Alunas do SESI-SP criam aplicativo de tradução de libras em tempo real

Desenvolvido por meio de redes neurais artificiais, o aplicativo é diferente dos tradutores convencionais e estabelece a comunicação efetiva entre ouvintes e não ouvintes

Desenvolvido por meio de linguagens de programação e de inteligências artificiais, o Bilinguismo tem funções de tradução em tempo real da Língua Brasileira de Sinais (Libras)

O Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo que 2,7 milhões não escutam absolutamente nada, segundo o IBGE. A interação desse grupo com o mundo ouvinte é povoada de barreiras. Daí dá pra estimar o quanto a invenção de três ex-alunas do Serviço Social da Indústria (SESI) de Campinas Amoreiras (SP) pode mudar o jogo nessa comunicação. 

O app Biliguinsmo, ideia das ex-alunas Lívia Yasmim, Larissa Matuo e Vanessa Mendes, de 18 anos, traduz em tempo real a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Pra fazer isso, o aplicativo conta com reconhecimento facial e corporal, transcreve áudio para texto, traduz por imagem e conta, ainda, com um minidicionário.

Apesar de estar em fase de desenvolvimento, o aplicativo já garantiu uma série de premiações (leia mais abaixo).

Desenvolvido por meio de linguagens de programação e de inteligências artificiais, o Bilinguismo tem funções de tradução em tempo real da Língua Brasileira de Sinais (Libras)

Como funciona o aplicativo? 

A base do aplicativo são as redes neurais artificiais, que funcionam do mesmo modo que o cérebro humano. Assim, por se tratar de uma língua espaço-visual, as estudantes estão no processo de mapear as expressões faciais e corporais das pessoas, como o reconhecimento do esqueleto da mão, os sinais e suas variações gramaticais e regionais. 


“A expressão facial altera o significado de um mesmo sinal e é justamente esse o nosso diferencia:, nós não tentamos traduzir o movimento do gesto; buscamos compreender todos os parâmetros que a língua exige para estabelecer uma comunicação efetiva”, esclarece Lívia. 


As redes neurais artificiais, usadas para o desenvolvimento do aplicativo, são tecnologias muito novas e que integram a indústria 4.0. Esse é um dos desafios apontados pelas jovens para concluir o app.

Falha na comunicação 

É comum os termos “surdo” e “deficiente auditivo” serem usados como sinônimos, quando, na verdade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a surdez como a ausência ou perda total da capacidade de ouvir em um ou ambos os ouvidos e a deficiência auditiva como a redução da capacidade de ouvir sons.  

Apesar de libras ser a segunda língua oficial do país, apenas uma minoria de ouvintes sabe se comunicar por meio dela. Vanessa explica que o projeto tenta resolver essa falha de comunicação que existe na sociedade. 


“Os não ouvintes ficam limitados na hora de se comunicar e de nos compreender. Existe uma exclusão porque muitas vezes só eles mesmos, dentro da própria cultura surda, se comunicam”, destaca. 


Por isso o nome Bilinguismo. Para que haja, de fato, a coexistência de duas línguas: libras e o português. “O que nós temos de tradutores, atualmente, limita e exclui sempre um lado da conversa. Não existe uma troca. Dentre as alternativas pra estabelecer o bilinguismo, o aplicativo é o mais prático”, ressalta Larissa. 

As estudantes estão no processo de mapear as expressões faciais e corporais das pessoas, como o reconhecimento do esqueleto da mão, os sinais e suas variações gramaticais e regionais

A versão do computador realiza a tradução em tempo real e por imagem, já a do celular disponibiliza apenas a transcrição por áudio e o minidicionário. O próximo passo é levar as funções do computador para o celular, testar com o público-alvo e disponibilizar nas lojas de aplicativos.  

Confira no infográfico abaixo alguns dados que refletem a situação das pessoas com deficiência auditiva.

Infográfico sobre pessoas com deficiência auditiva

Experiência no curso técnico e no mundo da robótica 

Ainda na 1ª série do ensino médio, quando as jovens começaram a planejar o projeto, elas não sabiam nada de programação, mas buscaram cursos para estudar e conseguir desenvolver o projeto. Além disso, ingressaram, ou melhor dizendo, criaram o Team Nióbio, equipe de robótica de São Paulo. 

Com o tempo, a tecnologia virou a paixão do grupo e o curso de Análise e desenvolvimento de sistemas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) foi o pontapé inicial. As meninas contam que conciliaram o projeto ao curso e lá usavam o Bilinguismo como objeto de estudo, que se transformou no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) delas. 

“Vimos ali uma oportunidade de ter o nosso tempo para desenvolver o Bilinguismo e para estudar algo que gostamos, que queríamos aprender a fazer”, ressalta Vanessa. 

Passado e futuro na indústria 

Inspiradas em familiares que passaram pelo SESI, SENAI e são trabalhadores da indústria, as três ingressaram no ensino superior na área de informática. Lívia cursa análise e desenvolvimento de sistemas, assim como Larissa, que faz essa graduação em conjunto com ciência da computação. Já Vanessa estuda sistemas de informação.  

Atualmente, as jovens trabalham na empresa Robert Bosch, uma multinacional de engenharia e eletrônica, e destacam que o projeto Bilinguismo foi fundamental para suas contratações, já que a tecnologia estudada por elas é usada na empresa. 


“A Bosch e o SENAI têm uma parceria de aprendizes, mas quando chegamos aqui nos tornamos as instrutoras da escola técnica em que seríamos as alunas e auxiliamos no curso de desenvolvimento de sistemas”, declara Vanessa. 


O Bilinguismo direcionou os estudos e a carreira profissional das alunas e pode ser mais uma ferramenta de acessibilidade para ajudar a vida de milhões de brasileiros. 

Aplicativo já ganhou vários prêmios

A ideia conquistou vários prêmios e destaques em feiiras de ciência. Senta aí, porque a lista é grande!

Em 2018, as meninas levaram o 3º lugar na Mostra de Trabalhos de Curso Técnicos do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o 3º lugar na Mostra de Ciências e Tecnologia do Instituto 3M.  

Em 2021, conquistaram o 2º lugar na Feira Nacional de Ciência e Tecnologia do Colégio Dante Alighieri (FeNaDante), o prêmio por votação popular e o credenciamento para a Feira Brasileira de Iniciação Científica (FEBIC) de 2022. 

Acha que acabou? Na Feira Brasileira de Colégios de Aplicação e Escolas Técnicas (Febrat) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a equipe garantiu o 1º lugar, o prêmio de melhor vídeo e o credenciamento para a London International Youth Science Forum (LIYSF) de 2022. O Bilinguismo também foi finalista e o projeto destaque da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) desse ano. 

Quer saber mais sobre o app? Confira a página do Bilinguismo no instagram. 

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