Olha a água! Alunas criam filtro a partir de semente de moringa

Estudantes do SESI desenvolvem projeto para tratamento da água e ampliam acesso da população ribeirinha. Pesquisa representará o Brasil na maior feira de ciências dos EUA

A água faz parte do dia a dia, desde o banho, a alimentação e, até mesmo, ao fazer aquela faxina em casa. Porém, o acesso a água potável não é uma realidade de toda a população. Segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso à água potável.

Por isso, ao pensar tanto na saúde e qualidade de vida quanto no acesso de água tratada da população ribeirinha do Oeste da Bahia, três estudantes do Serviço Social da Indústria (SESI-BA) desenvolveram o projeto Pastilhas Filtrantes com a semente da Moringa (Moringa oleífera Lam.). 

Ana Luiza Oshiro, 17 anos, Maria Eduarda Brandão, 16 anos, e Sarah Fernandes de Oliveira, 17 anos, fizeram testes físico-químicos e microbiológicos, que comprovaram a eficácia na eliminação de coliformes totais e da bactéria E. Coli. As análises foram feitas com a água do Rio Grande, que abastece comunidades ribeirinhas na região, pela Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). As estudantes também tiveram a orientação da professora Solange Dourado da Silva e da professora coorientadora Felina Bulhões.

Ainda, Felina explica que, em testes, foi comprovado que uma pastilha de 1gm consegue filtrar até 500 ml de água, podendo ser também proporcionado a quantidade. Além disso, todo o processo de coagulação das partículas da pastilha acontece de forma muito rápida, em torno de 12 a 24 horas.


“A moringa é uma espécie muito comum aqui na região e a gente ouvia falar dos seus benefícios para a saúde e que também servia como filtro. Como aqui tem muitas comunidades ribeirinhas que não têm acesso à água potável, buscamos uma solução que fosse acessível”, explica Maria Eduarda Brandão.


No país, o Instituto Trata Brasil informa que cerca de 83% da população brasileira é atendida com abastecimento de água potável. Porém, os outros 17% representam mais de 30 milhões de pessoas, sendo 14% crianças e adolescentes. 

O poder de mudar o mundo começa com ideias inovadoras!

Com o projeto de pesquisa, as jovens conquistaram o 1º lugar na premiação da 20ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e, também, uma vaga para participar da International Science Engineering Fair – Regeneron ISEF, considerada a maior feira de ciências e engenharia do mundo, que acontece entre 7 a 13 de maio, em Atlanta (EUA). 

O projeto conquistou quatro prêmios na amostra: 1º lugar em Ciências Biológicas; Prêmio Destaque Unidades da Federação, Prêmio SBBq (Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular), além de ser o representante do Brasil na Regeneron ISEF. 

A Febrace é promovida anualmente pelo Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). “Estávamos em videochamada e assistindo a live da Febrace ao mesmo tempo. As premiações foram anunciadas aos poucos e vibramos muito. Quando saiu o anúncio da Regeneron ISEF nem acreditei. Depois a ficha caiu e saímos contando para todo mundo”, lembra Ana Luiza Oshiro.

A moringa é uma planta originária da Índia. Para purificar a água, a semente é extraída e masserada, formando um pó, aplicado no líquido. No Brasil, a planta já é usada para tirar o barro e eliminar bactérias de rios da região Nordeste.

Início de um sonho... Deu tudo certo! 

Esta não foi a primeira vez das estudantes na Febrace. O projeto Pastilha Filtrante de Moringa Oleífera também foi apresentado no evento em 2021, quando as estudantes ganharam bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de incentivo à iniciação científica júnior. E, a partir deste momento, a pesquisa ganhou força.

Antes da bolsa, a pesquisa e os testes eram feitos em casa, por conta da pandemia, então era tudo muito caseiro. Com o incentivo, além de terem maior acesso a laboratórios, os testes começaram a ter maior comprovação científica.


“O projeto ficou mais complexo. Com a bolsa e o retorno das atividades presenciais, no ano passado elas conseguiram usar os laboratórios da escola, fizeram testes físicos e de microbiologia, contaram com o apoio de um professor pesquisador de uma universidade aqui da região”, ressalta a coorientadora Felina Bulhões.


Foi nesse momento, que as estudantes começaram não apenas a utilizar os laboratórios, mas também tiveram o apoio de um professor pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Enoc Lima do Rego e, ainda, o acesso a laboratórios da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 

Agora, além de resolver questões como passaporte e visto para viajar pela primeira vez para fora do país, as três estudantes vão aprimorar o projeto e preparar o material que será apresentado em Atlanta.

“Temos vários planos. Queremos fazer pesquisa de campo, levar o nosso projeto o mais longe possível. Até o dia da viagem tem muito o que ser feito. Queremos levar um trabalho ainda melhor do que o que apresentamos na Febrace”, conta Sarah Fernandes de Oliveira.

You go Girl! (Vai garota!) 

Muito além da conquista internacional, as alunas são responsáveis por inspirar outras garotas. Por ser um projeto premiado, criado e desenvolvido por mulheres, os impactos são importantes para representatividade e equidade na área das ciências. 

De acordo com o CNPq, as mulheres constituem 43,7% dos pesquisadores científicos no Brasil. A nível mundial, esse valor desce para 30%, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, o número de mulheres em cargos de liderança científica não é tão promissor. Menos de 10% dos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) é composto por mulheres e apenas 21% dos coordenadores de projetos temáticos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pertence ao gênero feminino, segundo dados da PUC-PR

Já o relatório “A jornada do pesquisador através de lentes do gênero”, da Elsevier, de 2020, envolvendo 15 países, dentre eles o Brasil, mostra que, mesmo com o aumento de participação feminina na ciência, a desigualdade ainda permanece quando o assunto são: publicações, citações, bolsas de incentivo e colaborações.

Por isso, a vitória das estudantes é, também, um grande exemplo de representatividade para outras pesquisadoras. “Na nossa primeira participação na Febrace, éramos inexperientes tanto na pesquisa, quanto na escrita de artigos. Por isso, na segunda participação, não apenas tivemos avanços na pesquisa, mas também melhoramos nossa confiança, apresentação e, principalmente, escrita de artigos”, relata a aluna Sarah Fernandes. 

Com a pesquisa, além da vaga para participar da Regeneron ISEF, elas conquistaram o 1º Lugar em Ciências Biológicas na Febrace, o Prêmio Sociedade Brasileira Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq) e o Prêmio Destaque Unidades da Federação.

Escola SESI na Febrace

O programa de iniciação científica do SESI tem como objetivo incentivar o interesse pela pesquisa, fazendo com que os alunos aprofundem o conhecimento em suas áreas de interesse.


“A iniciação científica me deu um olhar mais crítico, um espírito de cientista, de tentar enxergar soluções para os problemas do cotidiano”, destaca a aluna Ana Luiza Oshiro.


As três estudantes reforçam que ao longo dos anos, com a pesquisa, conseguiram desenvoltura para falar em público, melhoraram a capacidade de argumentar e debater, além de melhorar habilidades como trabalho em equipe e responsabilidade.

Nesta edição, a feira da Febrace contou com 487 projetos finalistas, desenvolvidos por 1.081 estudantes do ensino fundamental, médio e técnico de 333 escolas de todo o país, sob a orientação de 626 professores. O SESI teve como finalistas cerca de 50 estudantes de diferentes estados do Brasil. 

Todo processo de avaliação mobilizou cerca de 300 mestres e doutores da USP e de universidades parceiras, num total de 6.403 avaliações.

Os autores dos melhores projetos, nas diversas categorias, receberam troféus, medalhas, bolsas de Iniciação Científica Júnior do CNPq e cursos, ao todo foram 273 prêmios e oportunidades no Brasil e no exterior.

A Febrace é a maior feira brasileira pré-universitária de ciências e engenharia em abrangência e visibilidade. Seu objetivo é estimular a cultura científica, a inovação e o empreendedorismo na educação básica e técnica, despertando novas vocações nessas áreas e induzindo práticas pedagógicas inovadoras nas escolas.

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