Investimento da indústria no exterior fortalece a economia brasileira

O segundo capítulo da série especial Brasil Internacional mostra a importância da internacionalização das empresas para o aumento da produção, do emprego e da renda no país

Os investimentos das empresas brasileiras no exterior dobraram entre 2000 e 2015. O estoque passou de US$ 140 bilhões para US$ 283 bilhões. Mas esta evolução esconde as oscilações dos investimentos no período. Enquanto as principais economias emergentes apresentaram crescimento regular entre 10% e 15%, os estoques brasileiros no exterior chegam a apresentar crescimento de 31% num ano e queda de 4% em outro. A volatilidade ocorre porque algumas políticas no Brasil desestimulam a internacionalização. A análise faz parte a Agenda Internacional da Indústria 2017, documento elaborado pela CNI e lançado no fim de abril.

"O Brasil precisa de uma política mais consistente que envolva os diversos órgãos do governo e a iniciativa privada. É necessário coordenar de forma mais produtiva as iniciativas e as ações públicas que existem hoje. Ainda falta entender com clareza que investir no exterior faz bem para a economia brasileira: a indústria consegue ganhar novos mercados para suas exportações, acessar tecnologias novas, aumentar sua produtividade e gerar mais emprego e renda”, diz o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

A professora e pesquisadora do Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais da Fundação Dom Cabral Lívia Barakat verificou um aumento na internacionalização das empresas brasileiras nos últimos dez anos. Segundo a pesquisadora, a instabilidade recente da economia brasileira e a crise política contribuíram para que as empresas buscassem outros mercados. 

Em 2006, o índice médio de internacionalização das multinacionais brasileiras era de 16%. Este percentual subiu de forma contínua e alcançou 26% no ano passado. Em seu levantamento, a Fundação Dom Cabral entrevistou 50 multinacionais e 14 companhias que atuam no exterior por meio de franquias em 2016. 

Barakat explica que a empresa não faz uma escolha entre investir no Brasil e investir no exterior. “A empresa investe lá fora para se fortalecer. Em muitos casos, quando ela se concentra só no mercado interno, acaba perdendo força e mercado para uma estrangeira. Vimos empresas que foram perdendo market share até fecharem as portas”, diz a pesquisadora. 

Em 2016, a Fundação Dom Cabral observou outro fenômeno. Foi a primeira vez que as empresas se mostraram mais satisfeitas com o desempenho no exterior do que no Brasil nos itens vendas, crescimento de vendas, market share e lucratividade. No índice que varia de 0 a 5, a lucratividade no exterior recebeu nota 4,2, enquanto no Brasil ficou em 2,9.

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL – A Iochpe Maxion, fabricante de autopeças e equipamentos ferroviários, é considerada uma das empresas mais internacionalizadas do Brasil. Fundada em 1918, começou o processo de implementação das unidades produtivas no exterior em 2002 como parte estratégica de crescimento da empresa. Naquele momento, o mercado doméstico já se mostrava limitado e as exportações haviam alcançado seu patamar máximo. Mas outro fator acabou pressionando a empresa.

As montadoras buscam adensar as cadeias produtivas nos países em que produzem para se aproximar de fornecedores e se adequar às exigências dos governos locais. Neste cenário, a Iochpe viu a abertura de novas unidades no exterior como uma forma de preservar seus mercados, além de poder acessar novos consumidores. Atualmente, a empresa tem unidades na África do Sul, Alemanha, Argentina, China, Espanha, Estados Unidos, Índia, Itália, México, República Checa, Tailândia, Turquia e Uruguai, que respondem por cerca de 60% das vendas da empresa.

Segundo o presidente do Conselho de Administração da Iochpe Maxion, Dan Iochpe, há duas questões essenciais para a internacionalização das empresas brasileiras. “Primeiro, ter acesso a novos mercados. O Brasil é um país relevante, mas as exportações têm limites, por isso o estabelecimento no exterior é muito importante. O segundo é aumentar a competitividade. Quando se expõe ao mercado externo, as empresas passam a compreender os requerimentos e a dinâmica competitiva para sobreviver”, disse Dan Iochpe em entrevista à Agência CNI de Notícias.

PRIORIDADES PARA 2017 – Dentro das políticas públicas necessárias para reduzir os obstáculos que as empresas enfrentam para se tornar e se manter multinacionais brasileiras, a CNI avalia que é importante alterar alguns aspectos da tributação dos lucros no exterior. Na Agenda Internacional da Indústria 2017, a entidade propõe regulamentar a Lei 12.973/2014, para incluir empresas controladas do setor de serviços no critério de crédito presumido e dar mais clareza sobre as regras de consolidação de resultados no exterior e compensação de prejuízos.

A CNI defende ainda uma melhoria no modelo brasileiro de Acordos para Evitar Dupla Tributação (ADTs), em temas como tratramento de serviços e royalties, e a ampliação da rede brasileira de ADTs e assinatura destes acordos prioritariamente com Estados Unidos, Colômbia, Reino Unido, Alemanha, Austrália, Uruguai, Paraguai e Suíça. No momento, a indústria aguarda a aprovação no Congresso Nacional do acordo com a Rússia, assinado em 2007.

Além disso, há propostas para reformular a legislação que trata dos expatriados; alterar a legislação de preços de transferência; eliminar o IOF na operação de aquisição e empréstimo intercompany; celebrar acordos de investimento entre os membros do Mercosul e com países da África, América Latina, Japão, além dos outros BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul); e firmar acordos previdenciários com África do Sul, Angola, Áustria, China, Colômbia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Índia, México, Holanda, Panamá, República Dominicana e Venezuela.

BRASIL INTERNACIONAL - Na próxima terça-feira (9), confira no terceiro capítulo da série Brasil Internacional uma reportagem sobre as dificuldades logísticas enfrentadas pelas empresas brasileiras no comércio exterior.

A SÉRIE - Acompanhe abaixo cada capítulo do especial da Agência CNI de Notícias:

1ª - Série especial mostra como o Brasil pode avançar no comércio exterior
2ª - 8 acordos comerciais que precisam avançar até o fim do ano
3ª - Investimento da indústria no exterior fortalece a economia brasileira
4ª - VÍDEO: Logística ineficiente dificulta competitividade do comércio exterior brasileiro
5ª - Aumento de barreiras não-tarifárias afeta indústrias brasileiras
6ª - Burocracia no sistema de financiamento e garantias às exportações é entrave ao comércio
7ª - Facilitação do comércio exterior ainda é desafio à competitividade das exportações
8ª - 6 formas de simplificar a tributação no comércio exterior
9ª - ENTREVISTA: Antidumping não foi criado para proteger ineficiência nem improdutividade, diz Ana Caetano
10ª - 7 serviços para ajudar sua empresa a exportar

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