordenadora na mesma escola que o filho estuda. “Os alunos que têm oportunidades de participar da robótica, eles desenvolvem muitas habilidades, em relação a pesquisa, autonomia, conhecimentos”, afirma. 

“Meus pensamentos sempre foram muito para as exatas - sempre gostei de Matemática e Física. Mas, por causa das pesquisas para os projetos de robótica, aprendi a ter interesse por Biologia”, conta Diogo

EDUCAÇÃO - Na rede SESI, a robótica está inserida no currículo escolar, ou seja, não é uma disciplina em si, mas um componente transversal que perpassa conteúdos, carregando em si inovação e o despertar para a pesquisa. Ela pode ser usada tanto no dia a dia da sala de aula, como nas equipes escolares, geralmente, no contraturno. 

O estudante Diogo Vieira, 16 anos, está no 3º ano do SESI de Patos (PB). Ele está no projeto de robótica desde o 1º ano e credita à ferramenta a possibilidade de gostar de outras matérias escolares, antes esquecidas. “Meus pensamentos sempre foram muito para as exatas - sempre gostei de Matemática e Física. Mas, por causa das pesquisas para os projetos de robótica, aprendi a ter interesse por Biologia”.

A diretora do colégio em que Diogo estuda, Francileide Rodrigues, conta que trabalha há seis meses na rede SESI e sente a nítida diferença dos estudantes. “A diferença é impressionante. A partir do momento que eles participam da robótica, melhoram a postura em sala de aula, o compromisso é maior, assim como o cumprimento de horários e atividades”, afirma. Isso é bom porque eles vão conversando com os outros e os outros vão gostando desse mundo novo cheio de tecnologia. Irradia com certeza”. 

"A partir do momento que eles participam da robótica, melhoram a postura em sala de aula, o compromisso é maior, assim como o cumprimento de horários e atividades”, destaca a diretora do colégio Francileide Rodrigues

Para Sérgio Gotti, gerente-executivo de educação do SESI, a robótica no currículo escolar do primeiro ano do ensino fundamental até o terceiro ano do ensino médio é um diferencial para o aluno do SESI, que vem se mostrando mais preparado para as avaliações como Prova Brasil e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), assim como para o mercado de trabalho e para os desafios da Indústria 4.0. “A robótica é certamente um indutor dos bons resultados dos alunos do SESI porque eles têm um conhecimento maior do que um aluno que vê as questões só na teoria. Por isso, a robótica é fundamental para nós”. 

A robótica está presente nas 505 escolas da rede em todo o Brasil e atinge cerca de 198 mil estudantes por ano. Por transitar em diversos conteúdos, e robótica é um importante instrumento da abordagem educacional STEAM (sigla inglês que contempla ciências, tecnologia, engenharia, artes e matemática), a tendência enfatiza as disciplinas das áreas de exatas e o protagonismo do estudante na resolução de problemas propostos pelos professores. 

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