Brasil é o menor tomador de recursos do banco dos BRICS em quase quatro anos

Entre 2016 e outubro de 2019, os projetos brasileiros na carteira do Novo Banco de Desenvolvimento representaram 9% do total de empréstimos concedidos pela instituição

Os recursos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido por banco dos BRICS, poderiam reduzir o déficit de infraestrutura do Brasil, mas até o momento, o país ainda não conseguiu aproveitar todas as oportunidades criadas pelo fato de ser sócio do banco, com 20% do capital integralizado. Segundo dados levantados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), atualmente, a instituição detém US$ 11,9 bilhões em financiamento para projetos de infraestrutura sustentável, mas apenas 9%, ou US$ 1,1 bilhão, financia projetos brasileiros.

Há um mês, essa cifra era ainda menor. Com o projeto de US$ 500 milhões para o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), o governo brasileiro aumentou a participação do Brasil de 6% para os atuais 9%. Esse dado mostra que para cada US$ 1 que o Brasil integralizou, o país tomou US$ 1,1 em financiamento. Os outros BRICS têm um desempenho melhor. Dos desembolsos do banco, 32% foram para a Índia, 30% para a China, 15% para a Rússia e 14% para a África do Sul.

Segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi, um dos motivos para esse descompasso é o acesso ao banco. “O Brasil tem uma demanda reprimida para o financiamento de projetos de infraestrutura. Para a indústria, a abertura de um escritório no Brasil vai resolver um problema grave de acesso a esses recursos, como, por exemplo, informações e conhecimento sobre todas as etapas para aprovação de um projeto”, afirma Abijaodi.

Contudo, para o novo escritório tornar-se operacional, é preciso que o Congresso Nacional aprove seu acordo-sede, assinado na Cúpula do BRICS da África do Sul, em 2018, e que se encontra em tramitação na Câmara dos Deputados.

O banco, criado em 2014 durante a Cúpula do BRICS em Fortaleza, foi instituído com aporte dos cinco países do grupo, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que se comprometeram a integralizar em conjunto US$ 10 bilhões até 2021. Cada um já repassou US$ 1 bilhão. Esses recursos são utilizados em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos cinco países.

INFRAESTRUTURA – O Brasil investe R$ 116 bilhões por ano, em média, em infraestrutura, quando deveria desembolsar, pelo menos, R$ 340 bilhões por ano, ou 5% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa diferença cria um déficit anual de R$ 224 bilhões. Ao contrário do Brasil, a China investe 8,6% do PIB em infraestrutura; a Índia, 4,8%; a Rússia, 4,5%; e a África do Sul, 4%.

“A solução dos atuais gargalos da infraestrutura no Brasil passa, obrigatoriamente, pela expansão da participação privada nos investimentos e na gestão da infraestrutura”, explica Abijaodi. Os recursos do NDB não são a solução para todos os problemas, mas o país poderia aproveitar melhor a oportunidade de ter empréstimos a juros internacionais, provenientes de uma instituição da qual é sócio. Entre os bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o NDB é aquele no qual o Brasil tem maior participação societária.

PROJETOS – Dentre os 40 aprovados pelo Novo Banco de Desenvolvimento, cinco são do Brasil. Um dos principais desafios do país é estruturar novos projetos. Por essa razão, o Conselho Empresarial do BRICS (CEBRICS), secretariado pela CNI, defende também a contribuição do Brasil para o Fundo de Preparação de Projetos (PPF, na sigla em inglês) do NDB. Nos dois primeiros anos de operação, 2017 e 2018, o fundo contou com a contribuição de US$ 4 milhões da China, US$ 1,5 milhão, da Índia,  US$ 1,5 milhão, da Rússia.

“O PPF pode ser um instrumento muito útil para o setor privado brasileiro estruturar projetos de acordo com as políticas do NDB. A abertura do escritório em Brasília e em São Paulo diminui a distância física, mas a contribuição do Brasil ao fundo ajudaria a aproximar os projetos brasileiro ao modelo do banco”, afirma Fernanda Maciel, secretária-executiva do CEBRICS.

UNIDADES – O NBD tem sede em Xangai, na China. O Projeto de Decreto Legislativo 657/19 contém o acordo-sede firmado entre o Brasil e o NBD para a criação do Escritório Regional do banco nas Américas, em Brasília e São Paulo.

Relacionadas

Leia mais

Imersões promovidas pela CNI aproximam indústria  brasileira da fronteira da inovação mundial
Startup inova com transmissão de resultados de exames por 3G
Imersão da CNI visita institutos com foco em inteligência artificial

Comentários