Arte inclusiva: alunas produzem obras em alto-relevo para pessoas com deficiência visual

Criado por três estudantes do SESI-SP, o D’Arte permite que pessoas com deficiência visual sintam, por meio do tato, cada traço da obra de arte, além de ouvirem a audiodescrição

Com o objetivo de aumentar a acessibilidade de pessoas com deficiência visual ao mundo da arte, alunas do SESI-SP criaram o D'Arte

Já imaginou como seria poder sentir com as mãos o céu da Noite Estrelada, de Van Gogh, ou passear pelo vilarejo de O Pescador, de Tarsila do Amaral? Ou, ainda, como seria poder tocar o rosto da famosa Mona Lisa, de Leonardo da Vinci? 

Com o objetivo de aumentar a acessibilidade de pessoas com deficiência visual ao mundo da arte, as alunas Beatriz Franco, Lisa Blattner e Maria Eduarda Moura, da escola do Serviço Social da Indústria (SESI) de Campinas Amoreiras (SP), criaram o projeto D’Arte - Democratização da Arte em Espaços Socioculturais.

Ao se questionarem sobre a falta de acessibilidade dos espaços culturais para pessoas com deficiência visual, as alunas perceberam que a experiência com audiodescrição poderia ir além. Para elas, o contato com a arte tinha tudo para ser ainda mais próximo e palpável.

Foi aí que surgiu a ideia de fazer releituras de obras de arte em alto-relevo. Dessa forma, as pessoas com deficiência visual poderiam sentir com as mãos cada traço feito pelos artistas e usar outros sentidos, além da audição, para se conectar com a pintura. 

Mona Lisa para todos  

O projeto D’Arte surgiu na disciplina Eixo Integrador Interáreas, ministrada pela professora de matemática Ana Paula Carazzatto. Ela explica que o projeto é interdisciplinar, como o próprio nome já diz, e propõe que os estudantes encontrem na sua comunidade algum problema social para ser solucionado.

Apaixonadas pela arte, as estudantes contam que o teatro do SESI sempre recebe exposições de artistas, que poderiam ser mais inclusivas.


“Nós temos um colega que a mãe dele tem deficiência visual e pensamos ‘e se a exposição for aberta aos pais, como ela vai se sentir integrada nesse ambiente?”, explica a estudante Maria Eduarda Moura.


A ideia inicial era apenas um sensor de movimento que acionava audiodescrição, mas as jovens viram que poderiam oferecer mais. Com o auxílio de uma impressora 3D e de um microcontrolador, chamado arduíno, as meninas criaram a primeira obra do projeto D’Arte, a releitura em alto-relevo da Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, que você pode conferir, de pertinho, a seguir.


“O primeiro projeto a gente fez da Mona Lisa, porque é uma pintura que todo mundo conhece, é uma das mais famosas no Louvre”, ressalta Maria Eduarda. 


Após 14 horas de impressão do protótipo, as estudantes iniciaram o processo de customização do totem em MDF e criaram um caixa de “miniexposição” com a tela da Mona Lisa. 

Na produção da audiodescrição, elas estudaram todos os detalhes da obra e utilizaram a voz do Google, por não exigir direitos autorais. 

As estudantes criaram a primeira obra do projeto D’Arte, a releitura em alto-relevo da Mona Lisa

Para o projeto em escala real, as estudantes pretendem fazer a releitura de uma obra brasileira, em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. A impressão do quadro varia de acordo com a obra original; e, além disso, a audiodescrição vai ter uma voz diferente da utilizada no protótipo, para ficar menos mecânica. 

Arte é qualidade de vida 

Andreia Wolff foi uma das grandes motivações para que o projeto D’Arte fosse criado. Mãe de Nathã Wolff, aluno egresso do SESI Campinas Amoreiras, ela destaca a importância da arte na vida das pessoas e pontua que nem sempre ela é acessível a todos.


“Não tem como um deficiente visual ir ao teatro, é difícil, porque nem todo o momento da peça as pessoas falam. É a mesma coisa no museu, porque são peças e nem todas você pode tocá-las.” 


Andreia perdeu a visão há 13 anos, com o agravamento da retinose pigmentar, após período gestacional de um dos filhos. A doença atinge a retina e provoca o comprometimento das células receptoras de luz, chamados de fotorreceptores. 

“Ela nos fez acreditar, que por mais que fosse difícil o nosso processo, esse era realmente o caminho. E fazemos assim, tudo que vemos como dificuldade, pensamos nela, porque ela nos fez entender o quanto é necessário”, explica a estudante Beatriz Franco. 

É uma vitória não apenas para Andreia, mas para todos que antes não conseguiam apreciar uma obra de arte.


“Quando nós colocamos a mão em um determinado objeto em braile, pra sentir mesmo a obra, o cérebro coloca imagens na nossa cabeça. Então, por meio do tato, nós criamos imagens e assimilamos os objetos, é uma sensação muito boa, eu gostei muito do projeto, porque poucos colocam nós, com algum tipo de deficiência, inclusos na sociedade”, declara Andreia.


Futuro do D’Arte 

Como as idealizadoras do D’Arte já estavam concluindo o ensino médio quando criaram o projeto, agora ele está sendo conduzido por mais estudantes da mesma unidade, porém com o auxílio das inventoras.  

Para Maria Eduarda, o D’Arte é inclusivo não apenas para pessoas com deficiência visual, mas também para crianças, idosos, entre outros apreciadores da arte. 

“Eu espero que seja um projeto que daqui a alguns anos nós iremos ao museu e ele esteja em todos os lugares, porque a arte é necessária pra nossa vida. Imagina uma pessoa que cresceu e aprendeu que ela não poderia ter alcance daquilo?”, pontua a jovem. 

Relacionadas

Leia mais

Aluno do SENAI cria luva para ajudar deficientes visuais
Fiems e Fecomércio vão lançar programa de inclusão de deficientes no mercado de trabalho
Curso de informática é o mais procurado por deficientes visuais

Comentários