Estudante do SESI Alagoas é finalista do ‘Nobel da Educação’

A jovem é uma das 50 finalistas da primeira edição do Global Student Prize. O vencedor será anunciado na cerimônia de premiação que ocorrerá em Paris, na França

Ana Júlia é uma das poucas alunas do ensino médio entre os Top 50

A alagoana Ana Júlia de Carvalho, estudante da Escola Cambona do Serviço Social da Indústria (SESI), é uma das 50 finalistas concorrendo à primeira edição do Global Student Prize, o ‘Nobel da Educação’ para estudantes. A jovem foi selecionada entre mais de 3,5 mil inscrições realizadas em 94 países ao redor do mundo.

O Global Student Prize reconhece um estudante excepcional, que apresenta impacto notável no aprendizado e na vida de amigos, colegas e comunidade. Quem for escolhido recebe um prêmio de US$ 100 mil. A premiação é inspirada pelo Global Teacher Prize, que reconhece um professor excepcional e responsável por uma contribuição notável à profissão. A modalidade está na 7ª edição e oferece um prêmio de US$ 1 milhão ao professor vencedor.  

Ambas as premiações foram criadas pela Varkey Foundation, organização britânica que fomenta a qualidade da educação em âmbito internacional, tem o apoio da empresa estadunidense Chegg.

“Eu participo de uma organização internacional chamada Latin American Leadership Academy e tem um jornal que anuncia as oportunidades abertas em cada país”, explica Ana Júlia sobre como ficou sabendo da oportunidade. 

Os estudantes que se inscrevem para o Global Student Prize passam por avaliações rigorosas. Eles são julgados pelas conquistas acadêmicas, o impacto que têm nos colegas, como estão fazendo diferença na comunidade, como demonstram criatividade e inovação e como funcionam como cidadãos globais.


“No início, escrevi redações imensas e em inglês sobre vários temas. Eles queriam saber sobre a nossa vida, cada premiação que recebemos, o que a gente fez, como a gente influencia a comunidade e os nossos colegas etc. Depois disso eu tive uma entrevista com a Fundação Varkey e agora eu estou fazendo uma filmagem sobre a minha vida com o SESI”.


Além de Ana Júlia, dois brasileiros também fazem parte dos 50 finalistas do Global Student Prize: Alex Gamaliel, estudante de pedagogia de São Paulo, e Anna Aragão, diretora financeira de um projeto no Rio de Janeiro. A jovem é uma das poucas estudantes do ensino médio que conseguiram entrar para os Top 50 e credita a educação do SESI por essa façanha.

“Eu vi que esses estudantes possuem recursos que não são da escola, mas a minha escola ajudou demais. Por isso que, com 18 anos, consegui entrar e estou competindo com estudantes de medicina, que já estão praticando. No SESI, eu consegui começar muito mais cedo do que todos eles: iniciei na robótica com 12 anos”, relata.

A jovem possuiu várias conquistas acadêmicas na área de robótica e pesquisas científica

Robótica e os projetos que fazem a diferença

A estudante incluiu dois projetos iniciados SESI no currículo submetido à premiação. O Sustainable Aerator teve início em 2016 e dedica-se a aumentar a qualidade de água dos animais para ampliar a produção leiteira de caprinos e ovinos em regiões de subsistência de países em desenvolvimento. Com o SESI, o projeto foi classificado para competições internacionais na Argentina e no Chile.

O segundo projeto é o Ecosururu, telha sustentável feita com a casco do sururu, molusco encontrado em abundância na região de Alagoas. “Misturando com cimento, as telhas são 253% mais resistentes que as telhas normais”, explica. Com o Ecosururu, Ana Júlia ficou com o 1º lugar de Engenharia na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC).

No quesito de conquistas acadêmicas, mesmo tão jovem ela já exibe um currículo profissional de peso na área de robótica e em pesquisas científica. A trajetória vitoriosa começou cedo. Aos 13 anos, Ana fundou o primeiro time de robótica da FIRST LEGO League Challenge (FLL) da sua escola, a SESI RoboCamb. Ela era a responsável pelo projeto de pesquisa e o robô, incluindo a programação do android.

Em apenas dois anos, eles foram os grandes campeões do torneio regional e participaram  da competição internacional no Arkansas (EUA), onde foram reconhecidos com o 1º Lugar no Processo de Pesquisa. O sucesso do time incentivou centenas de estudantes a se matricular nas aulas de robótica.

Ana Júlia então escreveu um guia de programação para os novos estudantes interessados nas competições, explicando todas as inovações que ela criou e/ou usou. Com a SESI RoboCamb, a estudante continuou conquistando premiações nacionais e internacionais.

Entretanto, a jornada na robótica continuou nas competições FIRST Tech Challenge (FTC). Ela participou dos torneios como Líder de Conexão da equipe FTCAMB e contatou empresas como Google, Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA) e a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). Este networking permitiu que a equipe fosse reconhecida com o Prêmio Conexão no Festival SESI de Robótica e no amistoso Asian Pacific Open Champions 2021.

Nordestina arretada

Com apenas 18 anos, a estudante já representou o Nordeste em diversas competições

Caso seja selecionada como a estudante excepcional, Ana Júlia já possui planos para os US$ 100 mil (aproximadamente R$ 545 mil) do prêmio: investir em desenvolvimentos e testes do Sustainable Aerator, além de criar um aplicativo para conectar líderes jovens e investir em seus estudos nos Estados Unidos, onde terá mais oportunidade para se envolver no mundo do empreendedorismo.

A estudante tem orgulho de ser nordestina. Ela conta que a educação no exterior faz parte dos projetos de absorver o máximo de conhecimentos que deseja trazer para o Brasil e, principalmente, o Nordeste.


“Ser nordestina é uma coisa muito importante para mim e me marcou demais. Eu não percebia isso até participado da primeira competição nacional com a robótica, onde muitos nordestinos não conseguiam ter uma classificação. E quando alguém conseguia, eu comemorava como uma vitória, porque as pessoas veem a gente de uma forma negativa, mas a gente também está produzindo ciência aqui no Nordeste, sabe? E isso foi um dos pontos principais nas nossas apresentações”, afirma.


Como mulher, a jovem conta que nunca havia percebido a diferença entre a quantidade de homens e mulheres na área da robótica, engenharia e iniciação científica. Ela afirma que, desde o início, havia apenas outra menina na equipe de robótica além dela.

Ana Júlia conta que a sua percepção mudou bastante em visitas que realizava a um laboratório com uma equipe. “Os profissionais que trabalhavam lá nunca falavam com a gente, nem olhavam para a nossa cara. E a gente pensava que era por causa que nós éramos estudantes e muito novos. Acabamos nos tornando mais quietas nessas visitas e não éramos conhecidas por isso”, conta.

Após uma nova visita ao laboratório, desta vez com um novo menino na equipe “com pouquíssima experiência na área”, o profissional os acompanhava a equipe apenas cumprimentou o orientador dos jovens e o membro recém-chegado.

“Acredito que não foi proposital, mas é um comportamento que está integrado na área. Mas naquele momento eu dei um basta, levantei a minha mão para cumprimentar o profissional e fiquei assim até que ele visse. Aí, ele apertou a minha mão e a da menina ao meu lado, mas depois disso, escrevi um contrato para mim mesma não permitindo esse tipo de coisa. Mesmo que a gente não tenha esse respeito só por sermos mulher, precisamos conquistá-lo. Caso contrário, nada mudará”, afirma.

Global Student Prize

A Global Student Prize é destinada a estudantes a partir dos 16 anos, matriculados em instituições de ensino ou programas de ensino técnico. Alunos matriculados em cursos de Ensino a Distância também podem participar.

O próximo passo da premiação será selecionar os Top 10 finalistas, serão anunciados em outubro e o vencedor será selecionado desta lista. O estudante excepcional será anunciado na cerimônia de premiação que ocorrerá em novembro na França.

Ana Júlia afirma que está animada com o processo de avaliação por conta dos juízes que avaliarão os finalistas. “Os juízes são de alto nível. Por exemplo, a Diretora de Operações do TikTok é uma das juízas, de uma empresa muito famosa, que vai estar nos julgando. Então, esse é um dos benefícios do vencedor: ter essa plataforma para se comunicar com os profissionais e ter um networking que vem junto", destaca. 

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